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“Agora é muitas compras, muita comida. É diferente.” – Maria Brasil

Jose e (urbana) Maria Brasil

 

Maria Brasil veio para o Canadá no ano em que casou. “Mas eu casei atrasada (risos). Já tinha 28 anos. O meu marido já estava aqui há cinco anos. Veio novo, quando saiu da tropa e depois, na altura, foi lá casar (a Portugal, ilha Terceira) e depois já veio comigo. Eu vinha satisfeita e animada para principiar a minha vida”.

É sempre difícil sair do conforto da nossa terra para um país distante e com uma cultura diferente. Maria Brasil explica que naquela altura tudo se tornava ainda mais estranho – “estranhei porque, naquela altura, na Terceira a gente nem tinha a possibilidade de ver programas de televisão. Não era como agora. Já tínhamos uma televisão, sim, mas era só um canal da RTP, não era para ver assim as coisas que a televisão agora mostra.

E então o Canadá era meio imaginário, só o “conhecia” através das fotografias que as famílias mandavam, mas eu estranhei. Achei tudo muito grande, mas eu gostei, encarei assim bem, eu gostei”. A chegada aconteceu exatamente um mês antes do Natal e essa quadra acabou por se tornar difícil de passar: “fiquei mais triste por causa dos meus pais, que não tenho irmãos nem irmãs, e os meus pais ficaram os dois sozinhos. O Natal era passado assim, nós os três. Não fazíamos grandes festejos, mas íamos juntos à Missa do Galo. Nunca tive um Natal assim a festejar com família. Os meus pais tinham muitos irmãos, mas cada um ficava na sua freguesia a fazer as coisas. Eu não tinha assim, só o que tinha lá era a Missa do Galo, era o sapatinho, as comidas tradicionais. Mas jantares com famílias não. Quando cheguei cá fui muito bem recebida pelas minhas cunhadas. Tinha duas cunhadas que eram mulheres dos irmãos do meu marido. E então elas convidaram-nos para passar o Natal com eles. Eu achei bonito, eles tinham crianças. Era tudo novidade, mas sabe, a minha casa lá na Terceira era muito perto da Base das Lajes e tínhamos lá americanos há muito tempo e os americanos davam muito valor ao Natal. Eu não ia para casa deles, mas havia o ambiente nas casas, nas árvores, nas luzes dos carros. As pessoas chamavam à Terceira, uma América pequenina, porque a gente ouvia falar assim das coisas todas que a América tinha. E víamos porque eles viviam ali, à volta da minha casa, nas casas que estavam arrendadas pela Base das Lajes. Quer dizer, não foi assim um choque que senti quando cheguei e apreciei. Eu gostei. Aqui era assim bonito, não é? As músicas de Natal, as luzes, as árvores …”. Mas Maria Brasil não tem dúvidas: o Natal hoje é diferente – ”a diferença é o que toda a gente diz. Agora é muitas compras, muita comida. É diferente. Agora é mesmo uma loucura. Estamos a perder muito assim a essência do Natal. Sabe eu até ia a dizer que no ano em que cheguei e fomos para casa das minhas cunhadas, quando acabámos, eu e o meu marido fomos à Missa do Galo, até foi ali na Igreja Santa Cruz. Cumprimos aquilo que era tradição na minha família. E eu vinha com aquela ideia do Menino Jesus e a Missa do Galo, aquilo que era tradição na minha terra natal. O meu marido já estava aqui há cinco anos e estava com os irmãos também. Ele tem muita tradição da Igreja, e gostou de ir à Missa do Galo. Então aquilo assim deu-me uma animação porque sabia que os meus pais iam à Missa do Galo. Eu pensei na minha freguesia, nas pessoas com quem fui criada. Aquilo confortou-me”.

A pandemia, no entender de Maria Brasil, afetou muito os mais velhos porque não podiam estar com a família, principalmente em tempo de Natal – “eu acho que as pessoas mais velhas como eu, nós ficámos mais afetados. Sem ir para casa dos filhos e sem os netos, sentimos muito. Talvez eu esteja a dizer uma coisa tola ou exagerada, mas aquela separação das famílias a mim fez muito mal, pois senti-me triste. Agora voltou tudo ao normal.

spero que assim continue. Mas sabe, eu não acho que tenhamos aprendido a lição e que tudo o que passámos tenha dado muito resultado. Quer dizer, que a pandemia tenha mudado as pessoas. Lembro-me que se dizia muito que as pessoas iam mudar, que tinham aprendido a viver mais pobres, mais conformados, mas as pessoas estão outra vez na loucura, igual na minha ideia. A gente ouve muita gente dizer que agora a gente pensa mais uns nos outros, mas na prática não acho”.

Madalena Balça/MS

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