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VOX POP: Voluntariado

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Ser voluntário é muito mais sobre o outro do que nós próprios. É doar o que podemos, mesmo quando pouco podemos (e não me refiro a questões monetárias), para que quem precisa de nós tenha de alguma forma a ajuda que precisa.

A dedicação a uma causa, seja ela de que cariz for, não só melhora e traz bem-estar a uma comunidade, como também, certamente, nos faz sentir pessoas melhores. Pelo menos, são esses os relatos das várias pessoas, com quem falámos nesta edição do jornal Milénio Stadium, que através das suas variadas experiências de voluntariado nos contam como o que recebem é sempre maior do que aquilo que dão.

Catarina Balça/MS


 

Linda Michelle Matias

Qual é a sua idade e ocupação profissional?
Tenho 48 anos, sou dona da tipografia Toledo Printing + Design, e faço desenho gráficos.

Que tipo de voluntariado faz?
Eu ajudo na recuperação e reabilitação de animais selvagens que são recolhidos pelo público ou que nós apanhamos com a ajuda do público, que estão feridos, doentes ou órfãos. Este passado ano de 2021, recolhemos mais de 1600 animais selvagens. Nós ajudamos: guaxinins, lebres, doninhas, porcos-espinhos, veados, opossums, esquilos, ratos do campo, martas, raposas, coiotes, falcões, pássaros selvagens, morcegos, etc.. A minha responsabilidade é dar de comer, limpar gaiolas, dar medicação, preencher formulários e papéis para o Ministry of Natural Resources, que todo o animal que nós tratamos é registado. Também ajudo em operações, e transporte de animais para veterinários. O maior gosto que eu tenho é ver um animal selvagem recuperar de uma doença ou ferida e conseguir soltá-lo no local de onde veio, com saúde e com mais uma chance de vida.

Quando começou a fazer voluntariado?
Comecei em 2019, quando a Covid-19 bateu forte no Canadá. Sempre gostei de animais e entrei em contacto com o Procyon Wildlife And Rehabilitation And Education Centre. Esta organização é composta apenas por voluntários, não há ajuda nenhuma de governo ou outras agências. Tudo é à base de donativos. Tenho grande admiração pelas pessoas que dedicam o seu tempo aos animais selvagens. Temos muitos estudantes e veterinários que são voluntários.

Quais foram as motivações mais fortes para começar a fazer voluntariado?
Eu tinha tempo disponível, como o meu trabalho principal tinha reduzido. Eu queria um ambiente diferente e adoro a natureza. A maior motivação chega agora quando vejo que a minha ajuda não foi em vão. Tenho satisfação quando levo um animal que esteve doente ou ferido, para ser solto no local onde foi apanhado, com saúde. Sinto que sim, a nossa missão foi cumprida.

Quais as vantagens maiores que sente, na sua vida, na sua maneira de estar e ser, pelo facto de ser voluntário/a?
Eu tenho aprendido muito e continuo a aprender sobre os animais. No Procyon, há cursos e ajudam todos os voluntários a saber mais sobre os animais. Eu gosto também de ensinar o público e mostrar vídeos e fotos dos animais que tenho tratado. Todo o animal selvagem faz falta e é necessário para a natureza.

Como organiza o seu tempo para fazer voluntariado?
Eu tenho horários flexíveis de trabalho e vida de casa. Vou quando quero ou quando precisam. Tenho sido “Foster mom” também para vários animais órfãos na minha própria casa. Eu estou sempre “on-call” também se precisam de transporte de animais, dar medicação a horários diferentes ou se precisam de produtos para comer, eu também vou às compras para eles.

 


 

Leonardo Cruz

Qual é a sua idade e ocupação profissional?
Tenho 35 anos e sou gerente de compras.

Que tipo de voluntariado faz?
Time de Futebol de Whitby. Eu sou o Coach do time, escalo e treino os meninos para os jogos de crianças de sete-oito anos.

Quando começou a fazer voluntariado?
Desde 2018, mas este em que estou agora comecei em junho de 2021.

Quais foram as motivações mais fortes para começar a fazer voluntariado?
Ajudar crianças com algo que eu saiba e possa ensinar.

Quais as vantagens maiores que sente, na sua vida, na sua maneira de estar e ser, pelo facto de ser voluntário/a?
Não chega a ser uma vantagem, mas me sinto bem por estar ajudando alguém de algum modo.

Como organiza o seu tempo para fazer voluntariado?
Encaixo no meu tempo livre após o trabalho, durante a semana, no meu caso, todas as terças-feiras.

 


 

Adriana Legault

Qual é a sua idade e ocupação profissional?
Tenho 50 anos e sou gerente de redes sociais e stay-at-home mom.

Que tipo de voluntariado faz?
Ajuda na coleta/doações de mantimentos que são distribuídos para os moradores de rua de Toronto. Essa é uma iniciativa local da @carolandcrew_.

Quando começou a fazer voluntariado?
Esse, especificamente, comecei há dois meses. Mas já fiz voluntariado em diversas fases da minha vida, para diversas iniciativas.

Quais foram as motivações mais fortes para começar a fazer voluntariado?
Empatia, acho. Toronto tem uma população de rua enorme que precisa de acolhimento e tratamento, especialmente durante o inverno. O inverno canadense pode ser fatal para moradores de rua. É difícil não se sensibilizar.

Quais as vantagens maiores que sente, na sua vida, na sua maneira de estar e ser, pelo facto de ser voluntário/a?
A maior vantagem é saber que você está contribuindo de alguma forma para o bem da sua comunidade e sua cidade.

Como organiza o seu tempo para fazer voluntariado?
Pensamos no que vamos doar no final de semana, ou domingo, e na segunda e terça-feira fazemos as compras necessárias e entregamos no centro de coleta.

 


 

Elisa Cor

Qual é a sua idade e ocupação profissional?
Eu tenho 35 anos e atualmente sou babá.

Que tipo de voluntariado faz?
Eu trabalho em duas organizações sem fins lucrativos, sendo que ambas são voltadas ao atendimento à mulheres em situação vulnerável e de risco. Sendo a primeira com foco no resgate de autoestima, distribuindo presentes nas principais datas comemorativas, como Natal, Dia das Mulheres e Dia das Mães.
Além disso, uma vez por semana, eu faço atendimento a mulheres que sofrem violência doméstica ou vivem em um relacionamento abusivo. Lá, meu principal objetivo é ouvi-las sem julgamento, encaminhar contatos de emergências, assim como advogados, abrigos ou o que mais elas possam precisar.

Quando começou a fazer voluntariado?
Minha jornada no voluntariado começou em 2014, ainda no Brasil. Aqui no Canadá eu estou completando meu segundo ano.

Quais foram as motivações mais fortes para começar a fazer voluntariado?
Eu sempre tive um sentimento muito grande de que eu precisava fazer efetivamente alguma coisa para ajudar a vida das pessoas. Quando comecei, eu não podia ajudar financeiramente, mas o que eu podia doar era tempo. E assim eu nunca mais parei. Poder devolver o bem para comunidade que me recebeu e ajudar outras mulheres a terem novas oportunidades de recomeço é o que me move.

Quais as vantagens maiores que sente, na sua vida, na sua maneira de estar e ser, pelo facto de ser voluntário/a?
A principal mudança é perceber que o mundo é muito maior do que aquilo que a gente tem como comum e concreto. As dificuldades surgem e às vezes, você perde tudo. Lidar de perto com o sofrimento, a decepção, o medo, pode ser muito doloroso. Mas saber que eu posso fazer um pouquinho de diferença na vida de alguém, fazendo com que ela volte a ter esperança de dias melhores, faz com que eu me entregue com paixão ao voluntariado. No fim, sou eu que aprendo sobre resiliência, perseverança e coragem.

Como organiza o seu tempo para fazer voluntariado?
Para a organização que entrega presentes, eu dedico algumas horas relativas à campanha que está em vigor e de acordo com a necessidade.
Já com o atendimento e escuta, eu desenvolvo esse trabalho semanalmente, num período de quatro horas. Como esse serviço é 24 horas por dia, sete dias por semana, eu consigo me organizar para realizá-lo após a minha jornada de trabalho regular.

 


 

Tainá Da Cunha Bitar

Qual é a sua idade e ocupação profissional?
Tenho 35 anos. Trabalho na área jurídica. Aqui em Toronto trabalho como servidora pública do Tribunal Provincial de Toronto (Court’s Clerk at Provincial Offfences Court).

Que tipo de voluntariado faz?
Eu sempre gostei de estar envolvida em atividades voluntárias, algumas de forma fixa e outras com colaboração eventual.

No momento, faço dois voluntariados:
I – Sou uma das integrantes do CASA Mulher Toronto (ou Coletivo de Apoio, Sororidade, e Acolhimento), um coletivo de mulheres aqui de Toronto que procura apoiar e emancipar mulheres imigrantes falantes da língua portuguesa. Nossa atividade principal é a roda de conversa, mas já promovemos diversas temporadas de eventos como clube do livro, meditação em grupo, workshop, eventos culturais, etc. Eu faço parte da diretoria de planejamento do projeto e a faço a mediação das rodas de conversa.
II – Também ajudo um grupo de proteção animal chamado “Vira-Latas de Raça” da minha cidade natal no Brasil (Belém-Pará).

Quando começou a fazer voluntariado?
Não me recordo a idade, mas desde os 16 anos mais ou menos que participo de eventos comunitários (ex: visita a casas de repouso, arrecadação de alimentos/brinquedos/material escolar para crianças com baixa renda familiar, eventos de conscientização sobre violência de gênero ou sobre educação sexual, etc).

Quais foram as motivações mais fortes para começar a fazer voluntariado?
Qualquer assunto relacionado à discriminações e injustiças sociais sempre me despertaram, ao mesmo tempo, incômodo e interesse. Tudo aquilo que me parece errado me instiga a refletir, questionar e tentar mudar. Não é à toa que escolhi o mundo jurídico como caminho profissional. Desde muito nova eu tenho consciência da minha posição de privilégio no mundo, especialmente pela cor da pele, classe social, acesso à educação, base familiar sólida e vínculos afetivos que deram estabilidade e suporte emocional para viver bem e me emancipar como indivíduo.
Essas duas primeiras coisas me levaram a buscar informação. E quanto mais eu me informo, mais eu me entendo como parte do problema (inclusive como parte das estruturas de opressão, mesmo que sem perceber) e, por consequência, como agente que tem obrigação de promover a mudança, de ajudar outras pessoas/seres a viverem com dignidade. Acredito que, além de um sentimento de responsabilidade social, eu também tive a sorte de encontrar pessoas críticas e engajadas socialmente, que serviram de exemplo, inspiração e motivação.

Quais as vantagens maiores que sente, na sua vida, na sua maneira de estar e ser, pelo facto de ser voluntário/a?
Apesar de haver uma recompensa indescritível quando percebo que fiz/faço alguma diferença positiva na vida do outro, o sentimento maior é de responsabilidade, de estar cumprindo um propósito de deixar gentileza e esperança por onde passo. O mundo é cheio de injustiças, incertezas e crueldades, e a melhor munição pra viver e pra lutar é ter esperança. Fazer voluntariado me traz esperança (especialmente ao me conectar pessoas que também se movem pelo bem), que é também o meio e o fim em si do voluntariado: promover esperança.

Como organiza o seu tempo para fazer voluntariado?
Atualmente, para conseguir dar conta da vida pessoal e dos trabalhos (voluntário e do trabalho que paga as contas), eu procuro me organizar e estabelecer o quanto do meu tempo eu consigo doar, marco na agenda e sigo aquele compromisso como seguiria qualquer outro. Por exemplo, eu reservo uma noite/tarde por semana para as reuniões, planeamento e para os eventos mensais que fazemos pelo CASA Mulher Toronto. Para as atividades de divulgação do grupo de proteção animal, como a demanda é diária e urgente, eu costumo reservar 20 minutos diariamente, no final do dia, fazer as publicações nas redes sociais. Muitas vezes precisamos dar uma pausa por um tempo e está tudo bem. O que importa é que eu sempre volto a fazer voluntariado, cedo ou tarde, de um jeito ou de outro.

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