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Mercado de aviação mundial vai mudar e consumidores podem ter de pagar mais para viajar

 

Mercado de aviação mundial - canada-mileniostadium

A Air Canada anunciou terça-feira (15 de dezembro) que comprou a rival Air Transat. O preço foi 70% inferior ao que tinha sido anunciado antes da pandemia. A Air Canada vai pagar $5 por ação, o que significa que a compra vai rondar os $180 milhões, muito abaixo dos $720 milhões que tinham sido avançados anteriormente.

Antes da pandemia a Air Canada estava disposta a pagar $18 por ação, mas a COVID-19 mudou o panorama global da aviação e as companhias aéreas agora estão longe de ser um negócio apetecível porque a procura caiu drasticamente. Menos empresas a operar no mercado significa que o consumidor vai pagar mais pelas viagens e provavelmente vai ter mais dificuldade para conseguir encontrar um lugar disponível.

A Air Transat tinha recebido uma proposta mais alta de um investidor privado em novembro, sem ligação ao setor de transporte aéreo e viagens, mas segundo a transportadora aérea a proposta da Air Canada foi a melhor para a empresa. Em declarações aos jornalistas, Jean-Marc Eustache, presidente da Air Transat, disse que para além do preço, o facto do investidor não estar ligado ao setor das viagens, “contribuíram para a desvalorização da oferta”.

Se porventura o negócio não se concretizasse a empresa estava a planear a continuidade no mercado depois da COVID-19, mas segundo o presidente ia precisar de financiamento e corria o risco de se tornar mais pequena à medida que outras transportadoras maiores ganhassem participação de mercado.

A Air Transat já tinha a anunciado que este ano ia fazer poupanças para compensar a perda de receitas. A empresa informou na semana passada que perdeu $238,1 milhões no quarto trimestre, o que levou a perdas anuais de $ 496,5 milhões.

Sobre o preço a que a Air Canada comprou a Air Transat, o presidente reconhece que “o mundo mudou” desde que a Air Canada informou no ano passado que estava disposta a pagar $18 por ação.

A confirmação da compra da Air Transat significa que acionistas, tribunais e bolsas de valores deram o seu aval ao negócio. Mas os órgãos reguladores, incluindo o Autoridade de Concorrência do Canadá, ainda vão ter de dar luz verde ao negócio. Em março deste ano a Autoridade de Concorrência do Canadá divulgou um relatório onde alertava que a compra da Air Transat era má para o consumidor porque “vai prejudicar a concorrência e vai resultar em menos escolhas para os passageiros canadianos”. 

O relatório foi entregue ao ministro dos Transportes, Marc Garneau, e sublinha ainda que acabar com a rivalidade entre as duas transportadoras aéreas vai resultar em preços mais elevados, menos serviços e, por conseguinte, menos viagens numa série de rotas. Segundo a análise da agência, a compra da Air Transat vai afetar 83 rotas sobrepostas, incluindo 49 entre o Canadá e a Europa e 34 entre o Canadá e a América Central e do Sul. Destinos populares para os canadianos como Flórida, México e Caraíbas podem vir a ser fortemente afetados quando o negócio se concretizar. Para os portugueses que residem no Canadá também podem ser más notícias porque agora vão ter menos uma opção de escolha na hora e viajar para Portugal. 

As informações que a agência comparou foram recolhidas antes da pandemia de COVID-19 que encerrou fronteiras e fez com que a procura por viagens caísse para números nunca antes vistos. Uma das dificuldades que estava a ser avançada antes da compra ser oficializada era a hipótese do regulador europeu não aprovar o negócio porque as duas companhias aéreas juntas são responsáveis por 60% das rotas mundiais entre Canadá e a Europa.

Se o negócio não se tivesse concretizado, a Air Canada teria de pagar à Air Transat uma taxa de rescisão de $ 30 milhões, enquanto que a Air Transat tinha que pagar $ 10 milhões se aceitasse uma oferta de outra empresa.

A Air Transat nasceu no Quebec em 1986 e empregava antes da pandemia pouco mais de 5.000 pessoas. A pandemia e a diminuição pela procura de voos obrigou a empresa a fazer lay-off a 2.000 pessoas. A Air Canada foi criada em 1934 e empregava antes da pandemia 40.000 pessoas. Com a pandemia a empresa foi obrigada a despedir 20.000 pessoas. De acordo com dados do Governo, a Air Canada foi a empresa canadiana que recebeu o maior pacote de ajuda financeira de Otava. A empresa ativou o Canada Emergency Wage Subsidy (CEWS), o programa que paga até 75% do salário do trabalhador, e até setembro ao abrigo deste programa já tinha recebido $494 milhões, quase meio milhão de dólares. 

A recuperação pode ser lenta porque as vacinas vão demorar algum tempo e as restrições às viagens devem manter-se, o que nos leva a antecipar que a Air Canada vai continuar a beneficiar deste apoio até à primavera, altura em que o programa deverá ser extinto. A Air Canada é a maior empregadora do país no setor privado e era considerada uma das melhores empregadoras do país nos rankings nacionais que avaliam e comparam as empresas canadianas.

Mas a ajuda de Otava às transportadoras aéreas não ficou por aqui e esta é a lista completa de apoios. A Air Transat recebeu $106 milhões do CEWS; a Chorus Aviation recebeu $96.8 e a Global Crossing Airlines $40 milhões do Canada Emergency Business Account, outro programa de assistência financeira do Governo federal. A Westjet e a Sunwing & Porter ainda não divulgaram o valor das ajudas que receberam.   

A Air Canada tem uma frota de 166 aviões e antes da pandemia fazia 1,500 voos diários. A Air Transat tem 43 aviões e uma particularidade que talvez nem todos saibam é que o atual Premier do Quebec, François Legault, foi um dos fundadores da empresa. A Air Transat é a segunda maior empresa aérea canadiana depois da Air Canada e da WestJet. 

O setor da aviação e do turismo representa 3.2% do PIB canadiano, cerca de $49 mil milhões, qualquer coisa como 633.000 postos de trabalho. O negócio deve ser fechado no início de 2021 depois do regulador aprovar. 

Joana Leal/MS

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