Todos têm um papel importante na luta contra as alterações climáticas
O Canadá tem 9% da floresta mundial, mas as temperaturas recorde registadas este verão estão a ameaçar a preservação dos recursos do país e da província. Primeiro foi a onda de incêndios na Colúmbia Britânica (BC) e Manitoba e agora os incêndios chegaram também ao noroeste de Ontário. 34 bombeiros da Austrália chegaram na quarta-feira (28) a BC para ajudar a combater mais de 250 fogos florestais.
As evacuações continuam e na quarta-feira (28) estavam ativos na província mais 17 incêndios florestais. Milhares de pessoas que vivem em zonas remotas e rurais da província, alguns deles indígenas, estão a ser obrigados a abandonar as suas casas porque as ordens de evacuação continuam. Na quarta-feira (28) o Premier de Ontário, Doug Ford, visitou a região de Thunder Bay e apesar das pressões não ativou o estado de emergência.
No total em Ontário estão ativos 148 fogos, cerca de 44 estão fora de controlo e 65 continuam a ser monitorizados. Os bombeiros conseguiram extinguir 12 fogos. Kenora, Dryden, Fort Frances, Thunder Bay e Red Lake são as áreas mais críticas onde o risco de incêndio é agora elevado. Ainda assim Nipigon e a parte oriental de Sioux Lookout apresentam um risco de incêndio moderado a baixo.
O Environment Canada já emitiu vários alertas onde apela às pessoas mais vulneráveis para se protegerem da pobre qualidade do ar que resulta do fumo provocado pelos incêndios. As crianças, idosos e pessoas com doenças crónicas são aconselhados a evitarem atividades ao ar livre e a manterem-se hidratadas.
Mas os efeitos das alterações climatéricas na província não se ficam por aqui. Há cerca de duas semanas um tornado de nível 2 deixou um rasto de destruição em Barrie, Ont, mas felizmente o tornado não fez vítimas mortais. A destruição que se estendeu ao longo de 5 km danificou mais de 150 casas e deixou 100 pessoas desalojadas. 10 pessoas ficaram feridas, mas os paramédicos foram rápidos a intervir. O Premier Doug Ford visitou o local e prometeu ajudar a cidade a recuperar deste tornado.
Entretanto esta semana o presidente da Câmara Municipal de Barrie, Jeff Lehman, diz que continua a aguardar para saber se a cidade se qualifica para o Programa de Assistência em Casos de Catástrofe de Ontário (ODRAP). O programa foi criado para ajudar cidades, organizações sem fins lucrativos e empresários a recuperar depois de uma catástrofe. O autarca antecipa uma recuperação lenta, mas acredita que a cidade vai conseguir reconstruir-se. Segundo o Northern Tornadoes Project, cinco tornados passaram por Ontário no dia em que um tornado de nível 2 atingiu Barrie. De acordo com o Environment Canada os tornados deste nível têm ventos entre os 180 e 220 km/hora.
Uma sondagem feita pela Ipsos em meados de julho revela que 49% dos canadianos dizem que as alterações climatéricas devem tornar-se um assunto mais urgente para os governos. A nível de idades os jovens são os mais preocupados com as alterações climatéricas: cerca de 56% dos jovens entre 18 e 34 anos defende que os governos têm de colocar o assunto na ordem do dia. Ainda assim 52% das pessoas que participaram nesta sondagem dizem que a solução não deve passar por aumentar os gastos com este problema e mais de metade diz que não quer pagar mais impostos ou ver o preço dos produtos e dos serviços a aumentar. Este ano o preço dos produtos e serviços aumentou cerca de 6% e a inflação teve em maio o maior aumento desde 2011.
Abaixo publicamos uma entrevista com o Environment Canada onde o organismo destaca que o Canadá está comprometido em lutar contra as alterações climatéricas, mas que cada um de nós também tem um papel a desempenhar.
Milénio Stadium: Como é que as alterações climáticas podem levar a um aumento das catástrofes naturais, tanto a nível de frequência como de intensidade?
Environment Canada: O Canadá está a aquecer quase o dobro da média global, com partes do oeste e norte do Canadá a aquecer três ou quatro vezes mais do que a média global. Os cientistas estabeleceram uma ligação clara entre as alterações climáticas e eventos climáticos extremos que incluem vagas de calor, incêndios florestais, algumas inundações e perda de gelo marinho, e fortes possibilidades de ligações a fortes chuvas, gelo, seca e tempestades. A ciência é clara: os esforços existentes não são suficientes para evitar alterações climáticas catastróficas e é por isso que o Canadá e outros países em todo o mundo devem fazer mais para combater este problema.
MS: Qual é a ação concreta que o governo federal propõe?
EC: Algumas das ações estratégicas que o Canadá está a tomar incluem: 1) O recente compromisso do Canadá reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa em 40-45% abaixo dos níveis de 2005 até 2030. 2) Medidas concretas sobre adaptação climática através de programas como o Disaster Mitigation and Adaptation Fund de $2 mil milhões para ajudar as comunidades a desenvolver soluções no terreno para mitigar os impactos climáticos. 3) No Orçamento de 2021, comprometemo-nos também com um financiamento adicional de $3,79 mil milhões para reforçar a resiliência climática em todo o Canadá através de medidas específicas. O Federal Adaptation Policy Framework foi desenvolvido em 2011 para orientar a acção federal na adaptação às alterações climáticas. 4) No plano do Canadá para Um Ambiente Saudável e Uma Economia Saudável, o governo comprometeu-se a desenvolver a primeira Estratégia Nacional de Adaptação do Canadá, que, quando concluída, se tornará o quadro político mais atualizado em matéria de adaptação.
MS: Qual é o impacto das alterações climáticas na biodiversidade?
EC: O Canadá está empenhado em proteger a natureza, não só porque é vital para a nossa saúde e felicidade, mas porque faz parte dos nossos esforços para combater as alterações climáticas, proteger a biodiversidade, as espécies em risco, e reconstruir uma economia forte e sustentável. É por isso que, em 2015, o Canadá também desenvolveu o seu próprio conjunto de metas de biodiversidade doméstica para 2020, em resposta à Convenção sobre Diversidade Biológica 2011-2020 Plano Estratégico para a Biodiversidade, incluindo as 20 Metas de Aichi. Em 2018, o Canadá estava no bom caminho para cumprir 11 das suas 19 metas de biodiversidade doméstica até 2020.
MS: O Environment Canada emitiu na semana passada um alerta sobre a qualidade pobre do ar numa parte do sul do Ontário após os incêndios florestais no noroeste do Ontário terem levado a altos níveis de poluição atmosférica. Quais são as consequências deste tipo de poluição para a saúde das pessoas?
EC: Quando as concentrações de partículas são elevadas, pode haver preocupações de saúde sobretudo para as pessoas mais vulneráveis – crianças, idosos e pessoas com doenças crónicas como doenças cardiovasculares ou pulmonares. Mas na maioria dos dias, as concentrações destas partículas são baixas e por isso existem menos riscos para a saúde das pessoas.
MS: Recentemente tivemos um tornado de nível 2 em Barrie, Ont. Apesar dos custos financeiros, felizmente, não houve vítimas mortais. No mesmo dia, foram contados cinco tornados em Ontário. Porque é que os outros tornados não causaram a mesma destruição que o de Barrie?
EC: Os outros cinco tornados não ocorreram em áreas densamente povoadas, por isso o impacto foi sobretudo em árvores e, em alguns casos, casas e estruturas agrícolas tiveram alguns danos.
MS: Quantos tornados passam por ano, em média, em Ontário? O Environment Canada notou um aumento de tornados nos últimos anos?
EC: É extremamente difícil saber quantos tornados ocorrem realmente todos os anos. O Northern Tornadoes Project está a tentar utilizar uma série de novas tecnologias para os detetar e determinar números mais precisos, mas estas tecnologias são relativamente recentes e não estavam disponíveis em anos anteriores. O Environment and Climate Change Canada há muito que utiliza 12-13 para representar o número médio de tornados em toda a província do Ontário. Sabemos, contudo, que esta é uma estatística enganadora, uma vez que o número verdadeiro é muito mais elevado e pode nunca ser conhecido.
MS: O que é que nós podemos fazer como sociedade para minimizar os efeitos drásticos das alterações climáticas?
EC: A adaptação aos impactos das alterações climáticas é uma responsabilidade partilhada. Governos, comunidades, setor privado, área académica, setor sem fins-lucrativos, organizações profissionais e indivíduos têm todos papéis importantes a desempenhar na construção da luta contra as alterações climáticas. Como os impactos climáticos continuam a ultrapassar a ação, o governo federal reconhece que é necessária uma abordagem mais ambiciosa, estratégica e colaborativa para se adaptar e construir resiliência ao clima em mudança. É por isso que o Governo do Canadá está atualmente a desenvolver a primeira Estratégia Nacional de Adaptação do Canadá, orientada para melhorar a ciência disponível e juntar outras fontes de conhecimento. A Estratégia será uma parte importante do plano do governo para tornar as comunidades mais limpas, mais seguras e mais resilientes para as gerações futuras.
Joana Leal/MS
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