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O caminho de Rui Pato entre a música e a medicina

 

No longínquo ano de 1962, aos 16 anos, o jovem Rui Pato fez a sua estreia musical ao lado de José Afonso, um dos ícones da música portuguesa. Esse momento marcou o início de tudo, Rui Pato não só contribuiu para o trabalho de José Afonso em álbuns icônicos como “Cantares do Andarilho” e “Cantigas do Maio”, mas também colaborou com outros nomes proeminentes de Coimbra, como Adriano Correia de Oliveira, Luiz Goes e Fernando Machado Soares. Rui Pato em 1970, foi proibido pelas forças ditatoriais de viajar para Londres, onde ia acompanhar José Afonso na gravação do álbum “Traz Outro Amigo Também”. A proibição foi uma resposta à participação de Pato na greve aos exames durante a crise académica de 1969, em Coimbra. Além de sua contribuição para a música, Rui Melo Pato é reconhecido por sua carreira como médico pneumologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, onde chegou a ocupar cargos de chefia. A sua dedicação tanto à medicina quanto à música demonstra o compromisso de uma vida dedicada ao serviço e à arte.

Num cenário urbano da cidade de Coimbra, esperava pela nossa equipa, um homem que mexeu com a ditadura e ajudou a criar a liberdade. O Dr. Rui Pato, abriu as portas do seu sótão, um refúgio secreto onde as melodias da história de Portugal ganharam ali vida.Entre pilhas de papéis amarelados do tempo, fotos e instrumentos antigos, estávamos em terreno sagrado onde nasceram obras-primas musicais que vão ser tocadas para todo o sempre. Raridades fotográficas enfeitam as paredes, testemunhas silenciosas dos tempos em que a música erguia a voz como protesto. Neste sótão de memórias, encontramos os rostos daqueles que usaram a música como uma arma de resistência, uma ponte entre passado e presente, entre lágrimas e sorrisos, entre a saudade e a esperança. Nas mãos habilidosas do Dr. Rui Pato, o passado é muitas vezes contado em notas musicais.

Histórias que se ligam muito com as ruas da cidade e da torre da Universidade. A nossa equipa teve um privilégio raro, uma viagem no tempo guiada por um homem, que soube muitos dos segredos escondidos sob os telhados de Coimbra. Rui Pato é um nome grande e respeitado dentro da música portuguesa como um dos grandes ícones da sua geração. Conhecido principalmente como amigo e guitarrista de Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira, a sua vida vai muito além disso.

Numa entrevista exclusiva, que poderá ver na Camões tv, Dr Rui Pato fala da sua vida, desde os dias de estudante de medicina até à rebeldia estudantil e a música de Coimbra. A conversa começa com uma reflexão sobre o seu percurso: “Por vezes pergunto a mim mesmo como é que eu consegui? As pessoas conhecem-me muito como companheiro e músico do Zeca Afonso e do Adriano Correia de Oliveira. Eu também tocava na Tuna e fazia música para o teatro dos estudantes.”

Com muitas lembranças da sua vida e rotina enquanto estudante de medicina, destaca que, apesar de ter sido expulso da universidade por questões políticas e ter ido para o serviço militar, conseguiu conciliar as suas atividades artísticas com os estudos, sem nunca reprovar. “Consegui fazer o meu curso simultaneamente com toda a minha atividade artística”, disse com orgulho. Relembrando os seus anos de sua juventude, Rui Pato partilha memórias preciosas sobre os primeiros passos na música em Coimbra. “Consegui conciliar isso para aí em 1959, 60, com um grupo de meninos do Liceu… um grupo de rapazes que formou um grupo de fados no Hospital do Liceu.” Entrou na universidade em 1965 que coincidiu com um momento efervescente na cena musical de Coimbra, influenciada pela música de protesto e pelos movimentos políticos da época. “Eu já tinha uma grande rodagem na música… vinha de um caldo de cultura de gente de esquerda, da oposição, das tertúlias que se reuniam em casa”, relembra.

A contribuição de Rui Pato para o nascimento da canção de protesto em Portugal é inegável. “Eu colaborei no nascimento da canção de protesto portuguesa”, afirma com orgulho. Destaca a importância de figuras como Zeca Afonso e Manuel Alegre nesse movimento, mesmo tendo as suas personalidades e motivações muito distintas. Sobre sua parceria que lhe deu mais palco e com Zeca Afonso, Rui Pato revelou-nos uma história sobre os primórdios da sua colaboração. “Quando o conheci, já era um homem formado… com muitas dificuldades na vida”, recorda. Nota se no seu rosto a recordação e saudade de uma tarde na Brasileira em Coimbra, onde teve a oportunidade de acompanhar e compor com Zeca Afonso em suas primeiras canções. A conversa estende-se. Falamos dos desafios enfrentados durante o regime do Estado Novo e a censura imposta às obras artísticas. Rui Pato fala da sua experiência de driblar os senhores da PIDE e adaptar-se às mudanças políticas, especialmente após o 25 de Abril de 1974. Além de sua contribuição para a música, Rui Pato também é conhecido pela sua excelente carreira na medicina, destacando mesmo a importância de figuras como Arnaldo Trindade, que o apoiou financeiramente durante períodos difíceis.

Concluindo a entrevista com gratidão pelas homenagens recebidas ao longo dos anos, Rui Pato reflete sobre uma vida única e o privilégio de ter participado ativamente em momentos históricos tanto na música quanto na sociedade portuguesa. A história de Rui Pato é verdadeiramente inspiradora, um testemunho do poder que a arte tem diante das adversidades. Saímos daquele sótão contagiados com cada nota, com cada imagem..uma verdadeira experiência de vida.

A história ganhou vida através da música e do espírito de um homem determinado.

Paulo Perdiz

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