Temas de Capa

Avós de hoje, avós para sempre

Ser avô ou avó é muito mais do que uma ligação de ADN. Há um amor novo, diferente, que nasce quando um neto nasce – assim o garantem aqueles que ocupam esse lugar. A experiência que a vida lhes deu, a leveza com que, entretanto, preferem encarar as situações, a paciência que chega em dose dupla e o tal amor, que é duplo, ou desmedido, que vem aconchegar os dias deles – os dos avós e dos netos.

Há, quase sempre, e para sempre, uma ligação especial e de gratidão quase geral, dos netos para com os avós. Porque na verdade também eles sentem que esse cargo de se ser “mãe duas vezes” ou “pai duas vezes” é de tal forma importante, que fica registado e lhes traça o caminho na construção da identidade.

Nesta edição do jornal Milénio Stadium, tivemos a oportunidade de conversar com o avô Jorge Ribeiro, que tem três netos a viver nos Estados Unidos e uma neta aqui mais perto dele, no Canadá, e ainda com a avó São Oliveira, com três netos bem por perto, mas que viveu tempos estranhos já que o mais novo nasceu em plena pandemia da Covid-19. Quisemos saber como é ser avô/avó e eles partilharam a experiência de cada um.     


  • Jorge Ribeiro e os netos

O que significa para si ser avô?

Para mim ser avô é uma extensão dos filhos… É o sentir tudo aquilo que nós demos aos nossos filhos, com uma maior disponibilidade de podermos acarinhar e dar-lhes tempo, tentando retificar tudo aquilo que fizemos mal com os nossos filhos.

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Jorge Ribeiro e a neta

Que tipo de avô se considera? Mais rigoroso ou se defende que as regras ficam para os pais e os avós para a parte “boa”?

Eu sou um avô que “estraga” de certo modo os meus netos – mais a minha neta que está mais próximo de mim, porque os meus netos estão nos Estados Unidos e por isso o meu tempo com eles é mais limitado. Mas então com a minha neta eu sou um avô a tempo inteiro – quando estamos em Toronto levamo-la à escola, vamos buscá-la, etc.

Têm, então, um contacto próximo e frequente…

Tenho uma ligação mais direta com ela do que propriamente com os meus netos. Com eles, por estarem longe, o contacto é limitado. A última vez que estivemos juntos foi em fevereiro, nos meus anos. De fevereiro até agora não os vi porque também agora com a Covid-19 e eles sendo dos Estados Unidos, torna-se mais difícil ainda. A minha neta, por outro lado, está sempre connosco.

Como viveram os tempos de confinamento? Estiveram com ela?

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Jorge e os netos

Nós tomámos conta dela sempre que necessário. Avós a tempo inteiro – quando é preciso, estamos lá. Nessa fase da Covid e respetivo confinamento, ela passava o tempo connosco enquanto os pais estavam a trabalhar. Eu e a minha esposa revezávamos – quando eu precisava de ir a algum lado, ela ficava com a menina, quando a minha esposa precisava sair, ficava eu com a minha neta, e muito contente com isso. Os nossos netos connosco são mais “fáceis de aturar” do que quando temos os pais. Eu dou-me muito bem com a minha neta e nesses tempos de confinamento nós criámos uma ligação maior – íamos ao parque juntos, fazíamos várias coisas…

Acha que o confinamento vos uniu mais ainda?

Claro. Essa temporada fortaleceu a nossa ligação. A minha neta tem quatro anos, faz cinco em novembro… E eu recordo-me de coisas que aconteceram com os meus avós com essa idade, recordo-me vivamente, tenho memórias muito agradáveis. E eu procuro dar à minha neta lembranças semelhantes. A educação que nós (avós) tivemos é diferente da que eles hoje têm e isso às vezes torna-se um bocadinho difícil de lidar, mas eu penso que estou a ter sucesso! Vamos lá ver o que é que vai dar! (Risos) Pelo menos que ela fique com uma boa ideia do avô.

Era precisamente isso que lhe ia perguntar agora: Como gostaria que os seus netos o recordassem, um dia mais tarde?

Eu gostava que me recordassem com carinho… Como um avô presente. Terei dificuldade com os meus netos dos Estados Unidos porque eles não estão comigo e é mais difícil, mas que me recordem de forma positiva. Que se lembrem de mim da mesma forma que eu lembro os meus avós: ter amor, carinho, compreensão. Sentir-me aconchegado. Ainda hoje, sempre que vou às campas dos meus avós, choro… Porque consigo ir atrás e recordar os bons momentos que nós passámos juntos. Por isso, basicamente, gostava que também os meus netos tivessem uma recordação agradável a meu respeito. Que um dia pensem “o meu avô já não está cá, mas deixou-me alguma coisa positiva”.


  • São Oliveira e os netos

O que significa para si ser avô?

Significa ser uma segunda mãe. É um amor muito grande. Eu amo os meus filhos, mas os meus netos… É diferente, um amor muito forte. Talvez porque agora eu tenho mais tempo para estar com eles, estou mais calma, com mais paciência… Quando tive os meus filhos era o início da vida, era uma correria, agora é diferente, mais tranquilo. É um amor que não tem limites.

Que tipo de avó se considera?

Eu sou uma avó tola (risos). Uma avó doida da cabeça, que adora brincar com eles, adoro fazer coisas malucas (risos). A minha filha diz que sou pior que eles!

Então não é muito rigorosa com eles, é isso?

Rigorosa acho que não sou. Tento ensinar-lhes o que está certo e o que está errado, mas às vezes facilito certas coisas, é verdade… Eu às vezes até fico com pena deles, quando os pais os castigam, acho que às vezes é um bocadinho exagerado (risos). Talvez se eu estivesse no lugar deles, na altura, fazia também a mesma coisa, mas agora como sou avó tolero mais um bocadinho. Embora tenha que haver um certo limite, claro. Mas sinceramente sou uma avó muito descontraída e brincalhona.

Costumam ter contacto frequente?

Agora ultimamente, por causa da pandemia, não é como era, mas eu tento! Eu faço os possíveis para os ver, uma, duas ou três vezes por semana… Vou lá vê-los ou eles vêm cá a casa. Tento estar presente na vida deles o máximo que eu posso.

Como foi a vossa experiência durante o confinamento?

Avós de hoje-sao-mileniostadium-mundoFoi muito difícil! Muito mesmo. A minha filha teve o meu terceiro neto em plena pandemia, eu estive mais de dois meses sem poder ver o meu menino. Só através do FaceTime ou então ia lá à janela de casa deles olhar para ele. Não podíamos arriscar, principalmente porque eu não queria estar próximo da minha filha para não a infetar caso eu estivesse com alguma coisa. Ela é uma sobrevivente de cancro da mama e eu estive sempre a trabalhar, sempre de casa em casa a tratar dos velhinhos, e o risco de contaminação era elevado. Além disso, o bebé, claro… Recém-nascido e precisava estar o mais protegido possível. Mas custou-me muito… Eu não poder agarrar no meu neto, dar-lhe mimo… Custou-me mesmo. E a primeira vez que tive contacto com ele, assim frente a frente, foi com máscara e ele, coitadinho, a olhar para mim nem me via a cara toda… Só quando eu me afastava e tirava a máscara é que ele se ria. Mesmo ainda hoje, ainda não tive aquele contacto físico com ele sabes? Aqueles beijinhos todos e abraços… Nem aos meus netos mais velhos, eu estava sempre colada a eles e agora tenho mais contenção. Eu ia para lá para casa deles ler livros e dormir com eles, agora já há meses que não faço isso. Tenho medo…

Como foi a sua relação com os seus avós?

Tive uma relação muito chegada aos meus avós maternos. Principalmente à minha avó. A certa altura da minha vida, ali pela adolescência, ela era mais uma amiga do que uma avó. Falávamos muito de tudo e ela dava-me muitos conselhos. A época era outra, a relação entre avós e netos era muito à base do respeito e as demonstrações de carinho eram diferentes, não havia aquele “amo-te”, mas nós sentíamos o amor pelas ações. Tenho boas recordações.

E, depreendo, que é assim que quer ser relembrada pelos seus netos, certo? Que eles tenham boas recordações também…

Sim. Exatamente… Quero que se lembrem de mim como aquela avó maravilhosa, que fazia tudo por eles e para eles. Aquela avó doida (risos), que fazia coisas malucas, que brincava com eles… “A minha avó era super fixe!!” (risos). Quero também que eles se lembrem de mim como alguém que lhes deu muito amor, que tentei fazer o melhor por eles. Mas que se recordem de mim mais por aquela parte “wild” (risos).

Catarina Balça/MS

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