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Para onde vais TTC?

 

Os caminhos percorridos pela agência de trânsito da cidade de Toronto – TTC – têm obstáculos difíceis de superar. Aqui deixamos alguns dos que mais marcam a viagem deste serviço essencial da cidade. Há, naturalmente muitos mais, mas estes só por si já são suficientes para se entender como cada um deles representa a necessidade de mais investimento, aumentando os orçamentos ano a ano. 

E quem paga? Para além dos que não pagam porque lhes apetece e ninguém corre atrás deles, a resposta a esta pergunta é simples: os utilizadores, a cidade de Toronto, o governo provincial e o governo federal. Portanto, seja através de que forma for, quem paga é sempre o povo.

Para onde vai o TTC, não sabemos, mas temos uma ideia de algumas das paragens que podem estar a travar o desenvolvimento de um sistema de transporte público moderno, rápido, seguro e capaz de servir um número cada vez maior de utilizadores.

Madalena Balça/MS

Viagens à borla

São cada vez mais os que andam à borla nos veículos do TTC. Esta prática ilegal, mas cada vez mais vulgar e, pelos vistos, difícil de controlar, custou cerca de 124 milhões de dólares só no ano passado. Calcula-se que quase 12% dos passageiros não pagaram as devidas tarifas, de acordo com um novo estudo realizado por funcionários da agência de trânsito.

Para tornar tudo ainda mais impressionante, posso ainda dizer-vos que a taxa de evasão de tarifas quase dobrou entre 2018 e 2023.

Os TTC responderam ao relatório com uma nova campanha de marketing para promover o cumprimento do pagamento do bilhete. O problema maior é como fazer cumprir essa obrigação, porque se sabe que são cada vez mais os que não pagam de forma deliberada, porque assim querem. Stuart Green, porta-voz do TTC afirmou recentemente que a agência de trânsito tem vídeos de pessoas a atravessar, a esgueirar-se e a saltar portões e que os TTC já estão a tomar medidas para pôr cobro a esse comportamento. Green acrescentou que a agência de trânsito já está a reforçar a aplicação das tarifas com agentes a percorrerem as rotas de alta prioridade nas horas de maior movimento.

“É altura de começarmos a levar as coisas a sério”, afirmou Green. “Neste momento, temos de começar a recuperar algumas dessas receitas, porque o roubo de viagens nos TTC é inaceitável.”
“Sabemos que existe uma decisão deliberada de não pagar o bilhete”, afirmou Green. “Atualmente, os TTC não são gratuitos, pelo que precisamos que as pessoas paguem as suas tarifas”.

Instabilidade interna com ameaças de greve

As partes continuam à mesa das negociações, mas as ameaças de greve continuam. O diretor executivo Rick Leary a este propósito emitiu uma declaração que espelha bem o que se passa – está difícil chegar a acordo – “Os TTC e o CUPE Local 2 (eletricistas) têm trabalhado para chegar a um acordo coletivo negociado e justo. Os trabalhadores deste grupo incluem, entre outros, os responsáveis pela manutenção dos sinais dos elétricos e do metro. Embora as negociações estejam em curso, a Local 2 informou que os seus membros iniciarão uma ação de greve na segunda-feira, 22 de abril, caso não se chegue a um acordo. Tanto o Local 2 como os representantes dos TTC continuam à mesa das negociações com a intenção de chegar a um acordo negociado sem necessidade de ação laboral. Continuaremos a negociar de boa-fé, tendo como objetivo final um acordo que evite ações laborais e interrupções no serviço”.

Entretanto o sindicato que representa mais de 10 000 trabalhadores dos transportes públicos da cidade deu “o primeiro passo para uma ação de greve” na segunda-feira (15). As conversações em curso desde a expiração do acordo coletivo entre os TTC e o Amalgamated Transit Union (ATU) Local 113, em 31 de março, sofreram uma reviravolta quando o sindicato anunciou que tinha solicitado um conciliador ao Ministério do Trabalho da província. Na sua declaração, o ATU argumenta que “os TTC se recusam a alinhar com o ATU Local 113 nas principais prioridades dos trabalhadores dos transportes públicos, incluindo a segurança do emprego, os salários e os benefícios”.

A situação pode parecer sombria, mas o diretor executivo dos TTC, Rick Leary, continua otimista quanto à possibilidade de se chegar a um acordo, afirmando que a agência de trânsito está envolvida em “negociações em curso com o ATU 113 e estamos esperançosos de que chegaremos a um acordo justo e negociado”. Leary acrescentou que os TTC “continuarão a negociar de boa fé e aguardamos com expetativa a continuação das conversações à mesa das negociações”.

Segurança e garantia da integridade física dos trabalhadores e utilizadores

As taxas de infrações contra trabalhadores diminuíram 40 por cento entre janeiro de 2023 e janeiro de 2024. As taxas de ofensas contra clientes diminuíram 22% no mesmo período. Este, não podemos negar, é um bom resultado, tanto mais que ao mesmo tempo, o número de passageiros semanais (embarques no sistema) se situa atualmente em cerca de 76% dos níveis anteriores à covid – mais 6% do que no mesmo período do ano passado (69%). Mais passageiros, menos incidentes. O TTC em resposta ao Milénio afirma que estão a ser feitos “investimentos recordes” em segurança e proteção, para intervir em áreas que não podem ser consideradas parte do seu serviço principal, como por exemplo situações decorrentes de toxicodependência, pessoas sem-abrigo, garantindo ainda apoio a pessoas com problemas de saúde mental. Concretizando, o gabinete de imprensa dos TTC informou-nos que “os TTC darão continuidade às medidas tomadas em 2023 e a introdução de novas medidas para: aumentar a presença de pessoal nas principais estações de metro, terminais de autocarros e elétricos; utilizar autocarros dos TTC para transportar indivíduos para abrigos; e fornecer apoio ao programa de segurança comunitária”.

Para tudo isto, e a fim de garantir que todas as medidas de segurança e bem-estar da comunidade estejam em vigor até o final de 2024, o TTC acrescentou ao orçamento para este ano um adicional de $26,8 milhões. Tudo isto para supostamente aumentar a presença de alta visibilidade e gestão de incidentes; garantir apoio social para pessoas sem-abrigo e indivíduos com necessidades complexas; e, por fim apoio ao programa de segurança comunitária.

Para rematar, o TTC através do seu gabinete de imprensa acrescentou que: “os desafios sociais continuam a afetar a rede de trânsito e, em resposta, os TTC implementaram uma abordagem multidisciplinar com a cidade de Toronto. O Orçamento Operacional de 2024 inclui um total de $31,7 milhões para custos antecipados associados ao Programa de Segurança Comunitária, Proteção e Bem-Estar, um aumento de $26,8 milhões que consiste em $0,6 milhão para financiar o custo anualizado das iniciativas aprovadas em 2023 e $26,2 milhões em novos investimentos para apoiar a continuação das ações iniciadas sob a autoridade delegada do CEO em 2023”.

Sem dinheiro federal

A Presidente da Câmara Municipal de Toronto, Olivia Chow, diz-se desiludida com a falta de dinheiro federal para os TTC. Efetivamente, Chow manifestou o seu desapontamento pelo facto de o governo federal não estar a fornecer à cidade de Toronto fundos para a aquisição de novos comboios para a Linha 2 do metro. A cidade tinha pedido ao governo dinheiro para comprar novas carruagens de metro para a Linha 2, substituindo a atual frota envelhecida. A província prometeu 758 milhões de dólares para novas carruagens de metro no outono passado, desde que o governo federal também avançasse. Agora, revelado o orçamento federal, chega a desilusão – não está lá inscrito este pedido de apoio de Toronto. O CEO Rick Leary, afirmou de forma clara que “sem os novos comboios do metro, não podemos iniciar a modernização da Linha 2, o que poderá resultar na degradação da qualidade do serviço e em problemas de fiabilidade, numa altura em que se está a investir na extensão da linha até Scarborough”. O grupo de defesa dos transportes públicos TTCriders também está desapontado com o facto de o governo federal não estar a contribuir com o financiamento.

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