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Associativismo cultural, qual a esperança e dificuldades para o futuro

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Há um excesso de casas a fazer a mesma coisa, culturalmente falando no fim é tudo do mesmo e o impacto qualitativo é negativo. Tudo passa pela foto de quem lidera as mesmas, nada mais. Devido à pandemia de covid-19, as atividades estão paralisadas desde março e os prejuízos são elevados, mas engraçado… todos mostram uma economia saudável. Qual será a razão pela qual não admitem e dizem as verdades?

Muitas das vezes até me dá a vontade de rir quando penso em certas conversas que tinha, num passado bem recente, com alguns dirigentes que se foram confrontando com a minha pessoa. Como todos sabem presidi um clube, onde a minha maior preocupação era angariar patrocínios para que cobrissem as despesas e algum restasse em carteira para uma eventual crise, por exemplo, como agora está a acontecer. Na altura, ao mesmo tempo, ouvia certos indivíduos e diretores dizer que não fazia sentido ter lucros porque o clube era para servir e não precisava de fundos. Engraçado que hoje alguns desses intelectuais estão a gerir esse clube, sim esses que diziam que não faziam falta lucros. Sempre souberam gastar o que não tinham e dar atenção a quem não merecia a troco de um saco de chouriços, nunca souberam agradecer aos bons patrocinadores. Enfim, é triste quando não se tem uma visão empresarial para poder ser um bom gestor numa associação cultural. Ao mesmo tempo vê-se os novos diretores a mentir com a boca toda quando dizem que as contas estão controladas, como se todos fossemos analfabetos.

Vejamos então – um clube que paga uma renda, mesmo pelo baixo, tem de ter receitas para poder suportar as despesas fixas, ou a pouco e pouco lá vai o que se amealhou. Se todos tiverem uma noção dos gastos nas nossas casas, podem transportar isso para um clube, as receitas têm sido negativas e as despesas fixas são sempre as mesmas, de onde vem o respetivo para se pagar? E agora pergunto, quanto tempo vai durar isto? Como sabemos, pelo menos até 31 de dezembro nada vai acontecer. Onde vão alguns dos clubes arranjar dinheiro para as despesas? Boa pergunta, muitos devem dizer “o problema é nosso”. Eu acho que muitos andam no mundo enganado ou à procura de uma placa de reconhecimento (risos). Abram os olhos, sejam realistas e parem de atirar areia para os olhos do povo. É nesta altura que todos temos que refletir sobre o estado e o futuro das nossas coletividades que sempre desempenharam um papel importantíssimo na representação das suas regiões de onde são naturais. Nem todos merecem respeito e alguns nem da região são e pouco conhecimento têm, mas respeitemos a divulgação do nome de cada região que representam. Estou a falar de clubes e associações culturais, de bandas filarmónicas, grupos desportivos, que sobrevivem diariamente das cotizações dos seus sócios – agora digam-me quantos sócios pagantes tem cada clube e será que é suficiente para as despesas fixas? Humm… dois mais dois são quatro, mas dois e dois não é a mesma coisa. As suas atividades anuais foram canceladas pelo governo local, até a própria exploração dos bares nas suas unidades, os subsídios e apoios das empresas e dos seus planos de atividade não aparecem por falta de atividades. Digam a verdade – onde vão ter dinheiro para todas as despesas? Muitos vão acabar por fechar as portas, a pouco e pouco vão admitir o fracasso.

Face à pandemia que nos assolou, estas coletividades passam hoje por uma situação financeira muito delicada, pondo em risco nalguns casos, face à ausência de receitas para fazer face às suas despesas, a continuação de algumas valências. Temos que reformular urgentemente o plano de financiamento destas coletividades, fazendo uma análise do impacto das mesmas na sociedade local, das atividades desenvolvidas durante todos estes anos, da sua história e da contribuição para a estabilidade social e educativa da nossa comunidade. Nesta altura difícil, social e financeiramente instável, deve-se olhar rapidamente para estas coletividades, fazer uma análise da situação atual e criar uma forma de manutenção da atividade das mesmas para que se garanta a sua continuidade dentro de condições dignas e de segurança económica para com os seus utilizadores e população em geral. E qual será a forma para salvaguardar tudo isto? Eu adoro fazer perguntas deste tipo quando sei que muitos líderes vão ficar furiosos com isto, porque a visão é mesmo negativa e sem futuro, mais vale admitir e largar porque enganar outros já não funciona. A comunidade deveria tomar a iniciativa de rapidamente reunir as suas coletividades, tomar conhecimento dos seus problemas, as suas preocupações por forma a evitarmos situações de degradação sociocultural que se refletirá num futuro muito próximo numa desorganização social e de instabilidade em alguns dos clubes da nossa comunidade.

Qual a melhor solução para isto? Mais uma pergunta que vai deixar muitos a trincar os lábios (risos). Casa de Portugal na minha opinião será a solução mais valiosa e produtiva. Nesse mesmo espaço pode-se ter tudo, bastam cinco regiões do continente – Norte, Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve mais as duas ilhas: Açores e Madeira -, com a sua cultura, artesanato e gastronomia. Devia haver uma gestão financeira que controlasse todas as despesas e se encarregasse da angariação de fundos para as festividades de cada região. Cada região, (as cinco mais duas), teria uma direção cultural individual, que seria responsável pela organização dos eventos culturais e gastronómicos com qualidade exigida e referentes a cada região, não havendo misturas como aconteceu no passado pelo facto de se conseguir mais adesão. 

Meus caros amigos, só assim se vai conseguir sobreviver e não venham atirar areia aos olhos do povo porque empresas a patrocinar festinhas como no passado acabou. Ou se tem qualidade em grande ou então muito rápido se vai sentir um fracasso. É a altura de se unir forças e trabalhar em prol da Casa de Portugal para o bem da nossa cultura e de todos.

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Se tudo for bem organizado e com apresentação de um projeto com objetivos qualitativos o Governo português tem o dever de ajudar para a continuidade da adesão da juventude no meio cultural. Se assim não for, em pouco tempo vamos perder muito. É muito fácil, hoje as novas tecnologias retiram muitos do espaço cultural, já não há necessidade de ir, como no passado, ou se faz algo diferente ou perdemos tudo.

Tenho pena, o espaço de opinião é pouco, mas mais oportunidades de opinar sobre este tema vão haver e que ninguém se chateie porque melhores dias não vêm. Ou damos as mãos e unimos forças ou deitamos tudo por água abaixo. Deixem-se de protagonismo e de vaidades e trabalhem em prol da cultura qualitativa.

Desculpem a minha opinião, mas vale o que vale, sou direto e não ando à procura de placas, essas existem de sinalética nas ruas, gosto sim de coisas com qualidade e verdadeiras.   

Augusto Bandeira/MS

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