As jornadas da nossa fé

Muito bom dia, como está? Bem, espero. Mais uma sexta-feira, esta já em março. Que seja breve e menos violento este mês que tem por fama de ser “Março, marçagão, manhãs de inverno e com tardes de verão…”. Isto em Portugal, claro está.

Esta semana, em cima da mesa um tema que tem dado muito que falar e feito correr muita tinta pela negativa. Jornadas Mundiais da Juventude que este ano se realizam em Lisboa, de 01 a 06 de agosto de 2023.
Mas e onde e a que custo? O altar-palco onde o Papa Francisco vai celebrar a missa final da Jornada da Juventude e vai custar 4,2 milhões de euros.

A empresa municipal da Câmara de Lisboa que está a requalificar o Parque Tejo adjudicou, por ajuste direto, o altar-palco à Mota-Engil por 4,2 milhões. Em 2010, o palco de Bento XVI custou 300 mil euros. Irónico, mas creio que estes custos sejam muito mais elevados e que este valor é mesmo só para “jogar água do Rio Tejo“ para os olhares mais atentos de alguns e para os contribuintes em geral. Alguém acaba sempre por lucrar e não somos nós. Contudo, e como o tempo urge, será engraçado (entre aspas…) ver a celeridade deste projeto porque há precisamente um mês, voei por cima deste terreno e só existia mesmo o terreno. Coisa à Tuga, à aventureiro. Enfim. No entanto, e para além do Papa: quais são e para onde estão pensados todos os eventos da Jornada Mundial da Juventude?

Momento alto do maior encontro católico do mundo ocorre sempre no fim, com a Vigília e a Missa Final com a presença do Papa, mas durante uma semana, há vários eventos em paralelo espalhados pela cidade. Em Lisboa, ainda há dúvidas, mas já há planos.

Embora seja conhecida pela presença obrigatória do Papa, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) vai muito além dos eventos principais em que o sumo pontífice participa, a Vigília e a Missa Final que encerra o encontro mundial. Instituída em 1985 por iniciativa do Papa João Paulo II como desafio aos jovens católicos, a JMJ multiplica iniciativas pela cidade. Calendários ainda a serem apresentados.

Será certamente um verdadeiro atrofio desafiante numa cidade que já sofre com tanto stress de circulação, a ver…

Pesquisei sobre eventos anteriores deste mesmo movimento que, ao fim e ao cabo, e quanto a mim, tem uma grande vantagem. Os jovens convivem. Quanto à fé que os une? Não sei e não nos cabe julgar. Uma coisa é certíssima. Não faço questão de estar metida no seio desta “balbúrdia”.

Por Espanha, há alguns anos atrás, estas jornadas surtiram este efeito: em Madrid, que acolheu as Jornadas em 2011, grandes protestos marcaram a preparação do evento devido aos elevados custos para o erário público envolvidos. A iniciativa em Espanha custou 50 milhões de euros, mas foi financiada por privados e pelos próprios peregrinos, com a venda dos bilhetes. A economia do país acabou beneficiada em 354 milhões de euros devido aos impactos diretos e indiretos gerados pelas JMJ.

Por entre nós, Toronto 2022 originou um “buraco” de 27 milhões. Quanto à visita do Papa João Paulo II a Toronto (Canadá) no âmbito das JMJ de 2002 deixou um elevado preço para pagar. A Igreja Católica do Canadá teve que pedir donativos para ajudar a cobrir um “buraco” de mais de 27 milhões de euros.

O evento custou 67 milhões de dólares (mais de 61 milhões de euros) e as verbas recolhidas ficaram-se pelos 40 milhões (cerca de 36,7 milhões de euros), segundo dados do The Globe And Mail.

A Igreja teve que desviar verbas que estavam destinadas a reparações nas igrejas, atividades ou ações missionárias, para cobrir o “buraco”.

Já pelo Panamá, Igreja do Panamá “lucrou” 275 mil euros. Em 2019, foi a Cidade do Panamá, no país com o mesmo nome, que acolheu as JMJ depois de um investimento público de 62,4 milhões de dólares (mais de 57 milhões de euros), segundo números citados pelo jornal La Estrella de Panamá.

Já pelo Rio de Janeiro gerou-se uma dívida de 28 milhões, no caso das Jornadas do Rio de Janeiro, em 2013. O saldo foi menos positivo, uma vez que deixaram uma dívida de 91,3 milhões de reais (28,2 milhões de euros), segundo uma auditoria independente da Ernst&Young.

O Papa Francisco chegou a doar 3,6 milhões de euros para ajudar a pagar parte da dívida, como revelou o Comité Organizador Local numa nota divulgada pelo Diário de Notícias.

Voltando a Lisboa.

Com a polémica em torno dos custos das Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa, neste ano, fomos espreitar os gastos e os lucros das anteriores edições do que é o maior evento católico do mundo. E pode ser um bom negócio para a capital, embora venha agravar dois problemas… Para já, não dá dados concretos em relação a quanto é que a organização destas Jornadas vai custar a Portugal. Especula-se que o Estado pode ter de contribuir com mais de 80 milhões de euros, nomeadamente em obras e infraestruturas, mas também em serviços como Proteção Civil e Segurança. Considerando o que se passou em Madrid, por exemplo, a grande beneficiada com este investimento público será mesmo Lisboa que acabará por recolher a maioria dos lucros do impacto económico positivo que é esperado.

Alguns contras – assim, em tempos difíceis de inflação, pode esperar-se um aumento dos preços dos bens em geral, mas da habitação em particular. A especulação imobiliária tenderá a agravar-se para aproveitar a onda de visitantes.

Qual o real significado, ao fim ao cabo, deste encontro?

Visa proporcionar a todos os participantes uma experiência de Igreja universal, fomentando o encontro pessoal com Jesus Cristo. É um novo impulso à fé, à esperança e à caridade de toda a comunidade do país de acolhimento. Tendo os jovens como protagonistas, a Jornada Mundial da Juventude procura também promover a paz, a união e a fraternidade entre os povos e as nações de todo o mundo.

É o que é e vai valer sempre que vale.

Vamos esperar e desejar que corra tudo bem. Deixo-vos com umas palavras de sua Santidade João Paulo II que instigou e pôs em prática todo este movimento.

“…a esperança de um mundo melhor está numa juventude sadia, com valores, responsável e, acima de tudo, voltada para Deus e para o próximo.”
– João Paulo II

Cristina DaCosta/MS