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Viver nas Trevas

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Credito: DR

 

Existe uma imensa biodiversidade na noite que escapa ao comum dos humanos, por isso existe uma ancestral fantasia com os seres da noite.

Nas histórias e mitos populares, as corujas, os mochos e os morcegos sempre estiveram no pódio das fantasias, na maior parte dos casos por temor ou repúdio. Até as borboletas noturnas são chamadas “bruxas” na linguagem popular portuguesa, raras espécies noturnas são consideradas agradáveis, talvez apenas os pirilampos pareçam fascinantes e admiráveis. Na cultura popular os seres noturnos são tidos como perigosos, misteriosos e assustadores.

A mistificação do mundo da noite dificultou durante milénios o seu conhecimento e compreensão. É necessário ter uma abordagem reacional e perceber o quão importantes são os seres da noite para o equilíbrio ecológico e harmonia dos ecossistemas.

Consideram-se espécies noturnas aquelas que desenvolvem a maior parte das suas atividades vitais durante a noite, que estão ativas durante nesse período, e descansam, dormem ou reduzem a sua atividade, durante o dia. Ao contrário do que possa parecer, para muitas espécies, viver na noite torna-se muito vantajoso. A escuridão possibilita uma série de situações favoráveis a muitos seres. 

Dois dos principais fatores que influenciam as atividades dos seres vivos são a predação e a competição. Viver na noite, é portanto, aproveitar um nicho desfasado temporalmente e com características muito diferentes do período diurno. A ausência da luz do Sol permite uma mais fácil camuflagem, seja para predadores, seja para presas. Existem muitas outras vantagens aproveitadas por espécies como os anfíbios, por exemplo, que necessitam de manter a sua pele húmida, a qual durante o dia o Sol desidrataria dificultando assim a respiração cutânea da qual dependem.

Viver nas trevas necessitou adaptação durante milhões de anos, de sentidos, de comunicação, de camuflagem, etc… 

Vejamos algumas das principais características destes seres vivos especiais: sistemas de orientação adaptados ao escuro; visão muito desenvolvida e adaptada, com mais células oculares especializadas; super olfato; super audição; ecolocalização por algo parecido com um radar, como os morcegos possuem; utilização de emissão de ruídos e vocalizações para comunicação, as corujas, por exemplo, rapam com as garras para emitir sons e comunicar ou delimitar território; adaptação dos seus corpos para evitar ruído quando se deslocam, como o voar absolutamente silencioso de uma coruja ou mocho; comunicação por emissão de luz, como os pirilampos; etc…

Vejamos agora o que a civilização humana interfere e condiciona nas vidas de espécies que demoraram milhões de anos na adaptação e especialização ao ambiente noturno…

A luminosidade artificial implementada por todo lado tem um incomensurável impacto na existência de milhões e milhões de seres… A diferença entre o dia e a noite, incluindo as alvoradas e os ocasos, são essenciais para os ciclos de vida de quase todas as espécies, a luz artificial dificulta e altera comportamentos de caça, acasalamento, reprodução, migração, etc…

Com a poluição luminosa, plantas e animais ficam confusos e os seus relógios biológicos são alterados, levando em muitos casos à morte, não só de indivíduos isolados, mas também de populações inteiras.

Deixo aqui um pequeno (grande) exemplo; muitos insetos noturnos são migratórios, usando a luz da Lua como referência para as suas deslocações, por isso se verificam grandes quantidades de mariposas que voam em círculos à volta de um lampião, para elas estão a dar sempre o mesmo lado à lua para se deslocarem para os locais de reprodução, pois… nunca lá chegarão… multipliquem as dezenas de mariposas à volta de um candeeiro por milhões e milhões de candeeiros, terão o resultado dos triliões que nunca chegarão ao destino, e as gerações seguintes que nunca acontecerão…

Afinal os seres habitantes das trevas malévolas, perigosos e assustadores, somos nós.

Paulo Gil Cardoso/MS

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