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Um sonho: Uma família

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A vida dá muitas voltas e, por vezes, os caminhos, por mais sinuosos que se apresentem em determinados períodos, levam-nos para a direção certa e tudo o que se viveu acaba por valorizar o que se conquista mais tarde. Esta reflexão surgiu-me depois de conversar com Telma Mendes, hoje uma mulher feliz, mas marcada por uma infância e adolescência sofridas. Mãe de dois filhos, vive hoje tudo com que sempre sonhou – junto com o seu companheiro, construiu uma família.

Os filhos comuns juntaram-se às duas filhas de Hélder e com paciência e inteligência emocional foi possível atingir um ponto de paz e harmonia. E o mais importante é que esta mulher conseguiu encontrar o caminho para ter o que nunca teve – uma sólida estrutura familiar assente em pilares de amor verdadeiro e união. De tal modo assim é que chega a emocionar-se antes de falar sobre o que mais se orgulha quando olha para a sua vida e, sabendo de onde veio, percebe onde conseguiu chegar. Há pessoas muito bonitas por fora e por dentro e a Telma é, sem dúvida, uma delas.

Milénio Stadium: Como é que defines família?
Telma Mendes: Amor verdadeiro. Sem dúvida! E mais sincero, penso eu. Se não houver na família amor verdadeiro e sincero, então não há em lado nenhum. Para mim é aquilo que eu sempre quis ter: uma família unida, que foi o que eu nunca tive na minha infância. E para mim sempre foi muito importante ter mãe, pai e filhos juntos. A coisa mais importante.

MS: Portanto, a tua infância não foi, nesse aspeto, uma infância muito “normal”.
TM: Sim, não tinha uma família como sempre sonhei. Uma família unida, pai e mãe juntos, que gostassem um do outro, que transmitissem esse amor para os filhos, que houvesse aquele amor em casa, aquela união. Nunca tive nada disso e então sempre sonhei para mim ter isso. E pronto, tenho. Considero que tenho.

MS: Que valores e princípios tu sentes que os teus pais, apesar de tudo, te passaram e que hoje sentes que estás a passar aos teus filhos?
TM: Pois… é muito difícil. Embora a minha mãe tenha estado mais presente na minha vida. Sinceramente, não consigo identificar nada que eu tenha trazido do meu passado para o meu futuro. Apenas o “exemplo” pela negativa, que me levou a construir outras ideias sobre família. Acho que por eu ter tido uma infância e uma família desestruturada, que não era normal para mim porque via as outras famílias com os pais juntos, com amor, afeto, mesmo que não estivessem juntos, mas que houvesse amor, família, afeto, união. E realmente nunca tivemos. Nunca tive isso porque éramos um bocadinho aqui e acolá, na casa dos avós, na casa da mãe, na casa dos tios. Éramos um bocadinho assim. Andávamos assim a saltar de casa em casa. Não tínhamos o nosso abrigo, o nosso lar. E então acho que tudo o que vivi me fez querer sentir o que sentia noutras famílias. Eu queria ter isso para mim, para os meus filhos um dia, o que não tive para mim. Então, sei lá, eu acho que foi a vida que me ensinou e que me trouxe estes valores. Não especialmente a mãe ou o pai.

MS: Tu tinhas duas mais velhas, não é? Como era o vosso relacionamento?
TM: As três… éramos uma. Éramos super unidas. Cuidávamos umas das outras. Elas cuidavam de mim. Acho que houve um certo ponto da nossa vida que acho que nós é que éramos a mãe e o pai uma das outras e irmãs e amigas. E tínhamos todos aqueles sentimentos uma pelas outras.

MS: Quais são as diferenças mais evidentes entre a educação que tu tiveste, seja através dos teus tios, seja das tuas irmãs mais velhas, seja, enfim, dos teus próprios pais e a educação e a vida familiar que proporcionas hoje aos teus filhos?
TM: Estarmos muito unidos. Falarmos uns com os outros. Haver amor. Haver respeito. Amizade. Isso para nós é muito importante. Haver muita conversa, muito amor, muito respeito entre nós e transmitir isso para os meninos e fazermos com que eles próprios também sejam unidos. Que sejam amigos. Que contem um com o outro.

 

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MS: A tua realidade familiar hoje é, podemos dizer, relativamente comum. O teu marido já tinha duas filhas de uma outra relação quando chegaste à vida dele. Como é que tem sido o teu relacionamento com elas desde que chegaste à vida do Hélder?
TM: Então… ao princípio é sempre difícil. Para elas eu era uma pessoa estranha, daquelas que vêm roubar o amor do pai delas. Há aquele ciúme. Há depois as más influências da parte da outra pessoa, da mãe que as instrui a não gostar de mim. Pronto, foi um processo difícil, nos primeiros dois, três anos, eu diria. E depois há sempre as situações à volta dos divórcios, que complicam tudo ainda mais. Mas a dada altura fomos construindo uma relação. Elas próprias foram crescendo, foram construindo a própria personalidade delas. Elas têm os sentimentos delas e veem as coisas por elas. E começaram a ver que realmente eu não era aquilo que elas pensavam, que foram construindo na cabeça delas, e que lhes disseram ao longo daquele período. E a relação entre nós começou a ser melhor, começou mais a ser de uma amizade, de poderem confiar em mim e contarem-me certas coisas que, às vezes, não queriam contar ao pai ou a mãe. E agora sim, posso dizer que agora temos uma relação, talvez não de mãe e filha, que isso elas nunca quiseram e, claro, nem eu posso ser a mãe delas. Elas têm mãe, têm pai e eu não tenho que ser a mãe delas, mas sou uma amiga. Estou cá para elas, para o que for preciso.

MS: Quando nasceu a Leonor e depois o pequenino Hélder, o que é que aconteceu? Achas que o nascimento dos teus filhos vos uniu ainda mais?
TM: Elas passaram a querer estar mais connosco e vir mais para aqui. Talvez, na altura, um bocadinho com o ciúme e com o medo do pai se esquecer delas. E se era um problema para elas, acho que isso as fez estar mais à volta do pai e de nós. E é claro que também tinham amor pela irmã e têm e gostam muito dela e são muito unidas. E o irmão também. E acho que isso fez-nos ficar mais unidos, sim, sem dúvida.

MS: Portanto, hoje podemos dizer que a relação entre todos – casal, os filhos de ambos e os filhos de um dos dois (neste caso do Hélder) -, é uma relação de família unida? Podemos dizer isso?
TM: É uma relação de paz em casa e harmonia, sim. Conseguimos.

MS: O que é que valorizas e do que é que te orgulhas mais na família que construíste?
TM: Ai, olha, nem sei, Madalena, Acho que isso até me faz chorar. Bem, eu já disse isso ao Hélder o ano passado, que eu tenho aquilo que sempre sonhei. Mais do que aquilo que eu sempre sonhei, que era ter uma pessoa com quem eu pudesse partilhar a vida e que fosse sincera e minha amiga. Para além de tudo, para além de haver amor e uma relação de casal, que houvesse uma grande amizade e uma grande confiança entre os dois e eventualmente que tivéssemos filhos. Então… consegui! Isso para mim foi… foi cinco estrelas ter conseguido. Construir uma família e ter uma família. O que eu chamo família mesmo, de verdade. E o resto para mim foi um bónus da vida. Tenho mais do que aquilo que eu sempre sonhei. Sou sincera. Sei que a vida dá muitas voltas, mas olha, por enquanto não me posso queixar. Sou muito grata pelo que tenho e pelo que vivo.

MB/MS

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