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Rússia faz soar os tambores da guerra na Ucrânia

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O dia começou com promessas de paz e acabou com o som dos tambores de guerra. Emmanuel Macron esteve quase a conseguir uma cimeira entre Putin e Biden, mas o presidente russo impôs um guião bastante diferente. Poucas horas depois do estertor da diplomacia, reconheceu a independência das duas regiões separatistas do ​​​​​​​Leste da Ucrânia e ordenou o envio de tropas para as regiões Donetsk e Lugansk.

O envio do exército russo para a Ucrânia é, nas palavras de Vladimir Putin, uma “operação de manutenção de paz”. Não se sabe quantos dos cerca de 200 mil militares estacionados junto à fronteira da Ucrânia (na Rússia e na Bielorrússia) receberam ordem de marcha. E também não se sabe com que objetivo final: se vão apenas assegurar a “paz” na parte do Donbass ucraniano já controlado pelos separatistas, se avançam para a conquista do território das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk ainda em poder do exército ucraniano. Pode ser a diferença entre começar ou não de imediato a contagem de mortes.

Alerte-se para a o curto tempo de vida de qualquer notícia ou análise, no que diz respeito ao conflito da Ucrânia. Bastarão os primeiros tiros para que tudo volte a mudar. Como o demonstram as últimas 24 horas. Que até começaram com uma renovada promessa de paz, ou pelo menos de negociação, no seguimento dos esforços do presidente francês. Macron ocupou a noite de domingo e a madrugada de segunda-feira em sucessivos telefonemas para Vladimir Putin, depois para Joe Biden, e de novo para o autocrata russo.

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No final, e ainda na madrugada de segunda-feira, Paris anunciou que estava em marcha uma cimeira sobre a segurança europeia, tendo como protagonistas principais os líderes das duas superpotências militares (e apenas isso, uma vez que, em termos económicos, a Rússia vale bastante menos do que uma meia dúzia de países e incomparavelmente menos do que os EUA). As trompetas da paz soaram por pouco tempo. À desconfiança americana, sucedeu o alerta russo: é prematuro falar numa cimeira. Percebeu-se umas horas depois que o guião já estava escrito. E que Putin não pretendia desviar-se nem um milímetro dos seus jogos de guerra.

O momento mais significativo do dia acabaria por ser a reunião do Conselho Nacional de Segurança da Rússia. Uma evidente encenação, alegadamente em direto para a televisão (jornalistas que assistiram em direto admitem como bastante provável a hipótese de ter sido um momento previamente gravado), que serviu sobretudo para o autocrata russo comprometer os membros mais importantes do seu Governo com o que se iria seguir.

Com maior ou menor entusiasmo, figuras como Dimitri Medvedev (que alternou, às ordens de Putin, nos lugares de primeiro-ministro e presidente, até este ter conseguido as alterações constitucionais que o eternizam no poder), a presidente da Duma (o Parlamento russo), ou o atual primeiro-ministro, secundaram o líder: era preciso reconhecer a independência das “repúblicas” russófonas de Donetsk e Lugansk.

Com destaque para o momento em que o chefe dos serviços de espionagem, Sergei Naryshkin, pareceu fugir ao guião pré-estabelecido, dando um passo adicional, para defender a integração, pura e simples, das duas regiões na Rússia (a exemplo do que aconteceu, em 2014, com a península da Crimeia e com a cidade autónoma de Sebastopol, sede da frota russa do Mar Negro). Putin corrigiu o espião e lembrou-lhe que o que estava em discussão era a independência, não a anexação. É difícil de acreditar que tenha sido apenas um passo em falso.

Ainda a União Europeia e os EUA anunciavam a convocação apressada dos seus próprios conselhos e já Putin preparava o próximo passo, numa sucessão de acontecimentos a ritmo invulgar. O espanhol Josep Borrell anunciava, no final de um Conselho Europeu de ministros dos Negócios Estrangeiros, que levaria para cima da mesa, nos próximos dias, um conjunto de propostas de sanções. Os norte-americanos, mais expeditos (e beneficiando da diferença horária) já anunciavam um pacote de punições, ainda que exclusivamente dirigidas aos dois territórios e a quem porventura por ali pretenda investir nos próximos tempos. Mas quem no seu juízo o faria?

O presidente russo, sempre um passo à frente da concorrência (é, normalmente, uma espécie de prerrogativa do agressor), já discursava na televisão, anunciado ao povo que a história está do lado dos russos (não sem antes avisar das suas intenções, por telefone, o presidente Macron e o chanceler Scholtz, tentando dessa forma transformá-los numa espécie de idiotas úteis). Porque a Ucrânia, segundo Putin, é uma invenção dos bolcheviques russos, em particular de Lenine. E transformou-se, nos últimos anos, numa “colónia” do Ocidente dirigida por um “Governo fantoche”. Resumindo, um Estado sem direito histórico à existência.

E não tardou que surgissem as notícias sobre o passo seguinte – enviar os militares russos para as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, em “missão de paz”. Com um alerta em tons sinistros: se Kiev não puser um fim à violência no Leste da Ucrânia, será então responsável pelo “banho de sangue” subsequente. Americanos e europeus vão ser obrigados a atualizar, ainda hoje, um pacote de sanções que deixaram de fazer sentido ainda antes de serem aplicadas. Porque, como dizia Pimenta Machado, o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira. No futebol como na política internacional.

JN/MS

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