Augusto Bandeira

Já não há Natal como antigamente

natal - milenio stadium

 

Os valores perderam-se com a entrada das novas tecnologias.
Hoje o Natal é um negócio e uma forma de agradecer, já não há Natal como antigamente.
Nada do que era hoje se pode comparar, nem na ceia de Natal: no passado esperava-se pela noite de consoada para se comer uma boa posta de bacalhau, hoje quase se pode contar com os dedos das mãos os que celebram a verdadeira noite de Natal como nos ensinaram. Era a forma que se celebrava a noite de consoada, na véspera tudo se preparava para essa linda noite, era muito diferente das outras e começava pela mesa. Havia o orgulho de se fazer diferente, os valores eram outros, pensava-se e agradecia-se a Deus o que tudo se tinha conseguido durante o ano e até nas casas com poucas possibilidades havia uma boa posta de bacalhau, um bom azeite para regar as batatas que, até essas, tinham outro sabor. As mesas eram grandes, alegria de estar com a família era muita, falava-se e havia conversa, hoje há a tristeza dos telemóveis a entreter as pessoas – assim se começam a perder os valores familiares, perde-se o respeito e o valor da noite. Há décadas atrás não se falava em Pai Natal, durante o jantar falava-se no menino Jesus: era a alegria e o cuidado que havia em ter um sapato limpo para colocar em cima da lareira para o menino Jesus encher de chocolates – apesar de na maioria das vezes não haver chocolates -, mas nunca se deixava um sapato vazio, havia sempre umas nozes, castanhas, figos secos e, claro, pelo menos um chocolate. A alegria de manhã era tanta porque o menino Jesus não se tinha esquecido de ali passar e deixar algo, hoje fazem-se listas de prendas, na mesa não se fala, olha-se para o telemóvel, as prendas são uma competição a ver quem dá ou recebe as melhores – isto não é Natal meus caros leitores. Os valores perderam-se todos, o respeito e a educação já não existem.
Há décadas atrás o presépio só se fazia nas igrejas, havia uma correria para se ir ver o presépio, coisas bonitas e com valor, hoje em muitas igrejas nem presépio se faz, não se pode sujar as igrejas porque não há quem faça a limpeza depois da época de Natal. Com o passar do tempo passou-se a fazer em algumas casas, mais nas casas de grandes famílias e com muita agricultura. Na casa dos meus avós maternos perdia-se uma tarde para ir ao pinhal escolher um pinheiro e apanhar o musgo, depois era um domingo com casa cheia para se fazer o presépio. As famílias esperavam por esse dia, hoje faz falta convidar e quase pedir por favor, e muitos agradecem que não sejam visitados. Até na família se perderam todos os valores, agora é mais uma competição para ver quem tem mais telhados ou uma relva mais verde, as pessoas esqueceram-se que o verdadeiro espírito e valores do Natal têm sentimentos, têm amor e compaixão, e isto ainda se vê na solidariedade e na simplicidade das pessoas.
O Natal não são as luzes coloridas, os brilhos e enfeites, ou até as grandes prendas. O Natal não é nada disso, o Natal é no interior de cada um.
Hoje tenho mais saudades do Natal de antigamente – o Natal de hoje é bonito mas nada do que era. Eu lembro-me de quando cá cheguei, tinha 16 anos, na altura adorei tantas luzes, as pessoas já nessa altura se preocupavam com a compra de prendas. Eu não estava habituado a ver um Natal assim, como cheguei no final do verão o tempo era pouco para estar preparado para uma diferença tão grande. Em Portugal ainda se colocava o sapato na lareira, hoje nada é como era antigamente e com tendência a piorar. Eu no meio de tanta novidade fui acolhido como um rei em casa de amigos, para mim foram mais que família, não faltou a tradicional ceia de Natal e lembro-me da primeira prenda que recebi – foi diferente daquilo a que estava habituado. Nesse ano não ofereci nada, não estava preparado, mas lembro-me como se fosse hoje que no ano seguinte andei o ano a juntar dinheiro para comprar e retribuir dentro das possibilidades.
Agora é tudo mais sofisticado, muitas pessoas só pensam em distribuir presentes, em muitas casas começam à meia-noite e dura horas na entrega de presentes, dependendo do número de elementos na família. Nem a pandemia os pára, nas lojas é uma correria até ao último dia na procura de prendas. Estas e outras coisas são o início do esmorecer do espírito natalício, as pessoas cada vez se ligam menos ao Natal. Já não há força, a pouco e pouco tudo vai acabar e o mais triste é que já se confecionam pratos diferentes para os que dizem não gostar de bacalhau. Assim começa o Natal a perder o que era.
Desejo a todos os leitores um santo e feliz Natal e que o menino Jesus nos traga paz, alegria e muita saúde a todos. Que as tradições nunca acabem.
Bom fim de semana e feliz Natal.

Augusto Bandeira/MS

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