Um grupo de 38 portugueses, luso-ucranianos e respetivas famílias, entre os quais o treinador de futebol Paulo Fonseca, chegaram esta segunda-feira à noite a Lisboa vindos da Ucrânia. Mais 40 aguardam pela oportunidade de sair e regressar a Portugal.
João Moreira, 26 anos, economista, estava em Kiev há três semanas a trabalhar. “Uma experiência internacional para lhe dar projeção internacional. Nunca esperei que acabasse assim”, conta ao JN. Deixou colegas e amigos, alguns, descreve, “andam agora nas ruas de Kiev, armados, outros fugiram para cidades mais pequenas”.
Na quinta-feira, quando a invasão começou estava num abrigo de um prédio de um amigo quando lhe ligaram da embaixada portuguesa, pegou na mochila com o computador, deixou tudo o resto para trás, e correu horas até ao outro ponto da cidade. A viagem de autocarro até à Moldávia, diz, “foi uma tortura”. Mais de 27 horas. Não voltará a esquecer, garante, o som da sirenes ou dos caças a passar. Deixou parte de si em Kiev. Mas agora, “perdeu o medo e está pronto para qualquer país”. “A coragem dos civis é tanta que envergonha, as crianças quase não pestanejam ao ver armas”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva foi ao aeroporto receber os 38 portugueses, luso-portugueses e alguns familiares ucranianos. De cerca 240 pessoas, cerca de 75 já se encontram em Portugal. O embaixador de Portugal em Kiev ficou na Roménia. Falta tirar um grupo de 40 pessoas que quer sair da Ucrânia.
Entre o grupo que chegou a Lisboa esta noite, estava o treinador de futebol português Paulo Fonseca, que regressou a Portugal com o filho e a mulher, ucraniana, visivelmente consternado com a situação vivida na Ucrânia, e que falou aos jornalistas sobre os últimos dias. O antigo treinador da Roma, do Shakhtar Donetsk, S. C. Braga e F. C. Porto deixou a capital da Ucrânia na quinta-feira, através da missão de repatriamento da embaixada de Portugal em Kiev.
Edgar Cardoso, jogador do Shaktar Donets, também chegou esta noite a Lisboa. A mulher e o filho saíram da Ucrânia há cerca de um mês. Ficou para não quebrar o seu contrato mas agora não se imagina regressar. Primeiro fugiu para um hotel que tinha um abrigo, depois para uma zona rural totalmente desprotegida. Antes da invasão, a embaixada, conta, enviou diversos mails para sinalizar a nossa localização. Pediram-nos para termos uma mala feita e gasolina no carro. Saíram da Ucrânia pela fronteira com a Moldavia e no autocarro em que seguia com cerca de 20 pessoas, seis homens, entre os 18 e 60 anos, ucranianos, familiares de funcionários da embaixada ficaram retidos na fronteira. Não puderam seguir viagem para a Roménia e vir para Portugal.
Alexandra Papchenko vive em Lisboa há 20 anos. Esta noite aguardava a chegada da filha Daria, de 23 anos, que estuda na universidade de Kiev. Nunca pensou, garante, que a guerra efetivamente chegasse e teme uma “guerra mundial”. À Ucrânia, assegura, estão a chegar mercenarios de vários países. Supermercados e casa começam a ser saqueados. “Está um caos”, diz.
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