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Arnaldo Trindade, Histórico Editor de Música, morreu aos 89 Anos

 

Conheci o Arnaldo. Se a música fosse uma pessoa seria este ser culto. Aprendi uma coisa com ele. “Quando ouvires uma melodia e ela te cria pele de galinha, a música é boa e o autor fez bem o seu trabalho”. O cenário musical português está de luto com a morte do lendário editor Arnaldo Trindade, fundador da icônica editora Orfeu, aos 89 anos.

A triste notícia foi anunciada pela família, sem grandes detalhes sobre as circunstâncias da sua partida. Arnaldo Trindade deixou uma marca gigante na história da música portuguesa, contribuindo de maneira significativa para a divulgação e preservação da riqueza artística do país.

Nascido em 21 de setembro de 1934, no Porto, Arnaldo Manuel de Albuquerque Trindade cresceu no seio de uma família da burguesia comercial. Frequentou o Liceu Alexandre Herculano na sua cidade natal, mas aos 19 anos, após a morte do pai, optou por seguir a tradição familiar em vez de continuar os estudos acadêmicos.
As viagens de Trindade por países como Inglaterra, França e Estados Unidos da América deram-lhe uma visão crítica da necessidade de evolução em Portugal durante a ditadura do Estado Novo. Essa visão e conhecimento moldou as suas escolhas, levando-o a dedicar-se à música e por vezes até andar no limite da repressão da PIDE. A fundação da editora Orfeu, foi o ponto de partida e marcou o início de uma carreira que teria muitas realizações notáveis. Arnaldo Trindade não apenas contribuiu para a cena musical portuguesa, mas também desafiou tudo e todos ao comprar a Rádio Triunfo. Sob a sua liderança, a Orfeu tornou-se um espaço de liberdade criativa.Convidou poetas e escritores, como Miguel Torga, José Régio, Sophia de Mello Breyner, Eugénio de Andrade, Daniel Filipe e Aquilino Ribeiro, a gravarem os seus trabalhos. A Orfeu foi um palco para a produção do melhor da música portuguesa entre as décadas de 50 e 80. Desafiando sempre as circunstâncias políticas da época, Trindade lançou obras importantes de artistas como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Sérgio Godinho, Fausto, Vitorino e Fanhais. As Suas produções, em colaboração com José Mário Branco e José Niza, tornaram-se marcos incontornáveis na história musical do país. Em reconhecimento à sua contribuição única na música e da cultura de um povo, Arnaldo Trindade foi agraciado com a medalha de mérito pela Câmara Municipal do Porto em 2012.

Esse reconhecimento foi quase uma recompensa pelo impacto que o seu trabalho teve na promoção e enriquecimento da cultura musical portuguesa. José Afonso, uma das figuras mais emblemáticas da música portuguesa, teve a sua carreira aliada sempre pela parceria com Trindade na Orfeu. Mesmo com divergências ideológicas, Trindade reconheceu o talento único de Afonso e gravou álbuns que se tornaram clássicos históricos , como “Cantigas do Maio” e “Venham mais cinco”. Arnaldo Trindade deixa um legado incomparável, repleto de conquistas notáveis que vão continuar a inspirar gerações futuras.

O seu amor pela música, coragem diante das autoridades políticas e a promoção de artistas, marcaram uma era na música portuguesa. Na despedida deste grande Sr, o país chora a perda de um ícone, mas celebra o tesouro e a contribuição que Arnaldo Trindade deu à cultura de Portugal. Que sua memória perdura como uma melodia eterna. Pessoas como eu guardam religiosamente os discos da Orfeu.

Paulo Perdiz

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