Desporto

André Villas-Boas irá tomar posse como 32.º presidente do F. C. Porto no dia 7 de maio, às 12 horas.

Ivan Del Val/Global Imagens.

O percurso de André Vilas-Boas levou-o ao lugar do homem que lhe deu a grande oportunidade como treinador e que lhe cunhou o portismo – dele e de tantos adeptos em 42 de presidência. Em 14 anos, foi da cadeira de sonho junto ao relvado ao cadeirão de presidente, com o Dragão e Porto aos pés.

André Villas-Boas ousou sonhar o próprio destino desde muito novo. Rapaz tímido e de poucas falas, encheu-se de brios e fez da paixão por um clube, o F. C. Porto, e por um desporto, o futebol, um desbloqueador de coragem que o levou à conversa com Bobby Robson, antigo treinador dos “Dragões”, ainda hoje recordado pela simpatia de gentleman britânico e pela beleza do futebol ofensivo que a equipa praticava.

Segundo a história contada todos estes anos, e nunca desmentida ou contrariada, o jovem Luís André deixava bilhetes com desenhos táticos na caixa de correio de Bobby Robson, quando viviam no mesmo prédio. Como a boa vizinhança se faz, além de respeito, de conversa com quem se  partilha a mesma habitação vertical, Villas-Boas lá chegou à conversa com “Sir” Robson, por iniciativa do inglês, que quis conhecer o autor dos rabiscos táticos que lhe iam chegando à caixa postal.

A audácia de mandar recados táticos ao “mister” da equipa principal dos “dragões” transformou um adolescente ruivo e imberbe, de 16 anos, num adjunto dos juvenis do F. C. Porto, clube de sonho e do qual é sócio desde que nasceu Luís André de Pina Cabral e Villas-Boas, a 17 de outubro de 1977. Chegado, oficialmente, ao mundo das táticas da bola, André Villas-Boas, “um tipo muito vinculado ao destino”, como o próprio se definiu recentemente, tratou de garantir o próprio devir: fez os cursos,  obteve as licenças de treinador, completando a formação dos livros com a prática, com estágios no estrangeiro e aventurando-se nas Caraíbas, aos 22 anos.

Foi contratado para supervisionar as camadas jovens, mas em pouco tempo fez um plano para todas as seleções e um manual com planos de treino e de jogo. Um trabalho que não foi ignorado e que o levou a colaborar com a seleção principal das Ilhas Virgens Britânicas.

De regresso às equipas de formação do F. C. Porto, não passou despercebido a José Mourinho, que chegou ao clube em 2002, depois de fechar acordo com Pinto da Costa num jantar na Mealhada. “Mou”, que já conhecia Villas-Boas dos tempos em que era um misto de intérprete e adjunto de Bobby Robson, entre 1994 e 1996, promoveu o adjunto das camadas a observador jovens de jogadores para a equipa principal.

Villas-Boas, que se destacou a medir as forças e apontar caminhos entre as fraquezas dos adversários, fez parte da equipa de José Mourinho nos dois anos de sonho no F. C. Porto, entre 2002 e 2004, que culminaram com dois títulos nacionais e a maior conquista entre clubes portugueses na era moderna: a Liga dos Campeões.

O triunfo na liga milionária levou Mourinho para Londres. Villas-Boas continuou com o setubalense mais três anos felizes no Chelsea (2004-2007), a que só faltou a Liga dos Campeões, que viriam a conquistar na etapa seguinte, última em equipa, nos dois anos em que defenderam as cores do Inter de Milão, entre 2007 e 2009.

Aos 32 anos, com 16 de experiência em andanças técnico-tácticas, o atual presidente dos “dragões” sentiu que era tempo de ser o líder no banco de suplentes. Na época de 2009/10 iniciou na Académica de Coimbra um curto tirocínio como treinador principal.

As qualidades que mostrou deram-lhe rapidamente a graduação, atraindo o interesse do Sporting, mas o coração de sangue azul levou-o à cadeira de sonho no F. C. Porto, no arranque da temporada de 2010/11.

Um ano de sonho para os adeptos, com a conquista do campeonato, sem qualquer derrota e com a maior diferença da história entre os dois primeiros (21 pontos), num sistema de três pontos por vitória. Festejou a cinco rondas do fim, ao vencer o Benfica (2-1) num Estádio da Luz que se apagou para os festejos dos jogadores, molhados pelo sistema.

Nessa época 2010/11, ganhou ainda a Supertaça Cândido de Oliveira frente às “águias” (2-0) e a Taça de Portugal, ante o Vitória de Guimarães (6-2). Um cabeceamento certeiro de Radamel Falcao resolveu a final 100% portuguesa da Liga Europa com o Sporting de Braga (1-0), em Dublin, e ajudou os “dragões” a alcançarem o sétimo e último troféu internacional, e quinto europeu, imitando o “quádruplo” de 1987/88.

Aos 33 anos e 213 dias, André Villas-Boas passou a ser o mais jovem técnico a vencer uma prova da UEFA. O futebol ofensivo, assente nas asas de Hulk e James Rodriguez e nos voos de Falcao, encantou o Chelsea, que  pagou os 15 milhões de euros da cláusula de rescisão, recorde de transações de treinadores em 2011.

Campeão nacional no Estádio da Luz. Créditos: FCPorto.

A esteira de José Mourinho não lhe foi muito confortável e foi despedido ao fim de nove meses, cedendo passo a Gianluca Vialli, que levaria o clube a conquistar a Taça de Inglaterra e a Liga dos Campeões. Títulos que creditam também no currículo de AVB, quem iniciou aquelas vitoriosas caminhadas.

Villas-Boas manteve-se em Londres e passou dois anos à frente do Tottenham (2012-2013), antes de rumar ao Zenit São Petersburgo (2014-2016), pelo qual conquistou campeonato, Taça da Rússia e Supertaça. Na Europa, reencontrou Jorge Jesus, o treinador do Benfica com quem tinha trocado alguma bolas mediáticas, no papel de aprendiz, no F. C. Porto, a dar umas lições, em campo, ao mestre dos encarnados.

A loucura e os milhões, em dólares, da China, seduziram com um contrato milionário para o Shangai SIPG (2017). Acabou em segundo lugar no campeonato, foi eliminado nas meias-finais da Liga dos Campeões asiáticos e perdeu a final da Taça da China.

Saiu após um ano e deu gás noutra das paixões, o desporto automóvel. O sonho do Paris Dakar foi uma realidade que durou quatro etapas e terminou com um acidente ao volante de um Toyota. E fez também algumas provas nacionais, como o Caramulo Motorfestival, 2021.

De volta ao futebol, fez duas épocas aos comandos dos franceses do Marselha, entre 2019 e 2020. Um tempo que viria a ser marcante, quando defrontou o F. C. Porto na fase de grupos da Liga dos Campeões. No fim do contrato com os franceses, suspendeu a carreira com o pensamento num cargo à frente de uma seleção, para encerrar a carreira de treinador principal, que queria dar por terminada ao fim de 15 anos de atividade, em 2025, para depois dar seguimento a outro sonho: o da cadeira de presidência do F. C. Porto.

“É uma coisa que me está destinada, e raramente não cumpro os meus destinos”, respondeu André Villas-Boas, à margem da conferência da QSP Summit, em Matosinhos, em junho de 2023. “Parei a minha carreira por decisão até 2024. Quero ter um papel ativo, como sócio votante que sou. Se é como candidato ou não, não sei… Não posso responder se serei ou não candidato. Se tenho as qualidades para o ser? Prefiro que sejam os outros a dizer isso”. A preparação estava a ser feita e pelo caminho obteve uma pós-graduação em Gestão Executiva nos Estados Unidos e começou a dar forma à ideia que um amigo lhe metera na cabeça oito anos antes.

“Em 2015, estava na Rússia [Zenit] e recebi uma mensagem de uma pessoa que ainda trabalha no F. C. Porto a dizer: ‘sei que um dia vais ser presidente’. Nunca tinha pensado no assunto, mas a forma como aquilo mexeu comigo fez-me sentir que seria um destino para cumprir”, disse no mesmo evento. Domingo de madrugada, no discurso de vitória, agradeceu “ao Bruno e ao António Lopes que, em 2015, lançaram o movimento André Villas-Boas a presidente já”.

O destino precisou de nove anos para acertar as roldanas e começa a cumprir-se nos próximos 15 dias, o prazo que os estatutos lhe concedem para tomar posse como presidente do F. C. Porto, o zénite para um portista.

JN/MS

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