Porque é que a Rússia, os Estados Unidos e a Europa se preocupam tanto com a Ucrânia?
Tanto a Rússia como o Ocidente veem a Ucrânia como um potencial amortecedor, um contra o outro. A Rússia considera a Ucrânia dentro da sua esfera natural de influência. A maior parte da Ucrânia foi, durante séculos, parte do Império Russo, muitos ucranianos são falantes nativos de russo e o país fez parte da União Soviética até à conquista da independência em 1991.
Entretanto, em 2014, a Rússia não gostou quando a Ucrânia substituiu o presidente amigo da Rússia por um governo, inequivocamente, virado para o Ocidente.
A maioria das antigas repúblicas soviéticas e aliados na Europa já tinham aderido à União Europeia ou à NATO. O afastamento da Ucrânia da influência russa foi o último golpe de misericórdia para o poder russo na Europa Oriental.
Para a Europa e os Estados Unidos, a Ucrânia é importante em parte porque a veem como um sinal da sua própria influência, e das intenções russas no resto da Europa. A Ucrânia não faz parte da União Europeia nem da NATO. Mas recebe apoio financeiro e militar considerável da Europa e dos Estados Unidos. A invasão da Rússia poderá querer dizer que Moscovo se sente capacitada para levantar tensões com outras antigas repúblicas soviéticas que são agora membros da aliança ocidental, como a Estónia, a Letónia e a Lituânia.
Porque é que a Ucrânia é tão vulnerável?
Apesar de receber dinheiro e armas do Ocidente, a Ucrânia não é de facto um membro da NATO, pelo que não pode contar com o apoio militar direto dos Estados Unidos e dos seus aliados. Os seus militares, embora tenham recebido centenas de milhões de dólares em ajuda ocidental nos últimos anos, ainda não estão à altura dos da Rússia.
A Ucrânia está também rodeada por aliados e procuradores russos – e pela própria Rússia. Durante o período que antecedeu a invasão, as tropas russas juntaram-se não só ao longo da fronteira oriental da Ucrânia com a Rússia, mas também ao longo da fronteira bielorussa, um pouco mais de 50 milhas a norte de Kiev, a capital ucraniana. As tropas russas estavam também estacionadas na Transnístria, uma pequena e não reconhecida região separatista da Moldávia, a oeste da Ucrânia. Uma invasão de múltiplas direções, temia-se, poderia deixar o exército ucraniano esticado demais para montar uma defesa eficaz.
O que poderá ter motivado Putin a avançar agora?
As declarações públicas de Putin sobre a Ucrânia indicam que as decisões tomadas não serão motivadas exclusivamente por jogadas políticas, tendo as suas convicções pessoais aqui um papel muito preponderante.
Alguns cientistas políticos e analistas acreditam que, após 22 anos como líder da Rússia, Vladimir Putin pode estar a refletir sobre o seu legado e a querer encerrar assuntos que ficaram por resolver com a Ucrânia.
Quais poderão ser os efeitos económicos da invasão?
Alguns dos principais cereais do mundo são distribuídos através do Mar Negro, que faz fronteira tanto com a Rússia como com a Ucrânia, dois grandes produtores de trigo. As ações militares podem perturbar tanto a produção como a distribuição de cereais, aumentando os custos alimentares para os consumidores de todo o mundo.
Para além disso, a Rússia fornece cerca de um terço do gás da Europa, grande parte do qual é atualmente enviado através da Ucrânia. Qualquer perturbação em qualquer um dos extremos dessa cadeia de abastecimento obrigará os países europeus a procurar combustível noutros locais, aumentando (muito provavelmente) os preços mundiais do petróleo.
Antes da invasão, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reforçou as sanções contra a Rússia, bloqueando duas das suas grandes instituições financeiras das economias ocidentais e limitando o acesso da Rússia aos mercados de dívida. Biden afirmou que a nova medida visava uma subsidiária da Gazprom, o gigante russo da energia, que construiu o gasoduto Nord Stream 2. A União Europeia também visou o círculo interno do Presidente Putin com uma série de sanções.
O que se passa em Donetsk e Lugansk?
Donetsk e Lugansk, conhecidas como Donbass, proclamaram-se como repúblicas independentes em 2014. Desde então, cerca de 15.000 pessoas foram mortas em combates nestes territórios, com os separatistas a serem apoiados pelo regime russo.
Vladimir Putin assinou um decreto, esta última segunda-feira (21), reconhecendo a independência das duas regiões e mobilizou o exército para os territórios separatistas pró-russos para uma, afirma a Rússia, “manutenção da paz”.
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