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O que pensam de nós…

José Pedro Ferreira, Coordenador do Ensino da Língua Portuguesa, Camões P.P. Instituto da Cooperação e da Língua, e Rita Sousa Tavares, Adida Cultural da Embaixada de Portugal, estão por cá a trabalhar, em grande medida, para ajudar a consolidar a cultura portuguesa no Canadá. São membros destacados de instituições que representam Portugal neste país que, ao longo dos últimos (quase) 70 anos, acolheu e continua a acolher muitos homens e mulheres que aqui vivem, trabalham, mas que nunca esquecem as suas origens, a sua cultura e a sua língua que, com o seu trabalho voluntário, têm mantido vivas.

O que pensam de nós-toronto-mileniostadium
José Pedro Ferreira
Coordenador de Ensino Português – Canadá
Camões, I.P. Instituto da Cooperação e da Língua. Crédito: DR.

Nesta edição onde procurámos saber o que pensam de nós pessoas de outras etnias, pareceu-nos oportuno ter também a opinião de quem tem por missão garantir a continuidade do que mais nos identifica como povo.

Qual a sua opinião sobre a comunidade portuguesa residente no Ontário? Consegue identificar as suas principais caraterísticas?

A minha opinião pessoal sobre a comunidade portuguesa residente no Ontário é que é uma comunidade extremamente empenhada e ativa na construção do seu futuro e do futuro da sociedade que a tem acolhido. E nesse futuro encontramos a língua e a cultura portuguesas sempre presentes. É uma comunidade integrada e presente em todos os níveis e nos mais variados domínios, da política, à economia, às ciências, ao desporto e às artes, no Ontário e nas outras províncias canadianas.

Para lá das coisas boas que lhe possam ser associadas, o que pode e deve a comunidade portuguesa fazer melhor?

De um ponto de vista pessoal, penso que a comunidade portuguesa pode e deve empenhar-se nessa construção da sua integração na sociedade de acolhimento, usando para isso o melhor que tem de si própria, o seu espírito de entreajuda, a sua capacidade de participação cívica, o seu espírito empreendedor e a sua imaginação criativa. Encontramos estas características tanto em iniciativas comunitárias, como em histórias individuais. E é preciso reconhecer essas caraterísticas, valorizá-las e potenciá-las ainda mais, num diálogo produtivo entre a herança cultural comunitária e a sociedade de acolhimento, que passará sempre pela manutenção da ligação afetiva à língua e à cultura portuguesas.

O que se poderá esperar da comunidade portuguesa no futuro?

Penso que se poderá esperar um nível cada vez maior de integração e de empenho na construção de um futuro comum, canadiano e com raízes portuguesas. Há cada vez mais talentos a despertar nos mais variados domínios, confio que todos saberemos valorizá-los e potenciá-los. Celebrar o mês de junho como Mês da Herança Cultural Portuguesa é um momento muito especial para valorizarmos esses talentos e a sua ligação afetiva à língua e à cultura portuguesas no seio da sociedade canadiana, e envolvê-la nesta celebração.


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Rita Sousa Tavares
Adida Cultural da Embaixada de Portugal no Canadá. Crédito: Revista Amar

Qual a sua opinião sobre a comunidade portuguesa residente no Ontário? Consegue identificar as suas principais caraterísticas?

Os meus quatro anos de vivência no Canadá e contacto com a comunidade portuguesa local, não serão por ventura suficientes para definir de forma vasta quais as características comuns aos portugueses imigrados no Ontário.

Contudo, como boa observadora que penso ser, detecto alguns traços que penso distinguirem a comunidade local.

Antes de mais, quem aqui chegou na primeira geração da grande vaga da emigração que teve inicio na década de 50, tem quase sempre uma grande história para contar.

Muitas vezes carregada de aventura, de risco e de sacrifício. Estou a falar dos portugueses que têm as mãos calejadas do frio e da vida dura que enfrentaram quando aqui chegaram e que são, ou que foram, muitos deles um grande motivo de orgulho e de inspiração para as gerações que se seguiram, e um grande motivo de orgulho para mim, enquanto portuguesa. (O fundador deste jornal é um disso um grande exemplo.)

Este é sem dúvida um traço comum a esta comunidade.

Depois, já nas gerações mais recentes, sinto existir um cruzamento de duas culturas totalmente diferentes, mas que definitivamente casaram muito bem: a portuguesa e a canadiana. Associado a uma certa nostalgia tão tipicamente portuguesa, há um sentido organizacional e um enorme espírito positivo, muito próprios da América do Norte, o que faz com que essa nostalgia ou saudade, seja canalizada de uma forma muito mais leve, traduzindo-se num sentimento de pertença carregado de alegria. Ou seja, os portugueses que aqui estão, associam os seus traços de personalidade com as referências positivas e não com as queixas do costume do ser português.

O Fado da comunidade portuguesa que aqui vive, é diferente do Fado dos portugueses que nunca saíram de Portugal, digamos desta forma.

Sinto também que esta comunidade é genericamente solidária e que tem um enorme sentido empreendedor. Arregaça as mangas, seja em que área for. Conforme me explicou uma portuguesa muito querida que conheci quando aqui cheguei: “quem chega aqui com boas intenções e vontade de trabalhar, ao fim de alguns anos só se pode dar bem”.

Para lá das coisas boas que lhe possam ser associadas, o que pode e deve a comunidade portuguesa fazer melhor?

Um dos aspectos mais importantes a reforçar é sem dúvida o investimento na língua portuguesa. Por razões fáceis de compreender a geração mais recente está a deixar cair o português, e isso é de facto preocupante se quisermos preservar a ligação às nossas raízes. Perdendo-se a língua perde-se o essencial da ligação ao mundo e cultura portugueses e, chegando a esse ponto, a recuperação será muito mais difícil.

O meu conselho é que se inscrevam e que inscrevam os filhos nas aulas de português apoiadas pela rede CEPE do Instituto Camões, e que se lembrem sempre e sempre e sempre, que a “a minha pátria é a minha língua”, como escreveu Fernando Pessoa.

Por outro lado, o português é a língua mais falada no hemisfério sul e a quarta língua materna no mundo, o que a torna suficientemente estratégica e uma enorme mais valia competitiva para vingar em mercados e projectos associados ao mundo lusófono.

Por fim, gostava de ver a comunidade portuguesa local a participar mais no exercício da democracia portuguesa através do voto. Compreendo que a distância não ajude, mas se nos é dado esse direito, devemos exercê-lo.

O que se poderá esperar da comunidade portuguesa no futuro?

Essa é uma grande questão. A tendência será diluir-se cada vez mais, e isso não é de todo negativo, desde que se preserve a tal ligação que refiro em cima, e que vem em grande parte da língua. A expressão multicultural do Canadá fará cada vez mais parte da expressão portuguesa local, e é na mistura que se encontra a riqueza do tecido humano deste país que sempre foi um país de emigrantes, desde a sua constituição.

Madalena Balça/MS

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