Luís Barreira

O “Jackpot” eleitoral de António Costa!

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Crédito: DR

A maioria dos portugueses acordou esta última segunda-feira (31) verdadeiramente surpreendida, face aos resultados eleitorais das eleições legislativas do domingo anterior!

Após cerca de dois meses a olhar para os vários estudos de opinião, que davam uma luta “taco a taco” entre o PS e o PSD, para um lugar elegível como futuro primeiro-ministro do país e sem que algum viesse a poder governar sem alianças com outros partidos, dando origem às mais diversas conjeturas, os resultados obtidos inverteram as previsões.

Com já alguém disse: “O PS de António Costa pediu a maioria absoluta e o povo deu-a!…”.

E deu-a com firmeza, diminuindo a abstenção de 51,4% (em 2019) para 42,04% e em extensão, cobrindo de rosa quase todo o espaço territorial do país, à excepção da Madeira, onde o PSD continua com maioria de votos, embora tenha elegido o mesmo número de deputados que o PS (3).

Embora faltando apurar os resultados dos círculos eleitorais da emigração (Europa e fora da Europa) que, tradicionalmente, apuram 2 deputados para cada um destes dois partidos políticos, o resultado obtido no território nacional pelo PS (117 deputados eleitos) já supera em dois o necessário para obter a maioria absoluta. O PSD que durante a campanha eleitoral chegou a alimentar a ideia de poder vir a obter este mesmo resultado, não foi além dos 76 deputados eleitos, com o seu dirigente Rui Rio a admitir a sua saída da direção das hostes laranja e algumas das suas figuras ilustres a prepararem-se para o combate que se segue!…

Além desta aparente surpresa coletiva (de que muitos duvidavam depois do desaire de Sócrates), outros partidos expostos ao sufrágio universal sofreram agora grandes alterações da sua representação parlamentar. 

A CDU (cujo principal partido é o PCP, perdeu o PEV) e o Bloco de Esquerda, passaram de 12 deputados para 6 e de 19 para 5, respetivamente. Acusando permanentemente o PS de que a não aprovação de cedências no OGE para 2022, que conduziu a esta crise política, se devia à estratégia de António Costa de querer atingir a maioria absoluta, estes dois partidos acabaram por se confundir nesta justificação infantil. Então se era essa a estratégia de António Costa, seu principal adversário, porque embarcaram nela, não permitindo a aprovação desse OGE ou, pelo menos, levá-lo à discussão na especialidade?…

Com estes resultados, que ficam muito inferiores àquilo que PCP e BE se propunham obter e que não escondem a transferência de muitos dos seus apoios eleitorais habituais para o PS (considerado principal adversário), gostaria de ser “mosca” para ouvir as discussões que se vão travar nos respetivos quartéis-generais.

Alguma surpresa constituiu igualmente os resultados do CHEGA e da Iniciativa Liberal, tendo os primeiros e o seu estapafúrdio dirigente André Ventura obtido 12 deputados, quando em 2019 tinha conseguido apenas 1 e a IL 8 deputados, quando antes tinha 1. Também aqui se nota uma certa transferência de votos do PSD e do CDS para os primeiros, sendo que este último ficou sem eleger deputados por razões que o seu próprio dirigente poderia explicar (…), para além do apelo ao voto de jovens qualificados que o IL conseguiu captar ter sido conseguido e de um certo eleitorado de protesto que vota em partidos populistas como o CHEGA, que escolhem a arruaça anti-sistema, para se aproveitarem do caos gerado. 

Finalmente, o PAN quase desapareceu, passando de 4 deputados para 1 em 2022, talvez por uma maior exigência que vinha demonstrando a sua representante na aplicação da legislação referente aos animais, numa sociedade pouco preparada para o aceitar.

Uma das primeiras interrogações que me foram levantadas após o ato eleitoral, foi a dos frequentes resultados errados das sondagens antes da votação, que me levam a crer que este tipo de auscultação dos eleitores contém considerações e análises deficientes ou incapazes de definir o real sentido de voto dos eleitores, para além das margens de erro que as pretendem validar. No entanto, criam influências sobre a população votante e alterações dos comportamentos dos partidos concorrentes, provocados por diagnósticos falsos. Por isso, as únicas sondagens que me merecem mais credibilidade são aquelas que nos dão “o resultado no fim do jogo”, ou seja, à boca das urnas, após o ato eleitoral.

Considerando o resultado destas eleições e os fatores que mais as influenciaram, para além do que antes comentei, deixo esta minha apreciação.

O PS é o partido de raiz social-democrata mais antigo e experiente do país, enquanto o PSD foi, durante largas décadas, uma organização de massas populares onde cabiam diferentes setores e extratos da considerada direita conservadora, até à social-democrata. Quando Rui Rio tentou dirigir o partido para o centro-esquerda, tentando captar o eleitorado do PS, o PSD ressentiu-se com as críticas internas e a sua campanha eleitoral ziguezagueou muito tempo, sem programa e ao sabor das críticas dos restantes partidos concorrentes, entre os quais o PS. 

O PS, apostando essencialmente toda a sua campanha eleitoral na estabilidade governativa, cara aos cidadãos e às empresas, no enorme esforço que tem disso feito para minimizar a pandemia de Covid e nos milhares de milhões de euros que Portugal vai agora receber da UE (PRR) para modernizar o país, ao mesmo tempo de se afirmar vítima do facto de lhe terem interrompido a governação, conseguiu obter a maioria absoluta do Parlamento.

Mas porque todos estes muitos milhares de votos recebidos agora pelo PS, não são apenas de militantes, ou simpatizantes, mas de uma vasta camada de cidadãos de diferentes extratos sociais, distribuídos por todo o país, António Costa venceu igualmente pela confiança, simpatia e humildade com que conquistou esta maioria absoluta e que, tal como afirmou, não será um poder absoluto, obrigando-o responsavelmente a ouvir e a ter em consideração os argumentos de todos os outros que não se revêem no PS, mas que representam igualmente diferentes interesses sociais, políticos e económicos. 

A bem do país, haja confiança com vigilância!

Luis Barreira/MS

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