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Estação de Cracóvia a rebentar pelas costuras: milhares à espera de sair

MILENIO STADIUM - REFUGIADOS - CRACÓVIA

 

Os milhares de refugiados que todos os dias chegam da Ucrânia fazem com que a estação de comboios de Cracóvia, a Krakow Glowny, uma das maiores da Polónia, pareça minúscula.

Como ela, milhares de pessoas naquela estação não conseguem fazer a higiene há demasiados dias. Os cheiros a suor, a urina, a fraldas sujas ou a comida estragada, conseguem ser identificados um a um mesmo por quem usa máscara. Karina não tem onde dormir a próxima noite, dá um passo em frente de cinco em cinco minutos, numa fila interminável que lhe permitirá inscrever-se para que algum benemérito lhe dê asilo temporário. Karina traz pouca coisa: uma pequena mala, uma transportadora com dois gatos no interior e carrega uma mochila às costas com um saxofone. “Sou música, toco e também canto se for preciso, aceito ir trabalhar para qualquer país”, diz. Karina fugiu de Kharkiv, uma das principais zonas do conflito. Quando lhe pergunto com quem fez a viagem, diz-me que chegou com a mãe e a irmã. De repente, faz uma pausa no discurso, respira fundo, começa a chorar e gagueja: “Sinto que me despedi da minha avó para sempre, deixei-a lá, ela disse-me que não aguentava a viagem e preferia morrer em casa”.

Enquanto pergunto às pessoas se falam inglês, com uma bandeira portuguesa nas costas, uma câmara e um microfone do “Jornal de Notícias” na mão, há quem corra na minha direção e, de uma forma desesperada, me peça para ir para Portugal. “Please, Portugal safe, take me” (por favor, Portugal é seguro, leve-me consigo). Algumas aproximam-se com um bebé ao colo. Fica muito difícil abrir a boca para dizer a palavra “não”. É mais fácil abanar a cabeça e fechar os olhos, à espera que a pessoa entenda, através da minha expressão, que “gostava muito, mas não posso”.

À estação Krakow Glowny chegam 70% dos refugiados que fogem da guerra através do posto fronteiriço de Medyka, um dos principais entre a Ucrânia e a Polónia. São centenas de milhares de pessoas, demasiadas para o pequeno grupo de cerca de 20 voluntários que está aqui e tem a quase impossível tarefa de conseguir alguma organização. “Faço tudo o que posso, distribuo água, dou informações e tento encontrar um sítio para dormirem”, explica Tatiana, ucraniana, 25 anos. Vive e trabalha na Polónia há dois anos. “Não podia ficar parada, é o meu povo que está a sofrer, quero ajudar”.

Não há nenhuma família que não tenha uma criança ou um bebé no grupo, afinal, é quase sempre por eles que as mães e as avós deixam tudo para trás, incluindo os maridos que ficaram a lutar. A energia entre os mais novos também já se esgotou, já não brincam, já não sorriem. É difícil para mim imaginar aquilo que estas pessoas viram antes de chegar à Polónia. “Mesmo cansada, às vezes não quero adormecer, já sei com o que vou sonhar”, diz Larysa. Vivia em Kiev e chegou no domingo, diz que prefere não falar do que viu, que isso a ajuda a esquecer. Em vez de ir para a fila, onde estaria várias horas e sem qualquer garantia de asilo, anda sozinha à procura de um sítio para dormir mais uma noite.

JN/MS

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