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“Ninguém escolhe ser LGBTQ”

LGBTQ - milenio stadium

 

A MAX é uma associação sem fins lucrativos sediada em Otava que trabalha em conjunto com as autoridades de saúde pública e outras organizações para tentar melhorar a vida de homens gays desde 2002. Desde campanhas para prevenir doenças como a SIDA ou a sífilis, até campanhas para promover um estilo de vida mais saudável – antitabagistas – em 2008 a organização criou a Gay Zone. Através deste local os homens gay podem ter acesso a testes e tratamentos de saúde sexual.

Apesar de o Canadá ser um país com bastante abertura nestas questões da orientação sexual e do género, até porque a Carta dos Direitos e Liberdades de 1977 refere que os canadianos têm direito ao “tratamento justo e um ambiente livre de discriminação com base no sexo, orientação sexual”, a verdade é que existe sempre trabalho a fazer para melhorar a vida das futuras gerações até para que não repitam os erros dos mais velhos. James Demers, diretor executivo da MAX há cerca de 10 anos, aceitou partilhar com o Milénio Stadium alguns conselhos para que os homens gays possam navegar neste mundo de uma forma natural e sem receios. Para ele o apoio é uma das questões fulcrais para evitar isolamento, e a ajuda pode vir tanto da família como de fora desta comunidade: “ (…) crianças que são apoiadas pelos pais independentemente da orientação sexual são mais felizes”.

O responsável defende ainda que apesar de o ativismo ter contribuído nos últimos anos para mudar mentalidades, a educação sexual ainda precisa de ser mais inclusiva nas escolas canadianas até porque o bullying homofóbico continua a existir.

Demers tem dedicado a sua carreira a dar voz às comunidades LGBTQ e a tentar eliminar o estigma que existe à sua volta e a criar laços de empatia com toda a comunidade.

James Demers_ - milenio stadiumMilénio Stadium: Todos os pais querem o que é melhor para os seus filhos, mas dar apoio nem sempre é fácil – especialmente se for o pai ou a mãe de uma criança ou de um homem gay. Quais são as maiores preocupações destes pais que chegaram à MAX?
James Demers: Os pais estão geralmente preocupados que os seus filhos possam ter uma vida mais difícil ou serem maltratados por outros que são homofóbicos, no entanto, as crianças que são apoiadas pelos pais independentemente da orientação sexual são mais felizes e muitas vezes vivem vidas mais gratificantes do que as crianças que sentem a necessidade de esconder quem são dos amigos e da família. O isolamento é muito mais perigoso durante uma vida inteira do que um preconceito a curto prazo ou uma falta de compreensão temporária das identidades LGBTQ.

MS: Qual é o seu conselho a estas crianças ou homens para navegarem nesta realidade?
JD: Liguem-se às comunidades gay e criem amigos tanto dentro como fora da comunidade. Dessa forma vão ter acesso regular a recursos de cuidados de saúde e de apoio social quando precisarem deles. E em caso de discriminação vão ter uma rede de pessoas para os ajudar a gerir. Arranjem tempo para abordar a homofobia internalizada e conceitos errados que possam ter pessoalmente sobre ser homossexualidade e a comunidade em geral, o amor próprio é essencial.

MS: Existem muitos equívocos sobre género e orientação sexual. “Apenas uma fase”; “não há cura” e “não procurar a culpa” são expressões comuns que ouvimos por aí. Diria que isto não encoraja a sociedade em geral?
JD: Penso que o mundo mudou muito nas duas últimas décadas de ativismo. As pessoas LGBTQ são mais visíveis do que nunca, estamos a ver mais representação de culturas de todo o mundo nos palcos internacionais e as atitudes políticas mudaram. A educação está disponível e existem muitas pessoas LGBTQ no dia a dia que nos mostram que é possível ter uma vida plena e cheia de perspetivas diferentes. De uma forma geral, penso que estamos a caminhar numa direção positiva e ver uma maior aceitação será apenas uma questão de tempo.

MS: Precisamos de uma educação sexual mais inclusiva nas escolas canadianas?
JD: Sim, concordo a 100%.

MS: Não são poucas as vezes que estas crianças ou homens enfrentam o bullying na escola. Como é que os pais podem identificar os sinais de perigo?
JD: As crianças tornam-se frequentemente reclusas ou tentam ficar em casa doentes da escola com uma frequência crescente e não se sentem seguras. Isto deve ser tratado com a escola imediatamente e os pais devem esperar uma política de tolerância zero em relação ao bullying homofóbico. Esta política é apoiada no Canadá pela Carta dos Direitos e Liberdades, se a escola não a apoia, vale muitas vezes a pena mudar de instituições para que a criança tenha um ambiente melhor. Ninguém escolhe ser LGBTQ, nós escolhemos ser honestos sobre quem somos e não devemos experimentar barreiras no mundo devido ao fanatismo dos outros – isto é especialmente importante de manter dentro do nosso sistema educativo.

MS: Até que ponto é que os problemas de saúde mental afetam a comunidade gay?
JD: Os problemas de saúde mental não são mais prevalecentes na comunidade gay do que na população em geral, contudo as pessoas LGBTQ experimentam frequentemente homofobia, transfobia, e atitudes negativas de médicos, terapeutas, e enfermeiros que criam barreiras à nossa capacidade de acesso aos cuidados. Desta forma, temos muitas vezes de esperar mais tempo ou vivenciar mais incidentes adversos porque não conseguimos aceder a profissionais devidamente instruídos. A realidade está a mudar, mas o processo tem sido liderado pela própria comunidade em vez de vir da própria esfera profissional. É essencial que os profissionais ouçam e aprendam com as comunidades que pretendem servir sobre a melhor forma de cuidar das suas necessidades.

Joana Leal/MS

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