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Dark Web foi pensada para pessoas que queriam navegar sob anonimato

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Crédito: DR.

A Internet é talvez uma das maiores invenções dos últimos anos que contribuiu para acelerar o conceito de aldeia global criado pelo canadiano Marshall McLuhan na década de 60. O filósofo que na altura era professor de Comunicação na Universidade de Toronto acreditava que os avanços das tecnologias de informação iam encurtar as distâncias no mundo e facilitar as trocas culturais entre os diferentes povos. McLuhan defendia que devido à diminuição das barreiras geográficas o planeta se ia reduzir a um conjunto e aldeias onde todas as pessoas estariam conectadas.

Apesar das suas enormes potencialidades serem reconhecidas, que o digam os imigrantes, que antigamente tinham que esperar anos por uma carta para saberem se estava tudo bem com a família, tal como qualquer outra invenção, também traz problemas e riscos, porque nem toda a internet é boa, tal como nem todas as páginas são confiáveis e têm informação credível. A internet é apenas a ponta do iceberg de dados, conteúdos e sites. Depois existe aquilo que vulgarmente se designa por Dark Web, o lado mais obscuro da internet sobre o qual pouco se sabe.

A propósito deste tema o Milénio Stadium entrevistou esta semana o Dr. Richard Frank que é professor associado na Escola de Criminologia da Simon Fraser Univeristy em BC e diretor do Centro Internacional de Investigação de CyberCrime (ICCRC). Doutorado em Ciência da Computação e em criminologia, a sua principal área de investigação é o cibercrime.

Frank explica que embora inicialmente a Dark Web tenha sido pensada para pessoas que queriam navegar sob anonimato, mais tarde acabou também por ser usada para o crime. Como a rede é encriptada é necessário um software específico para ter acesso à Dark Web, sendo que o mais popular é o Tor, explica o professor da Universidade de BC ao nosso jornal.

Em fevereiro deste ano foram partilhados na Dark Web informações pessoas sobre utilizadores do Facebook em todo o mundo. A informação que foi divulgada era referente a 533 milhões de contas de utilizadores da Meta e mais de 3 milhões de contas eram de canadianos. Nomes, números de telemóvel, endereços de e-mail, locais de trabalho, morada e estado civil foram algumas das informações expostas e até hoje não se conhece a identidade de quem partilhou esta informação.

Os ataques deste género são frequentes e acontecem em empresas das redes socias como em bancos, empresas de crédito, empresas de telecomunicações, etc. Mas a Dark Web também é um palco importante para tráfico de droga, tráfico humano, pornografia infantil, roubos, entre outros. O conselho dos especialistas é para evitar clicar em publicidade em sites sobre qualquer um dos conteúdos referidos acima.

O DarkMarket era considerado o maior mercado ilegal do mundo na Dark Web. Em janeiro deste ano a Interpol anunciou que graças a uma operação internacional que envolveu Alemanha, Austrália, Dinamarca, Moldávia, Ucrânia, Reino Unido e os EUA foi possível desmantelá-lo. Estes são alguns dos dados que a Interpol divulgou sobre o DarkMarket: quase 500 000 utilizadores; mais de 2 400 vendedores e mais de 320 000 transações no valor de $140 milhões de euros. Os produtos mais comercializados eram medicamentos, dinheiro falsificado, detalhes de cartões de crédito roubados, cartões SIM anónimos e malware. Com esta operação a Interpol espera conseguir reunir pistas para chegar a vendedores e compradores.

Em março deste ano a Canada Revenue Agency cancelou contas de 800.000 canadianos depois da informação de login ter sido encontrada à venda na Dark Web. No início a CRA julgava que apenas 100.000 contas que tinham sido afectadas, mas mais tarde veio a confirmar-se que foram 800.000.

Milénio Stadium: O que é a Dark web e como é que funciona?

Richard Frank: É uma subsecção encriptada e anónima da Internet e existem múltiplas tecnologias que permitem esta ideia, sendo a mais popular a Tor.

MS: Quais são as principais diferenças entre Deep Web e Dark Web?

RF: A internet aberta é a secção da Internet que qualquer pessoa pode aceder, sem precisar de fazer login. A Deep Web é o conteúdo da Internet que precisa de login para ser acedido, trata-se de conteúdo que não é acessível a todos. Exemplos de Deep Web do dia-a-dia são as assinaturas de jornais e as notas dos médicos que podem ser acedidas pelos próprios. A Dark Web é a secção da Internet que toma medidas ativas para se esconder, usando encriptação e necessitando de um software específico para aceder a essa informação (software Tor, por exemplo).

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Dr. Richard Frank que é professor associado na Escola de Criminologia da Simon Fraser Univeristy em BC. Créditos: DR.

MS: Sendo a Dark Web um terreno fértil para a ilegalidade, será também, de certa forma, um instrumento de trabalho para aqueles que fazem investigação criminal?

RF: A Dark Web foi criada para o anonimato e não para o crime, mas muitas pessoas abusaram da ideia e utilizaram-na para o crime. Portanto, sim, é utilizada para o crime, mas é utilizada por qualquer pessoa que deseje permanecer anónima/privada, tais como investigadores ou jornalistas. As pessoas que vivem num país que filtra a Internet, como por exemplo a China, podem utilizar o software Tor para ter acesso a informação que foi filtrada.

MS: A Dark Web pode ter um lado que é considerado “útil” à sociedade quando é usada como forma de comunicação em áreas do mundo onde não existe liberdade de expressão?

RF: Sem dúvida, o projeto Tor, por exemplo, é apoiado por muitas entidades sem fins lucrativos, governos e universidades.

MS: Existe um perfil de utilizador de Dark Web?

RF: Não tenho conhecimento de nenhum perfil geral, mas a rede Tor é utilizada diariamente por 2 milhões de pessoas.

MS: Quais são os tipos de crime mais frequentes na Dark Web?

RF: Há muitos sites que vendem todo o tipo de coisas, detalhes de cartões de crédito roubados, carded products, malware, serviços de hacking, drogas, armas, etc.

Joana Leal/MS

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