Que vença o melhor
Ficou conhecido por “Robocop” – a alcunha nasceu, segundo conta, num treino. Depois de surgir em campo com um joelho ligado, um jornalista, que assistia à sessão, chamou-lhe Robocop e a coisa pegou.
Mas ao contrário desta personagem, Fernando Aguiar não luta contra o crime em Detroit. Muito menos teve a sua memória apagada – o ex-futebolista canadiano de ascendência portuguesa, que passou por clubes como Toronto Blizzard, Beira-Mar, Leiria, Marítimo e Benfica, e que nos dias de hoje é treinador adjunto do Montalegre, da Liga 3, guarda inúmeras lembranças dos tempos em que esteve no ativo enquanto jogador e falou-nos sobre elas nesta edição do jornal Milénio Stadium. Mais que isso, deu-nos também a sua perspetiva acerca da importância do futebol atual. Ainda que tenha nascido em Chaves, Fernando Aguiar emigrou para o Canadá aos 2 anos, tendo inclusive representado a seleção canadiana em 13 ocasiões. Com uma carreira de atleta de 16 anos, que terminou por conta de uma lesão no joelho, Aguiar ficou conhecido também pela garra com que entrava sempre em campo e pela sua forma dura e mais agressiva de jogar, qual “Robocop”, para travar as “forças inimigas”.
Desde a altura em que “pendurou as chuteiras” até ao presente, o futebol com certeza não se tornou no desporto-rei no Canadá, mas a histórica qualificação da seleção canadiana para o Mundial 2022 – que marca presença na competição apenas pela segunda vez, depois da participação na edição de 1986, no México, onde perdeu os três jogos da fase de grupos frente à França (0-1), Hungria (0-2) e União Soviética (0-2), acabando no 24.º e último lugar -, pode ter vindo “agitar as águas”. Tanto que até já foi divulgado o interesse do país organizar, em conjunto com os Estados Unidos e México, a edição de 2026 – algo que poderá custar, no total, mais de 290 milhões de dólares, criar 3.300 novos empregos. Dos cerca de 174.000 visitantes esperados resultariam ainda mais de 3,5 milhões de dólares em receitas fiscais e uma recuperação económica em setores que foram duramente atingidos pela pandemia, como o turismo, a hotelaria e o entretenimento.
Mas voltando à qualificação da seleção canadiana: por trás desta conquista estão dois jogadores luso-canadianos, Steven Vitória e Stephen Eustáquio – jogadores do Moreirense e do F.C. Porto, respetivamente. Eustáquio, em particular, para além de ser um dos protagonistas da seleção de John Herdman, tem vindo a afirmar-se no futebol português e, na opinião de Fernando Aguiar, está na “equipa certa para dar o salto”.
E na hora de decidir entre Portugal e Canadá? Bem, parece que Fernando tem o coração dividido… e faz “jogo duplo”!
Milénio Stadium: Trinta e seis anos depois a seleção canadiana conseguiu qualificar-se para um Mundial de futebol – foi, na realidade, a segunda vez na história que tal aconteceu. Como é que o Fernando sentiu este feito?
Fernando Aguiar: Sim, foi um feito enorme e espero que a seleção consiga manter este nível para futuras gerações, algo que me deixará feliz.
MS: Ao contrário de Portugal, o futebol não é a modalidade que mais fãs mobiliza em solo canadiano. Mas será que este apuramento histórico reacendeu uma paixão por este desporto que andava adormecida?
FA: Creio que será sempre difícil ser uma modalidade popular no Canadá (até acho que já é popular mas não tanto como se espera). Isto é uma coisa cultural que a Europa e a América do Sul já têm bem definida.
MS: Entre os heróis da equipa comandada por John Herdman estão os luso-canadianos Steven Vitoria e Stephen Eustáquio. Eustáquio tem, inclusivamente, somado diversos elogios na imprensa nacional e internacional, e mais recentemente foi considerado o melhor jogador do Canadá na derrota frente ao Panamá. Estará aqui uma grande promessa não só em contexto de seleção como também do futebol mundial?
FA: Mérito para os dois, e sim, acho que o Stephen Eustáquio está na equipa certa para mais tarde dar o salto – mas também se mantiver o mesmo nível já é um grande feito.
MS: O Fernando chegou a representar a seleção canadiana – que recordações guarda dessa altura?
FA: Foram boas mas como toda gente sabe as condições não eram as melhores. O Canadá evoluiu muito no desporto e isso ajuda a ter mais sucesso, mas foi um enorme prazer representar a seleção.
MS: Nos últimos dias têm surgido notícias que dão conta do interesse do Canadá em ser co-anfitrião do Mundial2026 – que vantagens e desvantagens é que, caso tal venha efetivamente a acontecer, esta iniciativa pode ter para o país? Diz-se que este é um desejo que pode custar pelo menos 90 milhões aos contribuintes…
FA: Nunca fui a favor disso porque realmente trata-se de dinheiro dos contribuintes e depois se as instalações não são aproveitadas então aí é que é dinheiro mal gasto… Isto tem que ser sempre tratado como um negócio para apresentar um produto final bom e lucrar no presente e futuro.
MS: O que espera das seleções do Canadá e de Portugal neste Mundial? Poderão chegar longe ou até, quem sabe, ganhar a competição?
FA: Vai ser difícil para ambas mas creio que Portugal terá sempre mais vantagem… Será sempre uma boa experiência para o Canadá, para aproveitar e corrigir alguns erros no futuro.
MS: E agora a derradeira pergunta… por quem vai torcer neste Mundial?
FA: Fico sempre a torcer por Portugal e Canadá, e se jogarem entre eles, que ganhe o melhor!
Inês Barbosa/MS
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