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Algarve Sem Água

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seca

 

O Algarve só tem reservas de água para 7 meses.

No final do mês de dezembro passado, calculava-se que apenas haveria água para 8 meses, as reservas de água em albufeiras estavam reduzidíssimas, sendo que, conforme relatórios da Agência Portuguesa do Ambiente, as barragens de Bravura, Odelouca, Arade e Funcho, no Barlavento; Odeleite e Beliche, no Sotavento, estavam a menos de 25% da sua capacidade. Mais de um mês depois do relatório ainda não houve uma inversão da situação, aliás, a tendência é para piorar, se a falta de chuva se mantiver, as perspetivas não são nada boas.
Os alarmes soaram em todas as áreas, desde municípios, à exploração agrícola, à hotelaria e turismo, às empresas, e à população em geral. A dependência humana do precioso líquido é absoluta. De repente, toda uma região acordou para a realidade de um cenário que é perspetivado há várias décadas. O consumo desregrado, excessivo e de desperdício, em todos os sentidos, não mais poderá continuar. Como no velho ditado português: “só se lembram de Santa Bárbara quando está a trovejar”.

Após a 18a reunião da Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca, o governo, atualmente em gestão, avançou com um plano de contingência, determinando a 18 de janeiro uma série de medidas, como se pode verificar na página oficial do Governo da República Portuguesa, Portugal.Gov.Pt

Abastecimento público

  • Redução, em 15%, do consumo urbano na região face ao ano anterior.
  • Abastecimento agrícola
  • Redução total de 25% no consumo, que compreende:
  • Redução, em 50%, do volume titulado para rega no perímetro hidroagrícola do Sotavento (a redução na captação superficial vai ser compensada pela reativação de furos em zonas em que os aquíferos não estejam em situação crítica e também pela Água para Reutilização);
  • Redução, em cerca de 40%, do volume utilizado para rega a partir da albufeira do Funcho face à campanha de rega homóloga;
  • Redução, em 15%, da captação de água subterrânea para rega.
  • Turismo
  • Redução, em 15%, do consumo nos empreendimentos turísticos;
  • Redução, em 15%, da captação de água subterrânea.

Além destas medidas estão em curso outras, de caráter estrutural:

  • Construção de uma dessalinizadora em Albufeira, com capacidade para tratar 16hm3/ano e que pode atingir 24hm3/ano numa segunda fase, atualmente em procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental;
  • Aumento das afluências à barragem de Odeleite através da captação do Pomarão, que vai trazer mais 30 hm3.
  • Atualmente em procedimento de Avaliação de Impacte Ambiental;
  • Aumento da capacidade útil da barragem de Odelouca através da descida do nível de captação, atualmente em curso;
  • Reforço da interligação do sistema de abastecimento público do Barlavento/Sotavento, atualmente em curso;
    Aumento da disponibilização de Água para Reutilização para a rega de campos de golfe e agrícola;
  • Redução de perdas no setor urbano;
  • Redução de perdas no setor agrícola nos perímetros hidroagrícolas.”

O problema em si, somado das medidas adotadas, é motivador de stress e desequilibrador da paz social, mas no presente momento não existem alternativas a um plano de contingência, porém, nunca será tarde para desenvolver soluções estruturais a médio e longo prazo, e fazer aquilo que já deveria ter sido feito há mais de 30 anos. Recordo-me de ler um artigo em 1990 onde se referia que os aquíferos subterrâneos algarvios estavam a sofrer demasiada pressão e que em poucas décadas haveria problemas de abastecimento de água às populações. Nessa altura ainda não se faziam sentir de forma evidente as atuais alterações climáticas, houve, no entanto, ao longo destes 30 anos, inúmeros alertas da comunidade científica para o que se avizinhava. E que fizemos?

Permito-me citar Maria José Roxo, especialista em desertificação e mudanças climáticas, em entrevista pela Fundação Francisco Manuel dos Santos:

“Este é um cenário conhecido de muitos portugueses desde Trás-os-Montes, Beiras e Alentejo, já em vários anos. Não é uma situação nova. É sim, uma situação lamentável, resultante do facto de nunca se terem tomado as medidas estruturais necessárias para prevenção da situação atual, apesar dos estudos científicos sobre os efeitos da mudança climática no país e das sucessivas secas que têm ocorrido com mais frequência desde 2000 até hoje.”

Paulo Gil Cardoso/MS

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