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“Não vendam a nossa casa”

 

Em meados de 1995, o Coliseu do Porto, ícone cultural e arquitetônico da cidade, viu-se envolto em uma ameaça que ecoava pelos quatro cantos do Porto, despertando a atenção e a indignação de uma comunidade. Rumores alarmantes sugeriam que o imponente edifício estava prestes a ser vendido à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), gerando uma apreensão na população.

A notícia da possível venda desencadeou uma resposta imediata por parte dos habitantes da cidade. Uma onda de solidariedade surgiu, unindo artistas, agentes culturais, cidadãos comuns e empresas num movimento vigoroso e decidido. Era a voz de uma comunidade que se levantava para proteger um pedaço de história, da sua cultura e uma parte fundamental da sua identidade: o Coliseu do Porto. Diante disso, a Associação dos Amigos do Coliseu do Porto nasceu como bastião da resistência, liderada pelo incansável José António Barros.

Essa organização tornou-se a voz coletiva dos que se recusaram a permitir que uma instituição tão emblemática fosse vendida para interesses alheios. Sob a liderança dedicada de Barros, a associação consolidou uma frente unida, promovendo campanhas, mobilizando recursos e sensibilizando a opinião pública. A mensagem era clara e alta: “Não vendam a nossa casa!” O Coliseu do Porto não era apenas um espaço de espetáculos, mas um símbolo com a alma da cidade, um testemunho vivo da sua rica história e diversidade cultural. A batalha pela preservação do Coliseu passou à esfera local, transformando-se numa luta pela preservação da identidade de uma comunidade que se orgulhava das suas raízes. O ponto quente dessa batalha aconteceu no dia 2 de agosto de 1996, quando a escritura de compra e venda foi assinada e negociada por 680 mil contos. Contudo, em 28 de setembro do mesmo ano, um incêndio devastador consumiu a caixa de palco e causou danos irreparáveis na sala principal e camarins.

 

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O Portugal Fashion, evento que antecedeu a tragédia com a participação da super modelo Claudia Schiffer, tornou a destruição ainda mais impactante. A resposta, entretanto, foi um testemunho da resistência e solidariedade que ficaram marcadas na história do Coliseu. Com um grande esforço e com muita união, a solidariedade apareceu, e a comunidade mobilizou-se rapidamente para a reabilitação do Coliseu. As obras avançaram com determinação e a todo o gás, e em 12 de dezembro, o Coliseu reabriu suas portas, possibilitando a todos ver a tradição do Circo de Natal, que ganhou um significado ainda maior após a superação de todas as dificuldades. De 1997 a 2001, houve a modernização e reconstrução do Coliseu.

A requalificação era imperativa, exigindo a atualização de todos os equipamentos técnicos e um novo projeto cênico que fosse ao encontro de todos os padrões artísticos contemporâneos. As obras, complexas e desafiadoras, foram concluídas em 1998, ano que fica marcado pela reabertura com a produção de “Carmen”, de Bizet, uma co-produção do Círculo Portuense de Ópera e da Orquestra Nacional do Porto. Este evento não só provou que o Coliseu estava vivo, mas também reafirmava o seu papel central na promoção das artes e da cultura. Uma intervenção em 1999 trouxe uma obra notável: a maior pista de circo da Europa, com 13 metros de diâmetro, instalada sobre uma placa elevatória hidráulica. Este feito colocou o Coliseu, como um espaço versátil para diferentes formas de entretenimento, mas também atraiu atenção internacional, levando a sua reputação a todo o mundo. O Coliseu do Porto, com sua história marcada por desafios e superações, à muito que passou a função original de mero local de espetáculos.

Tornou-se um símbolo de resiliência e união entre os Amigos do Coliseu. O espírito comunitário que surgiu da adversidade não apenas preservou um patrimônio valioso, mas também inspirou gerações futuras a abraçar a importância de proteger a cultura que molda a identidade das pessoas e de uma cidade. O Coliseu é do Porto. É o orgulho e o coração da cidade- permanece de pé com o passar do tempo e a sua torre continua a irradiar a sua luz não apenas nos dias dos grandiosos espetáculos, mas também como um farol e guia ao longe para quem visita a cidade. O Coliseu é sinónimo de determinação de uma comunidade que se uniu em momentos cruciais para proteger sua joia cultural. “Não vendam a nossa casa” ainda hoje se ouve por toda a cidade, consolidando a determinação que ficou de uma comunidade ao defender o que é seu.

Paulo Perdiz

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