Luís Barreira

O mundo e as suas tragédias!…

 

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Talvez pelo facto de eu ser um cidadão europeu de uma certa idade e pelos motivos que todos reconhecem, sinto-me cada vez mais pessimista. Mas não apenas os motivos e tragédias que envolvem este velho continente e o mundo em geral, me assolam de preocupação.

Não posso deixar de citar os terríveis dois terramotos que assolaram vastas áreas da Turquia e da Síria no passado dia 6 de fevereiro, a que se seguiram mais sete réplicas, matando mais de 42 mil pessoas e fazendo muitas centenas de feridos e desaparecidos. Além disso na Síria, para além das mortes provocadas por este desastre natural, somam-se os que morrem todos os dias bombardeados pelas forças militares sírias e russas, contra a população curda a viver em péssimas condições de sobrevivência numa zona do país. Este e outros desastres naturais deixam-me uma enorme tristeza e acabam moldando o meu estado de espírito atual, refletindo-se na apreciação de outros factos mundiais, que não apenas os desastres naturais.

Eu, que vivi até à idade adulta num país censurado, em que me obrigavam a conter as palavras e os atos não aprovados pelo regime; que me infernizaram a vida familiar e profissional, enviando-me compulsivamente para terras longínquas africanas; que vivi intensamente a luta pela liberdade no meu país; que assisti com enorme contentamento à derrocada do muro de Berlim e ao fim dos dois grandes blocos que separavam os povos do mundo e as ameaças permanentes em que vivíamos, embora me interrogasse sobre o futuro da concórdia que se instalou; que pensei que o que sobrava da minha geração e os filhos dela, passariam consequentemente a prever um futuro promissor, longe de ameaças próximas de guerra, embora elas persistissem em afastados territórios saqueados pelas suas riquezas naturais, sinto agora que estamos novamente ameaçados pela disputa territorial de um homem perseguido pelo objetivo de recriar um império perdido anexando, segundo ele, “os territórios historicamente russos” (??)!

A apelidada “operação militar especial” desencadeada pela Rússia contra a Ucrânia, que acaba de fazer um ano na sua maior extensão bélica sobre o território ucraniano e que, segundo a ONU, já matou mais de 8 mil civis e feriu outros 13 mil e um número indeterminável de combatentes, ainda está longe de atingir os propósitos russos, graças à resistência do povo ucraniano e à ajuda material da maior parte dos países ocidentais e, pelas palavras recentes do agressor Vladimir Putin, não vai acabar tão cedo, pois, segundo declarou: “Passo a passo, de forma cuidadosa e consistente, cumpriremos as tarefas que temos em mãos”!

No entanto, todas as palavras do Presidente da Federação Russa, nomeadamente aquelas que se propõem como decisórias, não passam de subterfúgios para enganar quem o ouve, seja o seu inimigo ou o seu próprio eleitorado, como aconteceu recentemente durante os seus discursos à população russa num recinto desportivo de Moscovo: “Queríamos sinceramente a paz”; “A culpa do conflito é toda dos líderes ocidentais, foram eles que começaram a guerra e nós usamos a força para a travar”, disse ele, para além de acusar o Ocidente de há muito querer destruir a Rússia, numa tentativa de radicalizar a população russa contra tudo o que representa o Ocidente. Este oligarca prepotente, Presidente de um país governado a “ferro e fogo”, tenta amoralizar as sociedades ocidentais afirmando: “Vejam o que fazem ao seu próprio povo: destruir a família, a identidade cultural e nacional, pervertem e abusam das crianças, praticam pedofilia, e tudo isso é declarado normal na vida deles. Forçam padres a abençoar casamentos homossexuais.” Enfim, um rasurado de imbecilidades capazes de convencer uma parte substancial da sua população submetida a uma feroz censura e privação de liberdade e que prenuncia o completo afastamento entre os nossos modelos de sociedade.

A última decisão russa de abandonar o Tratado New START, sobre o controlo de armas nucleares, que tinha subscrito em 2010 e que tinha sido renovado em 2021, é mais uma manobra de chantagem emocional, sobre o pânico da ameaça que o uso de armas nucleares tem sobre as populações ocidentais. No entanto, Putin não é louco nem estúpido e sabe perfeitamente que se algum dia utilizar armamento nuclear nas suas aventuras imperialistas, estará a cavar a sua própria sepultura e a de milhões de pessoas. No entanto um homem acossado e sem alternativas é perigoso!…

Perigosa está a ser também a atitude da China na sua aproximação à Rússia e na sua contestação aos países que ajudam materialmente a Ucrânia. A sua evocada neutralidade face ao conflito na Ucrânia tende a dissipar-se pelas vantagens comerciais que lhe são oferecidas pela Rússia e no perigoso jogo político em que russos e chineses se envolvem para alterar a antiga ordem internacional, tornando-a tridimensional.

Mas de facto não sei o que é mais perigoso, se ter apenas um “polícia mundial”, como é o caso dos EUA, ou ter três (EUA, China e Rússia), com alianças pontuais e a poder vir a lutar concorrencialmente entre si, à medida que crescem as contradições dos seus supostos acordos na disputa pelos mercados.

Tudo isto me parece infelizmente inevitável, a não ser que um verdadeiro “milagre” alterasse os atuais constrangimentos da ONU e tornasse esta organização coletiva um verdadeiro instrumento de paz entre todos os povos.

Pode pensar-se que o que se passa atualmente na Ucrânia pouco tem a ver com o que acabei de dizer, mas, para mim, esta guerra está a ser o fermento de uma enorme convulsão mundial com nefastas consequências.
Talvez eu esteja a ser demasiado pessimista, talvez!?…

Luis Barreira/MS

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