África

A causa de Moreira Chonguiça pelos jovens de Cabo Delgado

O saxofonista moçambicano Moreira Chonguiça. Créditos: DW/A – Gensbittel

O saxofonista moçambicano Moreira Chonguiça desenvolve projetos musicais em Cabo Delgado que visam afastar os jovens das abordagens terroristas. E o músico diz: “Não podemos esperar só iniciativas do Ocidente”.

O saxofonista moçambicano Moreira Chonguiça revela uma outra faceta relevante para o país: a sua responsabilidade pessoal para com os jovens de Cabo Delgado, província desestabilizada pelo terrorismo há mais de seis anos.

O conceituado músico já fala em resultados tangíveis, que acredita estarem a alimentar mais esperança. Em entrevista à DW África, Moreira Chonguiça conta algumas dessas conquistas e também explica como tem sido a aposta num intercâmbio cultural local que começou muito antes da insurgência.

Há anos que desenvolve projetos musicais de investigação em Moçambique, principalmente em lugares recônditos. Quais são os resultados?

Moreira Chonguiça (MC): Os resultados são muito simples. Agora estamos a trabalhar extensivamente na província de Cabo Delgado, através da Fundação Moreira Chonguiça e com a Embaixada dos Estados Unidos da América. Estamos a conhecer e a colaborar com jovens músicos – não só músicos, mas também com poetas, etc. – para passar um bocado da minha humilde experiência, no ramo não só na música, mas também da indústria criativa, para que eles possam reunir algumas ferramentas para os proteger e criar sustentabilidade para o futuro.

A província de Cabo Delgado está a ser assolada pelo terrorismo, desastres naturais… Então, aqueles jovens não têm as mesmas oportunidades que os outros jovens do país. Não estou a dizer de alguma maneira que os outros têm mais oportunidades. Estamos a olhar para um caso muito particular. E enquanto fazemos isso, também fazemos a nossa investigação. O meu mais recente álbum, “Sounds of Peace”, que ganhou dois prémios no ano passado, é resultado também dessa investigação, da colaboração.

Como tem contribuído com a sua música para travar a ascensão do terrorismo?

MC: Na Fundação Moreira Chonguiça trabalhamos com jovens porque essa questão do terrorismo afeta mais os jovens. As pessoas que são recrutadas são jovens, recrutadas para fazer aquelas coisas que a gente não gosta de ver. Então, nós, humildemente, através da nossa arte, e através da minha experiência de vida, transferimos os valores, contribuímos – nunca impondo, mas respeitando os valores locais onde eles estão. E lembramos que eles são pessoas relevantes e são os verdadeiros campeões que podem influenciar outros jovens. Mas isso não é coisa de falar, é coisa de mostrar, é coisa de fazer, porque falar qualquer um pode falar.

E em termos práticos?

Vou dar-lhe um exemplo. Criámos três associações em Cabo Delgado: a Associação dos Músicos de Mecúfi, agora também há uma nova associação de músicos em Pemba e temos a associação dos dançarinos chamada Lipili, num universo de 60 jovens no qual que estamos a criar estratégias de efeito multiplicador para influenciar outros. São coisas práticas. Eu faço publicidade dos meus produtos, disso não faço publicidade. É um trabalho da minha responsabilidade pessoal, não social, onde eu trago parceiros – neste caso, estou a trabalhar com a Embaixada dos Estados Unidos. Destes 60 jovens, escolhemos dez que vieram a Maputo há três meses, vieram colher mais experiências, conhecer outros artistas e instituições, recolher ferramentas para que possamos influenciar ainda mais.

E sente que os seus projetos estão a impulsionar mais esperança de um futuro melhor para Cabo Delgado?

MC: Claro, definitivamente. Nós não podemos esperar só iniciativas do Ocidente. Nós temos de ter as nossas próprias iniciativas e convidar o Ocidente para se juntar às nossas iniciativas. Porque em África está na moda: é a organização X que vem da Europa, a organização X vem da América ou do Japão, como se nós não tivéssemos iniciativas e não tivéssemos cabeça para pensar, como se nós não tivéssemos gosto de proteger as nossas próprias comunidades. Então, sinto-me orgulhoso, estamos a fazer e temos parceiros internacionais super fortes que estão a apoiar, porque eles também estão a ver resultados tangíveis.

Estamos a usar a música como terapia ocupacional, emocional e também para criar e trazer ferramentas para que esses jovens não desistam dos seus sonhos, para que esses jovens não sejam aliciados pelas forças do mal. Mas isso é um exercício psicológico, é preciso sujar as mãos, é preciso estar lá. No meio disto tudo, temos a questão do terrorismo, a questão da cólera, a questão da conjuntivite e um conjunto de de situações de desafios que já não são só desafios de Cabo Delgado, são desafios do país.

DW/MS

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