Em Queda Livre

A instabilidade climatérica é uma realidade, os dois primeiros meses deste ano foram caóticos.
O mês de janeiro de 2024 foi o mais quente de sempre no mundo (desde que existem registos, ou seja desde o ano 1850). Em Portugal, “foi o 3º janeiro mais quente desde 1931 e o mais quente dos últimos 58 anos. O valor médio da temperatura média do ar, 11.25°C, foi +2.37°C superior ao valor normal 1981-2010.”, conforme se pode ler no Boletim do Clima do IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera), relativo a janeiro de 2024. Os termómetros em Aljezur atingiram os 26,3ºC no dia 25 de janeiro.

No entanto, de repente, as temperaturas caíram a pique durante esta última semana, e as causas projetadas devem-nos deixar bastante preocupados, o Vortex Polar e a Corrente-Jato Polar desceram a latitudes muito baixas. Os especialistas têm vindo a avisar para a previsão de baixas temperaturas fora de época, nomeadamente para o mês de março.

Os dados recolhidos por satélites meteorológicos revelam que as temperaturas na alta atmosfera sobre o Polo Norte estão muito elevadas, sendo que se registaram valores de mais 20ºC do que o padrão comum, estas temperaturas elevadas forçam o Vortex Polar e a Corrente-Jato Polar a deslocarem-se mais para Sul, trazendo ar frio a latitudes mais baixas.

Durante esta semana a Corrente-Jato Polar foi responsável por alteração do tempo de voo de diversos aviões que viajavam sobre o Oceano Atlântico, alguns fazendo a travessia do oceano em menos 50 minutos e havendo também casos de alguma turbulência que poderiam ter posto em risco as aeronaves. Conforme informação veiculada por vários órgãos da comunicação social os voos 22 da Virgin Atlantic Airways, 292 da British Airways, 216 da British Airways, 64 da United Airlines e 120 da American Airlines, passaram dos 1.000 km/h e chegaram antes do previsto aos seus destinos. A velocidade de um avião comercial ronda os 925Km/h, houve porém aeronaves a atingir os 1.300Km/h. O voo 106 da American Airlines de JFK para Heathrow chegou 54 minutos mais cedo na manhã de quarta-feira tendo atingido a velocidade de 1252 km/h. As aeronaves atingiram velocidades relativas equivalentes à velocidade do som.

Não é só a atmosfera que tem os seus fluxos, pressões, depressões e temperaturas desreguladas, os oceanos padecem das mesmas alterações. Quando pensamos em clima e no estado do tempo, apenas raramente os relacionamos com o mar, nada mais incauto, atmosfera e oceano são interativos e mutuamente dependentes, são peças do mesmo puzzle que é o clima. Também nos mares as evidências de desregulação são preocupantes. Estudos recentemente publicados demonstram as enormes alterações de correntes oceânicas e de como estas influenciam as alterações climáticas que presenciamos.

Estudo publicado no início de fevereiro na revista Science refere evidências de que estamos à beira de uma drástica alteração das correntes oceânicas e que isso provocará o caos climático, o ponto de não retorno está assustadoramente próximo. As projeções são de aumento de situações climáticas extremas, haverá secas e temperaturas muito elevadas nalguns locais, pluviosidade excessiva noutras, frio extremo noutras, ventos muito mais fortes, tempestades e ondas mais violentas.

Dificilmente poderemos reverter o agravamento de todas as alterações que já se fazem sentir, adivinham-se tempos complicados para a humanidade, para o planeta, e toda a vida nele existente, enquanto isso digladiamo-nos em guerras fratricidas, investimos triliões em armamento, olhamos para o lado e continuamos o nosso estúpido caminho, ignorando que estamos em queda livre sem para-quedas, o impacto será trágico.

Paulo Gil Cardoso/MS