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Esperança em tempos de pandemia

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Crédito: Artem Podrez

 

O estado de alerta vermelho está ativado. A tragédia desta pandemia não se resume aos que lamentavelmente perderam as suas vidas. O que está a acontecer no Canadá, a par das estatísticas mais terríveis de óbitos causados pelo coronavírus, é nada mais do que um surto de doenças da alma tais como depressão, angústia, ansiedade, solidão, tentativas de suicídio, ataques de pânico e outras. Um em cada 10 canadianos experimentou pensamentos suicidas durante o mês de setembro passado. O medo de contrair a doença, a dor de não poder despedir-se de entes queridos, entretanto falecidos, a solidão de muitos idosos, trancados em lares de idosos, tem deixado um rasto de implicações emocionais difíceis de contabilizar. Isso  é verdade também em outras geografias como, por exemplo, no Japão, onde no mês de outubro de 2020 morreram 17.000 indivíduos por suicídio. Importa dizer que o suicídio no Japão, só no mês de outubro do ano findo, ceifou mais vidas do que a Covid-19, isto durante o período de março a outubro de 2020, onde se registaram 2000 óbitos associados ao coronavírus.

As reais consequências e danos associados à pandemia Covid-19 estão ainda por mensurar. Tudo isto acontece num país onde a influência do Cristianismo parece ter falido e onde muitos afirmam, à boca cheia, que o Cristianismo é algo do passado e que perdeu o espaço e a relevância na sociedade canadiana contemporânea. Eduardo Lourenço, recentemente falecido, estrela intelectual de Portugal, chamado de “psicanalista da cultura portuguesa”, falava da “cultura contemporânea (quer ela seja a portuguesa, europeia ou norte-americana), como pós- Cristã”. Muitos são os pensadores e filósofos norte-americanos que, antes da Covid-19, concordariam em grau, género e modo com a análise feita por Eduardo Lourenço.

Nos círculos culturais canadianos a cultura vigente era e ainda é, mesmo com Covid, antropocêntrica e descristianizada. Antes da Covid, persistia a visão de que a sociedade   estaria melhor se passasse uma certidão de óbito ao Cristianismo e aos seus valores. A nossa idade contemporânea passou a centrar-se no “ego”. Esta centralização no “ego”, conduziu ao estabelecimento de uma verdadeira cultura de rejeição e hostilização da fé cristã, cujos valores altamente relativizados perderam objetividade, até mesmo entre muitos que se dizem cristãos. As conquistas científicas, económicas e, sobretudo, tecnológicas, costumavam satisfazer o “ego”, e conduziam o Homem à autonomia de Deus, do Qual se desinteressou. A sociedade canadiana, até há uns meses atrás, caracterizava-se, entre centenas de outras facetas, por uma forte e aberta contestação aos valores judaico-cristãos. Há 50 anos atrás estes valores eram absolutamente inquestionáveis na matriz societária canadiana. Haja a vista a constituição canadiana de influência cristã que ainda persiste, sabe-se lá por quanto tempo mais. Antes da Covid nos tirar o chão, assistíamos, desolados, ao fenómeno da relativização de todos os valores que aprendemos com os nossos pais e fundadores da nação que ainda canta “God  keep our land glorious and free”.

A cultura pós-cristã tem, obviamente, contado com a incansável colaboração dos meios de comunicação social para propagá-la e referendá-la e, com a complacência do sistema educativo, cujos valores ou desvalores acomodaram-se escandalosamente à mentalidade vigente. O fenómeno do secularismo propaga o desinteresse e indiferentismo religioso, e provoca várias formas de ateísmo. O homem e a mulher, absortos nas suas conquistas técnico-científicas, creem poder prescindir de Deus pensando ser Supra Sumus. Até que uma terrível pandemia lhes bate à porta. Os valores morais perdem consequentemente a sua objetividade e deixam de ter como referencial último o fim supremo, o próprio Deus, passando a vingar o referencial relativo e reduzido do próprio Homem. Isto até que o teste venha positivo.

Se há coisa que esta terrível pandemia nos trouxe foi um profundo abanão na ideia de que o ser humano pode ser “senhor” de tudo. Na linguagem bíblica, diríamos, citando o Salmo 11:3, “Ora, destruídos os fundamentos que poderá fazer o justo?” Permitam-me que responda à pergunta do Salmista, com mais uma referência bíblica, que, desta feita, decorre de um episódio vivido pelo Apóstolo Pedro num momento de grande teste justamente quando perdeu o chão. Trata-se de um dos milagres mais emblemáticos registados na Bíblia, e descreve o momento em que Jesus anda sobre as águas. Esse milagre foi narrado em três dos quatro Evangelhos (Mateus 14:22-33; Marcos 6:45-51; João 6:16-21). Ao andar sobre as águas, Jesus revelou de forma muito clara aos seus discípulos sua natureza Divina. O texto do Evangelho de Mateus também destaca a atitude de Pedro diante desse grande milagre. Ao ver Jesus a andar sobre o mar, Pedro pede para ir ter com ele. Pedro andou sobre o mar por alguns instantes, mas logo depois começou a afundar.

Aprecio muito esta história porque, à semelhança de muitos de nós, Pedro começou por crer, saiu da sua zona de conforto, viveu por momentos, numa dimensão sobrenatural de fé, mas, a determinada altura, por causa dos ventos fortes, deixou de confiar em Deus. Deixo-vos, pois, algumas recomendações para que todos voltemos aos fundamentos de uma fé cristã, que pensa, e que é crucial para momentos como os que estamos a enfrentar. É que a esperança tirou Pedro do barco. A confiança o sustentou e o medo o afundou. Quando tal ocorre, se pedirmos ajuda a quem, de facto, tem o poder de nos ajudar, receberemos uma mão estendida. É que, segundo os Evangelhos, assim que Pedro pede ajuda fazendo uma das orações mais curtas da Bíblia “Senhor, Salva-me!”, Jesus colocou-se ao seu lado. Ele ajuda Pedro tanto fisicamente, tirando-a da água, como espiritualmente, identificando claramente o seu problema, falta de fé. A questão é simples: Havia um fator que determinaria se Pedro andaria sobre as águas ou se morreria afogado. Se ele estava ou não concentrado em Jesus ou se ficaria concentrado nos ventos e na tempestade. O Evangelho de Mateus deixa muito claro na sua narrativa que enquanto Pedro se concentrou em Jesus ele recebeu poder para andar sobre as águas. Quando Pedro voltou a sua atenção para os ventos contrários, o medo causou um curto-circuito e o poder foi-se.

Em jeito de resumo, deixo-vos as seguintes recomendações para enfrentarmos os desafios causados por uma pandemia de medo.

1. FIXE OS SEUS OLHOS EM JESUS ALIMENTANDO-SE DA ESPERANÇA

Existe uma condição mental indispensável para enfrentar os seus medos e ansiedades. Chame-lhe esperança, fé, confiança em Deus, certeza, etc. Isso faz toda a diferença. Quando a perdemos, afundamo-nos como aconteceu com Pedro. A esperança é o combustível que alimenta o coração humano. Um acidente de automóvel pode paralisar o teu corpo. Mas a morte da esperança tira-te a vida.

– Foi em esperança que agiste quando disseste sim e fizeste promessas no dia do teu casamento;

É a esperança que renova casamentos feridos pelo incumprimento das promessas feitas;

– A esperança explica porque é que nós deixamos o egoísmo e continuamos a trazer filhos ao mundo;

– A esperança leva pessoas a construir universidades e hospitais; um compositor a preparar uma nova música confiante de que proporcionará um instante de prazer!

– A esperança é que leva o Sporting Club de Portugal a pensar que é este ano que ganhará a Liga! (Não resisti à brincadeira…sou sportinguista).

Sempre que os fundamentos se transtornam, Jesus nos convida a deixar um barco de segurança falsa e conforto na mentira da autossuficiência. São Jerónimo dizia: “Ordene, e imediatamente as águas se solidificarão.” Jesus nunca nos chama para nos ver afundar. Isso pode acontecer, mas não é essa a intenção de Jesus. A chamada de Jesus, e só a de Jesus, é para sairmos de um barco, seja ele qual for, que nos dá uma sensação falsa de segurança. A esperança da assistência de Deus em momentos como estes, é o contrário da ansiedade excessiva, da atitude derrotista, ou da depressão face a aparentes fracassos. A esperança cura.

2. FIXE OS OLHOS EM JESUS SUBMETENDO-SE À SUA LIDERANÇA AMOROSA

A autoconfiança e a autoeficácia são próprias de quem confia na sua capacidade em vez de se submeter ao governo soberano de Jesus. Quem crê, de facto, não fica concentrado naquilo  que é capaz de fazer, mas do que Deus quer fazer por seu intermédio. É essa a ideia do Apóstolo Paulo aos Filipenses 4:13 quando diz: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece.” Isto significa que eu enfrento com confiança e submissão a Deus tudo o que a vida me apresentar, por causa daquele que me fortalece. Mesmo que seja uma pandemia. O otimista acha que tudo vai correr bem. O que confia e se submete ao governo e à liderança de Jesus sabe que mesmo que alguma coisa corra menos bem, o Senhor que o fortalece, o sustentará.

Mas como é que poderemos ser comandados por este pensamento e sermos capazes de permanecer focados em Cristo no meio das tempestades e dos ventos contrários causados  pela Covid-19? Como é que tu poderás disciplinar a tua mente e focá-la em Jesus? O combustível que usas determina o desempenho do veículo. Qual é o combustível fundamental que alimenta a tua mente? Um outro texto inspirado diz: “Por último, meus irmãos, encham a mente de vocês com tudo o que é bom e merece elogios, isto é, tudo o que é verdadeiro, digno, correto, puro, agradável e decente.” (Filipenses 4:8). Do que é que a tua mente se tem alimentado durante estes meses de pandemia? A nossa capacidade de viver com esperança,  de manter o foco certo durante as tempestades, dependerá em grande parte da disciplina de alimentar a nossa mente com o que é bom, ou seja, submeter-me à liderança de Cristo na minha mente, ou, por outras palavras, “levar cativo todo o pensamento à obediência de Cristo” (2 Coríntios 10:5). Só assim conseguiremos concentrar-nos no Senhor das Tempestades e não na tempestade.

PERGUNTAS DE REFLEXÃO

1. É tempo de começar a pensar na maneira como pensa, sobretudo, em tempos de pandemia. Como descreveria o tipo de pensamento que o atrai com maior frequência?

  • Medo
  • Esperança
  • Ira
  • Tristeza
  • Apatia
  • Alegria
  • Desânimo
  • Outros

2. O que mais seriamente prejudica os seus níveis de esperança (meios de comunicação, redes sociais, livros, amigos, atividades)?

3. O que mais incrementa os seus níveis de confiança em Deus? (meios de comunicação, livros, redes sociais, amigos)?

4. Diante destes factos, como poderia organizar a sua vida de forma a criar um mais alto índice de esperança e submissão à liderança de Cristo na sua vida?

Rev. Dr. Paulo Pascoal / [email protected]

Olivet Baptist Church / www.olivetbaptistchurch.ca

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