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O vinho pode unir o que a água separa

De Portugal para o Canadá

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Créditos: DR

Portugal é um dos mais tradicionais países produtores de vinhos do mundo, onde foram criados vinhos clássicos e únicos. Desde os tempos ancestrais que o Vinho do Porto e o Vinho da Madeira se destacaram no panorama internacional. O mesmo não se podia afirmar relativamente aos chamados vinhos de mesa.

Nos últimos anos, no entanto, o país assistiu a uma verdadeira revolução vitivinícola, apresentando ao mundo produtos de classe mundial que são capazes de concorrer com o melhor, produzido na Europa e no resto do mundo. Já o Canadá não é conhecido por ser um grande produtor de vinho, no entanto a sua indústria vitivinícola tem evoluído bastante nos últimos anos, através dos Icewines, reconhecidos mundialmente e líderes de mercado.

Na produção de vinho feita por terras canadianas há vários tipos de castas, especialmente provenientes de França e do continente norte-americano. As castas da família vitis vinífera, como a Chardonnay, a Riesling ou a Pinot Noir, são utilizadas na produção de vinhos de maior qualidade. As castas de origem norte-americana, como a Concord ou Niagara, estão na base de vinhos produzidos em territórios de baixas temperaturas, por serem mais resistentes. No Canadá também são utilizadas castas de maturação precoce, como a Vidal ou a Baco Noir.

Vinho português no Canadá

Segundo um estudo da Wine Intelligence sobre os vinhos de todo o mundo, os consumidores do mercado canadiano preferem vinhos de países tradicionalmente produtores, ou “velho mundo”, privilegiando os valores da qualidade e também do património. Aqui, Portugal tem, com certeza, lugar e por isso mesmo, desde 2003, as importações de vinho português aumentaram 56% no volume e 11% no valor. O vinho do Porto e o vinho engarrafado português representam praticamente a totalidade das importações de vinho português para o Canadá.

Nas diferentes províncias, as importações de Portugal possuem uma distribuição muito concentrada, isto porque mais de metade das importações têm como destino a província do Quebeque (56,7%) e cerca de ¼  a província de Ontário (27,2%). A província de Colúmbia Britânica, por sua vez, representa mais de 5% das importações de vinho português no Canadá. Será interessante perceber que nas províncias mais relevantes do Canadá – Alberta, Ontário, Quebeque e Colúmbia Britânica – Portugal figura sempre no top-10 de fornecedores de vinho.

Exportação mundial de vinho português

As exportações dos vinhos portugueses para todo o mundo tiveram, no ano passado, um comportamento “muito positivo, registando um assinalável acréscimo, quando comparado com 2019”, comunicou o Ministério da Agricultura no início deste ano. Segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), relativos a 2020, verificou-se um aumento não só no volume, 5,3%, mas também no valor, 3,2%, com um resultado de 846 milhões de euros, mais 26 milhões de euros do que no ano anterior. Para este resultado, a contribuição mais significativa foi registada nos mercados do Brasil, França, EUA, Reino Unido e Canadá, que estão assim no top 5 dos mercados mais importantes. No caso do Canadá houve um acréscimo de 6%, em volume, e 4,9%, em valor, com um total de cerca de 50 milhões de euros.

Importação e divulgação dos vinhos portugueses no Canadá

Wilson Teixeira, através do trabalho desenvolvido pela sua empresa importadora e distribuidora de vinhos, Madhu Wines, tenta dar a conhecer os vinhos portugueses, sublinhando a sua alta qualidade e ótima relação qualidade/preço, no mercado canadiano. Madhu Wines é basicamente composta por um grupo apaixonado de entusiastas do vinho cujo propósito é exatamente promover os vinhos portugueses no Canadá e em todo o mundo.

É que Portugal pode não ser o primeiro país que surge na mente das pessoas quando pensam nas melhores regiões vitivinícolas do mundo, mas a Madhu Wines está empenhada em contribuir para uma mudança neste aspeto. E a caminhada como importador de vinhos portugueses para o Canadá, segundo Wilson Teixeira “tem sido interessante. Tenho visto uma fase de modernização do LCBO que criou oportunidades e obstáculos como é óbvio. Tenho tido a oportunidade de aprender sobre os nossos vinhos, as particularidades das regiões demarcadas e castas. Compreender os desafios tanto como importador, como agente e como distribuidor tem sido a minha missão.” O trabalho não será fácil, já que como se sabe as regras no Canadá sobre venda de produtos alcoólicos são particularmente rigorosas. Wilson Teixeira, no entanto, sublinha que as regras incidem mais nas quantidades importadas e na qualificação do produto – “os processos são muito complicados na parte de documentação e processo de qualificação das propostas”. É um sistema complicado e rigoroso para a avaliação dos vinhos. Depois há ainda a parte de controlo do vinho que se apresenta ao consumidor final. “Há regras a cumprir sobre a defesa do consumidor em relação à qualidade do produto.”

Por falar em consumidor final, há uma verdade incontornável que se pode resumir nesta frase – só se pode gostar daquilo que se conhece. É preciso investir na divulgação dos produtos vinícolas portugueses, de modo a destacar a sua enorme qualidade e diversidade. Sem dar a conhecer o que temos de melhor, sem demonstrar que os nossos vinhos têm excelente qualidade e que acompanham os melhores do mundo, o trabalho de importação torna-se ainda mais difícil. Daí que Wilson Teixeira aposte nas provas de vinhos, nos eventos promovidos pela comunidade portuguesa e ainda na divulgação e venda dos nossos vinhos nos restaurantes.

E este é um trabalho que, de certo modo, tem sido solitário, ou pelo menos muito desacompanhado. Wilson Teixeira teve oportunidade de nos dizer que ele e os seus colegas agentes/importadores de vinhos portugueses para o Canadá “não temos tido os apoios diretos do governo”, mas que de certo modo beneficiam do apoio que os produtores têm tido, nomeadamente ao nível do marketing e promoção internacional.

A pandemia impactou de forma séria este setor da economia – o encerramento dos restaurantes, dos maiores clientes dos importadores de vinhos, trouxe um enorme abalo na gestão financeira do negócio. Wilson Teixeira sublinha isso mesmo quando nos diz que “tínhamos um mercado interessante e em crescimento antes da Covid-19.” que agora é necessário recuperar – “esperamos que com a abertura dos restaurantes venhamos a recuperar e chegar aos níveis pré Covid. O impacto foi grande. Na realidade, podemos dizer que para além do impacto financeiro, há também que recuperar o trabalho que fazíamos ao nível do marketing/promoção. Esperemos que no ano que vem consigamos entrar numa fase de normalização”.

A esperança que nunca deve faltar a quem se aventura no mundo dos negócios. É a última a morrer. O que será sempre celebrada é a vitória do mundo sobre esta pandemia e a reconquista de uma vida normal – onde se erguem copos de vinho a saudar a vida, numa roda de amigos em pleno convívio.

Catarina Balça/MS

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