BlogTemas de Capa

Canadá prepara-se para acolher centenas de milhares de refugiados

milenio stadium - refugiados

 

As Nações Unidas dizem que o conflito na Ucrânia desencadeou a maior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Em poucos dias de conflito cerca de 2 milhões de pessoas terão atravessado para os países vizinhos, mas os números não devem ficar por aqui porque a Ucrânia tem no total mais de 44 milhões de habitantes.

Dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (UNHCR) revelam que de entre os países vizinhos, a Polónia é a que recebe mais refugiados ucranianos (1,204,403). Em segundo lugar está a Hungria, com 191,348 e em terceiro lugar a Eslováquia com 140,745. Mais de 260,000 optaram por ir até à Rússia (99,300), Moldávia (82,762), Roménia (82,062) e Bielorrússia (453). Mais de 210,000 ucranianos fugiram para outros países da Europa que não fazem fronteira com a Ucrânia.

O Ministério da Imigração do Canadá confirmou que mais de 6,000 ucranianos já tiveram a sua candidatura aprovada desde janeiro deste ano para entrar no Canadá e com a recente ordem de que não existem limites nas candidaturas é esperado que os números continuem a aumentar. Os vistos vão ser disponibilizados em semanas, em vez de o tradicional ano, e as pessoas podem cá ficar no máximo dois anos.

Nos EUA o governo também demonstrou abertura para acolher ucranianos. Aqueles que chegaram aos EUA antes de 1 de março e que estão sem estatuto também vão beneficiar de proteção temporária. Segundo a administração de Biden os ucranianos podem ficar até 18 meses no país e o visto pode ser estendido ao fim desse prazo. Estima-se que existam 34.000 ucranianos sem estatuto nos EUA que vivem sobretudo em quatro estados: Illinois, Michigan, Califórnia e Nova Iorque. Destes 34.000, cerca de 4.000 enfrentavam risco de deportação antes da Rússia invadir a Ucrânia.

Na terça-feira (8) Portugal tinha concedido 3.179 pedidos de proteção temporária a cidadãos ucranianos. Estas pessoas têm autorização para ficar em Portugal um ano e depois podem estender a sua estadia mais um ano.
Mas enquanto a União Europeia, de forma unânime, abre as portas ao acolhimento de cidadãos ucranianos em fuga à guerra, milhares de migrantes e refugiados de outras origens, já em território comunitário, continuam a viver em péssimas condições.

Philippe Le Billon, professor do Departamento de Geografia e da Escola de Políticas Públicas e Assuntos Globais na Universidade da Colúmbia Britânica, disse ao Milénio Stadium que esta crise de refugiados ucranianos é semelhante à da Síria e acredita que o Canadá pode receber centenas deles desde que “exista um processo de integração adequado”.

Para Le Billon, que estuda geografia política e guerra, os planos da Rússia passam por invadir para além da Ucrânia “a Moldávia e possivelmente, mas muito menos provavelmente, os Estados Bálticos e a Finlândia, se a NATO não reagir”.

Na altura em que a entrevista foi conduzida os EUA ainda não tinham anunciado a proibição de todas as importações de gás e energia da Rússia e ainda não era conhecida a posição do Presidente da Ucrânia que disse na terça-feira (8) que estava disposto a deixar cair a adesão à NATO, a discutir a alteração do estatuto da Crimeia e das autoproclamadas “repúblicas populares” de Donetsk e Luhansk.

milenio stadium - Philippe Le Billon DRMilénio Stadium: Porque é que a Rússia está a mover-se tão agressivamente contra a Ucrânia?
Philippe Le Billon: Este movimento foi antecipado há muito pelo regime russo como parte de uma estratégia militar e política que procura ter regimes autoritários amigáveis no seu flanco ocidental. O timing corresponde à acumulação militar necessária, temperaturas mais baixas para ajudar os tanques a moverem-se através de terrenos de outro modo enlameados e o fim dos principais Jogos Olímpicos, durante os quais a China e a Rússia emitiram uma declaração comum, de facto vetando a ação da Rússia.

MS: Como é que seria uma vitória russa sobre a Ucrânia?
PB: Um governo pró-Kremlin sem oposição democrática, acesso aos recursos ucranianos e uma parceria mais estreita com a China que conduza a uma nova ordem mundial.

MS: Depois da Ucrânia a Rússia pode invadir outros países europeus?
PB: Sim, a Moldávia e possivelmente, mas muito menos provavelmente, os Estados Bálticos e a Finlândia, se a NATO não reagir.

MS: Porque é que as sanções anteriores dos países da NATO contra a Rússia não dissuadiram Putin?
PB: As sanções foram limitadas, Putin beneficia das receitas petrolíferas e a China oferece uma alternativa em termos de mercados de exportação e parceria económica avançada.

MS: De acordo com as Nações Unidas, esta é a crise de refugiados que mais rapidamente cresceu desde a II Guerra Mundial. Que papel é que o Canadá deve desempenhar nesta crise?
PB: Pode acolher dezenas se não centenas de milhares de refugiados, desde que exista um processo de integração adequado e uma economia forte.

MS: Apesar de a União Europeia abrir unanimemente as suas portas para receber cidadãos ucranianos em fuga da guerra, milhares de migrantes e refugiados de outras origens, já em território da UE, continuam a viver em condições terríveis. Por que razão é diferente com os refugiados ucranianos?
PB: A situação é semelhante à da Síria e resulta das mesmas causas, alianças de autocratas que resistem à democratização e utilizam meios militares para criar fluxos de refugiados que podem depois enfraquecer e polarizar politicamente as democracias ocidentais. A crise síria contribuiu para o Brexit [saída do Reino Unido da União Europeia] e para o crescimento dos partidos de direita anti-imigração na UE. As consequências políticas da crise da Ucrânia serão em parte diferentes devido à origem europeia do povo ucraniano e podem resultar em mais antagonismo em relação à Rússia e à China do que em relação aos refugiados ucranianos.
A principal mensagem aqui é que existiram alinhamentos e passos muito preocupantes no sentido de uma III Guerra Mundial no mês passado. O fim do escalonamento é necessário para evitar uma grande crise humanitária, geopolítica e económica.

Joana Leal/MS

Redes Sociais - Comentários

Artigos relacionados

Back to top button

 

O Facebook/Instagram bloqueou os orgão de comunicação social no Canadá.

Quer receber a edição semanal e as newsletters editoriais no seu e-mail?

 

Mais próximo. Mais dinâmico. Mais atual.
www.mileniostadium.com
O mesmo de sempre, mas melhor!

 

SUBSCREVER