Luís Barreira

Os problemas nacionais são uma “seca”!?…

MILENIO STADIUM - portugal - problemas

 

Um mero acaso pessoal, que há dias me despertou a atenção na comunidade em que me insiro, levou-me a abordar hoje este tema, pelo significado que julgo poder ter no quotidiano da nossa vida mais geral.

Não raras vezes ouvimos dizer, no epílogo de muitas animadas conversas de café, que as discussões em torno dos problemas que afetam a sociedade portuguesa, (utilizando uma expressão popular que identifica algo aborrecido) são uma “seca”! E isto porque os assuntos discutidos tendem a eternizar-se, pela origem dos temas e pela diversidade de opiniões, sem que daí resulte qualquer conclusão aceitável para todos os intervenientes.
Razão pela qual muitos desistem de discutir os problemas, considerando que tal atividade é uma mera perda de tempo, que nada se vai alterar,…que é tudo uma “seca”!

Se alguém reclama que os combustíveis estão cada vez mais caros, agravando a vida dos cidadãos, outros adiantam que a culpa é dos impostos, ou dos lucros das gasolineiras, ou do preço do barril de petróleo ou, em última análise, da entidade que nos governa. Num final aparentemente inconclusivo a discussão degenera para o futebol porque, falar dos outros problemas… é uma “seca”!

Se alguém se queixa que o preço dos produtos alimentares tem vindo a aumentar, surgem imediatamente outros participantes nestas “assembleias de café”, diagnosticando as causas do problema, nomeadamente: é a inflação; é a manipulação comercial dos preços; é o aumento dos transportes; é a falta de produção; é o governo, etc. As conversas em redor do tema acabam por se tornar fastidiosas e por vezes exaltadas, quando cada um dos intervenientes defende exclusivamente a sua razão como estando na origem do problema, conduzindo ao silenciar da discussão porque, falar destes problemas… é uma “seca”!

E assim se vai gerando um certo comportamento negativo de alguns cidadãos, desistindo de falar publicamente sobre política, considerando que estas vulgares discussões de café não nos conduzem a nenhum lado quando, em grande parte das vezes, as razões evocadas desordenadamente por cada um dos oradores, encerram a verdadeira raiz dos problemas, pela interpenetração entre as várias opiniões.

Falar de política, voluntária ou involuntariamente, em informais conversas de bairro, não é nem pode ser uma “seca”, por se considerar que não se chega a nenhuma conclusão ou porque, mau grado a intenção, pode gerar antagonismos entre os participantes nas discussões.

Uma das primeiras aprendizagens do exercício da democracia é ter opinião sobre os problemas que nos afetam. Para tal é necessário ouvir os outros e exprimir a nossa posição, submetendo-a à dialética da discussão coletiva, aperfeiçoando assim a nossa perceção sobre os assuntos. Deixar de discutir coletivamente os temas que nos afetam, direta ou indiretamente, independentemente de atingirmos ou não uma rápida conclusão, é isolarmo-nos numa cómoda ignorância que vai pesar sobre o nosso comportamento, sempre que sejamos chamados a participar na democracia.

Mas, porque há outros sinónimos deste palavrão “seca”, vou aproveitar a expressão para identificar uma preocupante situação que está a afetar profundamente Portugal e os portugueses e que, segundo as previsões, não vai parar de se agravar: a verdadeira seca!

Amamos Portugal por vários motivos, entre os quais o luminoso Sol que nos aquece, nos transmite a energia que nos motiva e que dá cor à diversidade da nossa linda paisagem.

No entanto, durante as muitas gerações de que temos memória, estávamos habituados a ter quatro estações bem demarcadas: o verão, o outono, o inverno e a primavera, o que não está a acontecer! Atualmente, em pleno inverno, não chove e o Sol diurno atinge temperaturas primaveris colocando praticamente metade do país em seca severa ou extrema e originando algumas decisões drásticas do governo, que acabou recentemente por fechar a produção elétrica de algumas das nossas barragens, proibindo a utilização da sua água para regas, com receio que falte água potável para as populações de algumas regiões do país.

Há muito que a meteorologia nacional e os cientistas que estudam as alterações climáticas, denunciam a previsão de secas prolongadas em grandes regiões nacionais. Segundo elementos recentemente recolhidos por essas instituições, este mês de janeiro foi o quinto mês mais quente desde 2000, registando a temperatura mais elevada dos últimos 90 anos.

Há cinco anos seguidos que chove abaixo da média, diminuindo o volume das águas nos nossos rios, barragens e albufeiras, criando graves problemas aos agricultores, nos seus cultivos e na alimentação dos animais.
A continuarmos assim, muitos dos produtos alimentares de consumo generalizado, nomeadamente a carne, as hortícolas, o leite e todas as culturas de regadio, tenderão a refletir um aumento de preços, consequência dos gastos com rações e importações, para além de eventuais racionamentos da água potável.

Se tal vier acontecer, não faltarão motivos para as “conversas de café” serem em torno da seca, mas desta vez não se tornarão numa “seca”, porque rapidamente vão chegar a uma mesma conclusão coletiva: a culpa foi do tempo, pois não chove!

Mas será bem assim e as conversas ficarão por aqui, ou alguém dirá que existem culpados das alterações do clima que nos estão a afetar, outros irão enumerar os responsáveis pelo efeito de estufa ou que abusamos das culturas de regadio e as discussões eternizar-se-ão?

Presumo que nessa altura também alguém gracejando dirá…esta seca é uma “seca”!

Luis Barreira/MS

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