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Viagem no tempo

Armindo Silva, conhecido empresário do ramo dos seguros (o primeiro português a trabalhar com todo o tipo de seguros na cidade de Toronto), destacado membro de várias organizações da comunidade portuguesa, chegou ao Canadá no dia 9 de abril de 1961. Hoje vamos fazer uma viagem no tempo e percorremos com Armindo os caminhos da sua memória desta cidade que o acolheu há 60 anos.

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Armindo Silva. Créditos: Carmo Monteiro

A chegada

“Quando aqui cheguei tinha cá um contacto de duas famílias de Foz Côa. Foram pessoas que eu tinha ajudado em Lisboa, antes de eles virem para o Canadá. Eles precisavam de ir à Junqueira para se vacinarem, porque naquela altura os portugueses quando saíam tinham que ter um documento que comprovava que tinham as vacinas. Agora fala-se muito do passaporte das vacinas e eu rio-me, porque Portugal já usava isso há 60 anos. E então eu lá fui ajudar aquelas pessoas que vinham com crianças dos arredores de Foz Côa, e estavam praticamente perdidos no seu próprio país. Não conheciam nada de Lisboa e eu ajudei-os na minha hora de almoço. Depois quando eu pensei vir para o Canadá, uns meses antes, uma pessoa de uma dessas famílias passou pelo lugar onde eu trabalhava em Lisboa e deu-me o contacto deles daqui. Quando vim, escrevi-lhes a dizer que vinha e pedi para me arranjarem um quarto. Portanto, quando cheguei tinha o José Pinto e António Lucas (que veio a ser meu compadre) à minha espera no aeroporto. Na cidade o que mais me impressionou foi: a arquitetura de género vitoriano – as casas com um jardim à frente -; o trânsito – fiquei muito admirado porque aqui parecia tudo muito ordenado, ninguém apitava, era tudo muito silencioso e Lisboa naquela altura era um pandemónio com os apitos; e a venda de jornais – havia uma pilha de jornais, com um prato de ferro muito grande em cima e as pessoas tiravam o jornal, pagavam e faziam o troco, não tinha ninguém lá, a guardar o dinheiro.”

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Créditos: DR.

A preparação para a nova vida

“Quando vivia em Lisboa, eu morava na 5 de outubro e havia um escritório do Consulado Canadiano, na esquina da 5 de outubro com a Avenida da República, eu ia lá buscar os jornais canadianos. Há um ano e tal que já fazia isso. Por um lado, porque andava a aprender inglês e assim lia as notícias para treinar a língua e também para ir percebendo como se vivia aqui. Eu lia os jornais ingleses, mas também os franceses e percebi que Toronto tinha sempre mais pedidos de trabalho. Aí disse para os meus botões “Toronto é que me interessa” (risos).

A solidariedade

“Tomei contacto com a comunidade portuguesa logo que cheguei. Ia jantar ao Restaurante que havia na Nassau, o Ramalho (antigo Sousa). A Nini Ramalho ajudava muita gente, especialmente pescadores que chegavam aqui fugidos, pela Terra Nova, sem nada. Ela andava de mesa em mesa a pedir que dessem roupas ou outras coisas “chegaram mais dois… tens alguma coisa que possas dar?”. E ela dava-lhes comida. Ajudou muita gente essa senhora. Estavam sempre a chegar pessoas ilegais e os taxistas já conheciam o restaurante da Nassau.”

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Rua Augusta. Credito: Toronto Library.

A Augusta Avenue

“A Augusta era o centro da vida da comunidade. Era uma rua cheia de negócios portugueses. Veja esta lista (ver caixa na página ao lado) e estes são os que me lembro. A Padaria Lisboa, a primeira a abrir, depois a Micaelense, a Ibérica, os talhos, os irmãos Melos com as mercearias. Os importadores Correia e Sousa, um dos negócios importantes da altura. Eles traziam Portugal para aqui. Tinham uma importância muito grande para a comunidade. Estamos a falar de uma comunidade mais pequena. Mas os negócios iam crescendo à medida que a comunidade também crescia. Funcionava muito por ondas – houve uma altura em que abriam padarias por todo o lado, também aconteceu o mesmo com as chamadas variety stores (alguns dos que se metiam nesses negócios tinham tido acidentes que os impediam de continuar a trabalhar na construção), os bilhares… também a determinada altura abriram vários, mas o Tivoli (que penso foi a primeira casa de bilhares portuguesa) era onde se juntavam muitos homens da comunidade, muitos à procura de contactos para trabalho ou só mesmo para se divertirem. Mesmo em frente ao Restaurante Ramalho também havia o Portuguese Book Store, o Mário Tomás tinha ido a Portugal e fez um acordo com um distribuidor, então a malta ia lá buscar os jornais e as revistas portuguesas.

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Kensington Market. Credito: Toronto Library.

Os jornais desportivos… tudo. E quando havia jogos ele punha o relato a dar num altifalante.  Também na Augusta funcionava o First Portuguese que representava a cultura portuguesa e era um ponto de encontro importante para a comunidade e que teve a primeira escola oficial de língua portuguesa. Inicialmente a Augusta era dominada pelos judeus, tinham lá muitos negócios. Mas com a chegada dos portugueses a rua melhorou muito, quanto a mim. Os portugueses “limparam muito lixo” da Augusta, deitavam abaixo prédios velhos, faziam de novo e cuidavam das suas casas. Dinamizaram uma parte da Augusta, da Nassau até à College. Mais tarde foram-se espalhando pela Dundas, foram abrindo vários negócios. Por exemplo, o Belas teve uma peixaria na Dundas e Ossington, mais tarde abriu uma mercearia na Dundas.”

O início da vida de agente/corretor de seguros

“Quando cheguei ao Canadá comecei a trabalhar na Canadian Tire. Era uma boa empresa, com bons benefícios, mas no setor onde eu trabalhava passava os dias inteiros sem ver o sol. E eu dizia assim “então eu vim para o Canadá para isto? Passar dias inteiros sem ver o sol? Mas que raio de vida é esta?” (risos). Aguentei lá o tempo suficiente para poder fazer as cartas de chamada dos meus dois irmãos e depois pensei “eu não tenho dinheiro para começar um negócio que envolva muito capital.”, então fiz uma autoanálise e perguntei a mim mesmo: “qual é a minha experiência?” – a minha experiência era lidar com pessoas e vender. Depois houve um piquenique numa quinta de um português, que era o Carlos da Atouguia, com missa campal e muita gente portuguesa. E eu pus-me a olhar e disse para mim “epá tanto carro!”. E vi aquilo que parecia uma oportunidade de negócio, mal eu sabia que as companhias daquela altura não queriam fazer seguros automóvel. Mas fui saber o que era preciso para ser Insurance Agent naquela altura. Tinha que fazer um exame, mas eles só mandavam os livros para estudar a quem já tivesse o sponsoring da companhia.

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Credito: Toronto Library.

À noite com a lista telefónica tirava os números das companhias e no dia seguinte ia para um telefone que havia na cafetaria da Canadian Tire. Tive dias em que almocei só uma maçã para poder passar o tempo do almoço a fazer contactos. Andei assim uma semana, mas vi que não dava. Tirei dois dias de férias para ir, pessoalmente, falar com alguém. Fui a um organismo que se chamava Law Insurance Agencies e perguntei se eles me arranjavam alguém para ser meu sponsor. E arranjaram. E a pessoa avisou que só começaria a fazer dinheiro no espaço de três anos. E perguntou se me aguentaria sem receber três anos e eu disse que sim (risos). Alguma vez? Nem pensar. Eu não tinha dinheiro. Mas precisava do sponsorship para fazer o exame. Eu comecei do zero, lembro-me que fui a uma loja de material de escritório e comprei 25 pastas e pensei “epá 25 clientes? Quando é que eu vou arranjar 25 clientes?” (risos). E tinha uma caixa debaixo da cama com os meus ficheiros. Foi assim que comecei primeiro como agente de seguros (fui o primeiro português). Comecei na College e só mais tarde abri o escritório na Dundas.

A memória dos 60 anos de Canadá de Armindo Silva, com uma intensa vida empresarial, de envolvimento comunitário e até político não cabe nestas páginas. Digamos que, desta vez, passeámos apenas um pouco pelos primeiros anos vividos no país que lhe deu uma oportunidade para ter uma vida diferente.

Portuguese Businesses in Toronto

Restaurantes:

  • Sousa/Ramalho – Nassau St. And Bellevue Ave.- 1st owner (Antonio Sousa. 2nd. Sr. Ramalho)
  • Garden– Restaurant – Augusta Ave.
  • Imperio – Colllege St. and Augusta Ave.  1st.   (Frank Silva;  2nd. Frank Alvarez)
  • Melo’s Brothers: Groceries – started on Augusta and Nassau St., lated moved to Augusta near Dundas and added a Restaurant Casa Abril (Melos Brothers)
  • The Boat – Augusta Ave – década dos 70 (Norberto Rebelo) Blue Wall – later
  • Importadores
  • Correia e Sousa – Augusta Ave (António Sousa e José Humbria Correia)

Butchers / Talhos

  • Portuguese Butcher – (Joaquim Oliveira e Jose Torres)
  • Talho Churrasqueira “O CORTADOR” Augusta Ave (Fernando Figueiredo)-
  • Talho do Teixeira (mesmo em frente `a Padaria lisboa)

Grocery

  • A Lusitânia   Augusta Ave. (Jorge Rebelo)
  • Norberto Rebelo – Kensington Ave.
  • Mercearia na Augusta Ave. – (Owner conhecido por Carlos da Atouguia)

Bakeries:

  • Lisboa Bakery – Augusta and Oxford St. (Francisco Silva)
  • Micaelense Bakery
  • Iberica Bakery and Iberica Pastery– 2 location in Augusta (Delkar Maia)

Peixarias:

  • Peixaria Sagres – Augusta Ave.  (Arlete Fonseca), Fish Store in Baldwin St. from the Azores. There were at least two other fish stores, one of them owned by the father-in-law of Charles Sousa, but we can’t remember the names.

Barbearia

  • Spadina Ave – (Angelo Bacalhau from Madeira and Serafim from Lisbon.)
  • General Insurance Agencies
  • A.Silva Insurance Brokers Ltd– 310 College St.(Armindo Silva)
  • Elidio de Caires Insurance – College St.

Travel Agencies

  • Chagas Travel Agency – corner of Augusta Ave. and College St.  (Francisco Chagas)
  • Acadia Travel – Former Chagas Travel 
  • Imperio Travel Agency – College St.  (Frank Silva)

Ourivesarias

  • Ramalheiro – College St.   (Ulisses Ramalheiro)
  • Ourivesaria Liberal – Dundas St, West  (Liberal Medeiros)

Loja de Brinquedos e children’s furniture

  • Babyworld – College St.  (Rui Rosa)

Billiards

  • Tivoli Billiards– Augusta Ave

Jornais, Revistas e Books in Portuguese

  • Portuguese Book Store – (Mario Tomas)

Artesanato Regional

  • Casa da Madeira – produtos de vime e bordados madeirenses ( Alberto de Caires)

Clubes:

  • First Portuguese Canadian Club – Before 1961 I was told that it started in a mall place on Nassau St. , shortly move to Augusta Ave. the purchased a property at the Corner of Nassau Ave and Lippincott St, and later moved to 722 College St.
  • Portuguese United – Started as a soccer Club, located on College St. West of Spadina Ave.

Catarina Balça/MS

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