Vítor M. Silva

Et tu Santa Casa?

 

O mundo está mergulhado em crises financeiras, mas ninguém ousaria pensar que nestas águas tumultuosas estivesse a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Por isso, o título desta crónica ir buscar o termo latino da admiração de Júlio César quando atraiçoado por Brutus declarou – “Até tu Brutus?” ou em Latim – “Et tu Brutus?”.

No ano de 2019 a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tinha resultados positivos acumulados de 650 milhões de euros, lucros de 37,5 milhões de euros, depósitos bancários de mais de 200 milhões e mais de 600 imóveis.  Em 2020, só um ano depois, demonstrou prejuízos de 53 milhões de euros. Como explicar isto? As contas finais do ano revelam que a perda de receitas do jogo aliada a uma subida significativa dos custos é a responsável por esta situação.  As vendas brutas dos jogos tiveram uma queda de 17,6%, reduzindo a receita destes em menos 592 milhões de euros, por seu lado, a Santa Casa viu os seus gastos terem um aumento significativo muito devido à Covid-19 (área da saúde). Mas a polémica está instalada, porque o governo não convencido, mandou auditar os projetos internacionais e exigiu uma reavaliação das contas. O ex-provedor para se proteger diz que o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social aprovou a estratégia e todas as decisões. Mas alguma coisa vai mal. Como se pode entender que a Santa Casa tenha 6 000 funcionários e destes quase 400 sejam dirigentes? Pasme-se que em 2016 tinha 4500 funcionários e pouco mais de 250 dirigentes. 

O ex-provedor Edmundo Martinho está no centro do furacão. Neste momento, pairam no ar suspeitas de ilegalidades e eventuais negócios ruinosos. Para além da já citada auditoria foi também pedida uma reavaliação dos Relatórios de Gestão e Contas. Sendo muito natural que em consequência desta auditoria o conteúdo desta seja enviado para o Ministério Público. Quem diria que a grande instituição de referência em Portugal estivesse a passar por todos estes problemas? Gestão danosa ou simplesmente sinais dos tempos? As Misericórdias sempre foram instituições ricas e com muito património. Mas no passado seriam auditadas com o rigor que se requer hoje em dia? A maneira como conseguiram o património, muitas vezes doado, teria sido legítima? A nomeação para o cargo de Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa é da competência do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. Em março deste ano Ana Jorge, que fora Ministra da Saúde entre 2009 e 2011, foi a nomeada para a função. Não se esperam tempos fáceis à frente desta secular instituição.

“Nunca digas nunca” ou “desta água não beberei” são adágios populares que assentam como uma luva para explicar os acontecimentos acima descritos, mas finalizo com uma frase de Charles Darwin que chama a atenção que as instituições não devem só crescer, devem moldar-se ao tempos e às políticas. “ Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”.  

Vítor M. Silva/MS

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