Saúde & Bem-estar

Saúde “poluída”

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Os estudos que se dedicam a perceber quais os danos que a poluição provoca não só na nossa saúde como também no ambiente são feitos, como sabemos há décadas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), enfartes, problemas cardíacos, cancro do pulmão, outras doenças respiratórias e até partos prematuros e baixo peso à nascença são algumas das consequências da poluição atmosférica. Mas estudos recentes vieram agora alertar para um outro efeito nocivo da poluição do ar: depressão e ansiedade.

A conclusão surge de um conjunto de investigações levadas a cabo por um grupo de cientistas da China e do Reino Unido. Depois de acompanharem, ao longo de 11 anos, 390 mil adultos residentes no Reino Unido, puderam perceber que a exposição contínua à poluição do ar, mesmo que a níveis baixos, pode resultar ou estar relacionada com casos de depressão e ansiedade.

Este estudo divulgado refere que grande parte dos poluentes são emitidos de forma regular para o ar a partir da queima de combustíveis fósseis utilizados por veículos e centrais elétricas, mas também pela atividade industrial e pelos equipamentos de construção – trocado por miúdos, pela maioria dos nossos hábitos diários.

Anteriormente já se tinham dado a conhecer outras investigações que também concluíram que a poluição do ar pode ser capaz de causar demência e outros tipos de degradação cognitiva em adultos. Já este ano um estudo publicado no Journal of the American Medical Association Psychiatry concluiu que as doenças do foro mental são uma das consequências da queima de combustíveis fósseis, ainda que atualmente não esteja claramente definida como se estabelece a relação.

OUTROS ESTUDOS

Em maio de 2022 a revista científica norte-americana The Lancet divulgou um outro estudo que afirmava que a poluição havia sido responsável por uma em cada seis mortes em todo o mundo em 2019 – o que se traduz em cerca de 9 milhões de pessoas. A baixa qualidade do ar, o consumo de água contaminada e a poluição química tóxica provocaram, segundo a mesma investigação mais óbitos do que os acidentes de trânsito, abuso de álcool, drogas e do que o HIV.

O estudo adiantava ainda que 90% destas mortes ocorreram em países de baixos ou médios rendimentos, sendo que a Índia lidera o ranking de óbitos prematuros causados pela poluição, com 2,3 milhões por ano. Estas mortes aumentaram 66% a nível mundial desde 2000, afirma ainda a investigação, com a queima de combustíveis fósseis, como o petróleo, a ser uma das principais responsáveis pelos elevados níveis de poluição.

Mas não ficamos por aqui: um outro estudo recente chegou à conclusão que a poluição do ar retira mais de dois anos à esperança média de vida global – mais uma vez, o valor supera não só o tabaco e o álcool como também o conflito e o terrorismo.

Para termos uma ideia, fazendo uma comparação, fumar tabaco pode reduzir a esperança média de vida em cerca de 1,9 anos, enquanto que consumir álcool reduz cerca de 8 meses. Já a água não potável e o mau saneamento podem levar a uma redução de 7 meses e o conflito e o terrorismo nove dias.

O relatório anual do Instituto de Política Energética da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, conhecido como Air Quality Life Index (AQLI) mostrou que apesar da pandemia provocada pela Covid-19 ter contribuído para uma desaceleração da economia global, o que é certo é que a poluição atmosférica causada por partículas – caracterizada por uma mistura de contaminantes como fumo, vapores, pós e pólens – se manteve em níveis elevados.

Em 2021 a OMS atualizou, pela primeira vez, os níveis aceitáveis de poluição atmosférica, passando de 10 microgramas por metro cúbico de ar para 5 – segundo estes novos valores de referência, cerca de 97% da população mundial vive em locais com níveis de poluição atmosférica superiores aos recomendados.

Este relatório voltou a confirmar o Sul da Ásia como a região mais poluída do mundo, com Nova Deli, a capital indiana, a ser considerada “megacidade mais poluída do mundo” pelo documento – por lá, registam-se níveis médios de poluição mais de 21 vezes superiores aos das diretrizes da OMS.

DIFERENTES ESTUDOS… O MESMO ALERTA

“Seria uma emergência global se marcianos viessem à Terra e borrifassem uma substância que levasse a pessoa comum a perder mais do que 2 anos de esperança de vida. Exceto que somos nós quem borrifa a substância e não alguns invasores do espaço sideral” – foi esta a reação de Michael Greenstone, diretor do Instituto de Política Energética de Chicago, perante a realidade com que nos deparamos.

O que é certo é que a preocupação e o alerta são comuns aos diferentes grupos de investigadores que, por todo o mundo, se dedicam a explorar e tentar perceber melhor o assunto: os líderes mundiais não estão a tomar medidas suficientes para enfrentarem o problema com a urgência que o mesmo exige.

“O facto de a poluição global se ter mantido, ou até aumentado, enquanto as economias paralisaram pelo mundo, sublinha que a poluição é um problema persistente que só pode ser resolvido por políticas fortes apoiadas por uma vontade de mudar ainda mais forte”, refere o relatório da AQLI.

A poluição atmosférica está “profundamente interligada” com as alterações climáticas, revela o relatório, portanto combater a poluição “seria matar dois coelhos com uma cajadada”, rematou Greenstone.

Inês Barbosa/MS

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