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Jogos Olímpicos de Inverno – O que está em “jogo” em Pequim

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Credito: Olympics/twitter

Nesta sexta-feira (04) acontece a cerimônia oficial de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno 2022 de Pequim. Os holofotes estão voltados para China por razões que vão muito além do desempenho dos atletas nas diversas modalidades esportivas. A atenção também está no componente político que envolve esses jogos, em especial devido a conturbada relação da anfitriã China com diversos outros países ocidentais.  

O sinal mais claro de que as relações de poder estão estremecidas se dá pelo boicote diplomático anunciado por oito países, encabeçado pelo Estados Unidos e que incluiu também o Canadá, Reino Unido e Austrália, devido ao histórico da China em desrespeitar os direitos humanos de cidadãos e particularmente o tratamento de Uyghurs e outras minorias étnicas em Xinjiang, além da repressão ao movimento pró-democracia em Hong Kong.

Esse boicote significa que as autoridades oficiais não estarão presentes, porém as delegações de atletas vão participar das competições e da cerimônia de abertura. Dois cientistas políticos consultados por nossa reportagem, o professor da McMaster University, Robert O’Brien, e o professor da McGill University, Daniel Béland, concordam que o boicote diplomático é uma ferramenta importante e bem utilizada pelo governo canadiano, que dessa forma deixa claro seu descontentamento com as políticas chinesas em relação aos direitos humanos, mas em contrapartida não prejudica os seus atletas, que seguem participando da competição. “Essa é uma das maneiras de deixar bem claro para o governo chinês que as ações deles estão comprometendo a sua imagem internacional”, destaca O’Brien. O professor Béland complementa dizendo: “O Canadá deve denunciar abusos de direitos humanos que estão documentados na China, mas não está disposto a encerrar a participação de atletas canadenses, pois isso exacerbaria ainda mais as tensões entre o Canadá e o regime chinês, enquanto penalizamos nossos atletas, impedindo-os de competir em primeiro lugar”. 

A resposta a esses movimentos se deu prontamente. O Comitê Olímpico Internacional (COI), através de seu presidente Thomas Bach, emitiu uma declaração onde destaca que “a presença de funcionários do governo é uma decisão puramente política para cada governo…E também para esta decisão política, o princípio da neutralidade política do COI se aplica.” Já as autoridades chinesas foram mais incisivas e classificaram de “farsa política autodirigida” a decisão de Washington que acabou sendo replicada por outros países. Em comunicado, o porta-voz da Missão Chinesa na ONU disse que “os EUA só querem politizar o esporte, criar divisões e provocar confrontos”.

Muitos países se recusaram a assinar o boicote – o presidente francês Emmanuel Macron classificou o movimento como “insignificante e simbólico”. O presidente russo Vladimir Putin, que confirmou presença na abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, também chamou a decisão de “inaceitável e errônea” e “uma tentativa de conter o crescimento da China”.

Além dessas questões no campo diplomático, essa edição chinesa dos jogos também acontece em meio à pandemia, dessa vez com a variante Ómicron sendo a predominante a nível mundial. Para combater a transmissão do vírus a China adota a política de tolerância zero, com isso uma série de medidas sanitárias restritas foram adotadas para criar um sistema de “bolha”de proteção. Atletas, delegações olímpicas, membros da imprensa internacional, todos seguirão esses protocolos. Nos estádios e arenas estarão presentes apenas alguns espectadores já que os ingressos não foram vendidos ao público em geral. 

Se as regras sanitárias impostas são restritivas as recomendações de segurança em diversos âmbitos aos atletas e profissionais que vão a Pequim também.  Uma das medidas que chamou atenção é a de diversos países orientarem que durante a sua estadia na China os participantes levem consigo telefones celulares descartáveis e não os que costumam utilizar regularmente. Tudo isso para evitar espionagens, acesso a dados pessoas e outras ameaças cibernéticas. “Esse tipo de medida é uma precaução porque de fato existem evidências de que atividades telefônicas podem ser monitoradas e informações privadas acessadas pelo governo chinês e autoridades”, analisa o professor O’Brien. O Comitê Olímpico Canadiano também já deixou claro aos atletas que evitem qualquer tipo de comentário religioso ou político durante a estadia no país asiático. A China tem regras restritas de liberdade de expressão e qualquer comentário pode ser punido ou interpretado de acordo com a lei local, por isso o alerta se torna ainda mais importante. O professor e cientista político Daniel Béland concorda com essa abordagem extremamente cautelosa, já que recentemente o Canadá e a China protagonizaram um conflito diplomático devido à prisão de dois canadianos em solo chinês: “O abuso de direitos humanos na China é desenfreado e nossos atletas devem ter cautela, especialmente depois do que aconteceu com Michael Spavor e Michael Kovrig, que foram detidos por acusações aparentemente falsas entre dezembro de 2018 e setembro de 2021 no contexto do caso Huawei/Meng Wanzhou”, relembra. 

Diante de todos esses elementos… que comecem os jogos, no caso, os que acontecem nos limites dos ginásios e arenas desportivas, onde cerca de 3 mil atletas de diversas nações competem em 15 modalidades, já que os “jogos” de relações internacionais, acusações, disputas de poder e soberania parece que ainda vão permanecer em andamento por um bom tempo. 

Lizandra Ongaratto/MS

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