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Heróis de Natal

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Saem de casa quando as ruas estão vazias e frias. Saem quando na sua casa e nas dos outros se sente o calor da família reunida, o cheiro do bacalhau cozido, o aroma de açúcar e canela que envolve os fritos de Natal… saem porque a sua profissão assim obriga. Porque mais do que um trabalho, têm uma missão para cumprir – garantir que apesar (ou por causa) da quadra festiva a saúde, os cuidados de higiene, a segurança pública, a limpeza e o socorro em casos de emergência, são prestados como se de um dia comum se tratasse.

São os heróis de Natal, que esta semana queremos iluminar para que todos vejam e se lembrem da importância que têm nas nossas vidas. Queremos que todos percebam que há em cada entrada em casa de pessoas a necessitar de cuidados ou mesmo só de um pouco de atenção, em cada ronda de vigilância, em cada saída veloz para acudir a quem precisa de atendimento urgente, uma dádiva sem preço. A entrega é muito maior do que o valor do ordenado de cada um, porque ao contrário do que muitos podem pensar, cada um deles não está apenas a cumprir mais um dia de trabalho, está a dar de si, do seu tempo que poderia ser passado em família, sem qualquer esboço de reclamação.

Estes são apenas cinco exemplos dos muitos milhares que merecem todo o nosso respeito, admiração e profundo agradecimento. Feliz Natal!

Madalena Balça/MS

 

Vitória MirandaVitória Miranda, 63 anos

PSW (Personal Social Worker)

Como é vivido o Natal, quando a profissão obriga a que estejamos a trabalhar?
Não é fácil, mas sabendo eu que tem que ser, já há muitos anos, e como eu gosto do que faço, sei que vou fazer companhia a alguém que às vezes não tem mesmo companhia nenhuma, vive-se bem.
É nestas ocasiões que sente que o seu trabalho é mais necessário?
Sim, com certeza. Natal, Páscoa, todos os dias, mas estes dias em que se vive mais a família, sim! Porque sei que faço parte deles e que não tendo mais ninguém, às vezes, eu sei que estou lá e faço com que passem um bocadinho feliz.

Acha que nesta altura do ano as pessoas têm mais noção da importância do vosso trabalho, para o bem-estar da sociedade?
Nem todos. Sinceramente, nos últimos anos o reconhecimento do nosso trabalho tem vindo a diminuir. Ou por falta de posses, ou porque muitos deles têm posses, mas acham que nós estamos a ser pagos e que não têm que agradecer, nem com um envio de um simples cartão. Isto nos últimos anos. Há cinco anos para trás não, mas ultimamente, sim. Parece que as pessoas se tornaram mais frias, acham que os outros são obrigados a fazer o que quer que seja, mas eu poderia simplesmente não trabalhar no Natal, mas parece que não têm sensibilidade para ter isso em consideração.

Tem alguma história para contar, um episódio que tenha ficado na sua memória, que se tenha passado nesta altura do ano?
Assim em concreto não tenho nada em especial, apenas os momentos de partilha e conversa. Os idosos conversam muito sobre como era o Natal antigamente, as tradições das suas terras e esses momentos fazem com que se relembrem de muita coisa e eles ficam um bocadinho felizes. Eu tento fazer parte da conversa, mesmo que às vezes não seja a minha tradição, mas tento integrar-me para eles se sentirem um bocadinho mais felizes. Sinceramente, os nossos velhinhos no dia-a-dia e neste tempo de festas em especial não têm muita atenção da família, parece que anda tudo a correr de um lado para o outro. Esta é a parte mais triste, saber que as pessoas estão muito sozinhas. Muito triste, mesmo.

Que mensagem gostaria de deixar a todos os que usufruem do trabalho de outros enquanto estão a viver o Natal em família?
Desejo um Natal feliz e que a família pense mais que os velhinhos vão partir e que já fizeram tanto por nós. Tantos sacrifícios, tanto amor, dedicação, tantas dificuldades, falta de comida, e sempre deram atenção aos filhos. Eles merecem mais atenção e precisam. São seres humanos que precisam de mais atenção do que propriamente nós, que temos saúde e podemos andar de um lado para o outro, mas infelizmente isso não acontece. Só espero que os mais velhinhos passem um feliz Natal e que a família tenha isso em atenção.

 

Foto Oficial Rui Simões 2Rui Simões, 44 anos

Agente Comunitário de Bairro no Serviço de Polícia de Toronto na 13ª Divisão

Como é vivido o Natal, quando a profissão obriga a que estejamos a trabalhar?
Dado o facto de o policiamento ser um trabalho 24 horas por dia, 7 dias por semana, há alturas em que trabalhamos nos feriados. Na altura do Natal, se trabalho no turno do dia, certifico-me de que passo tempo com a minha família à noite. O mesmo se aplica se estiver a trabalhar no turno da tarde ou da noite, em que passo algum tempo com eles antes do trabalho.

É nestas ocasiões que sente que o seu trabalho é mais necessário?
Sinto que o meu trabalho é sempre necessário, independentemente de ser feriado ou não.

Acha que nesta altura do ano as pessoas têm mais noção da importância do vosso trabalho, para o bem-estar da sociedade?
Penso que as pessoas em geral estão normalmente conscientes da importância da polícia, mas penso que muitas pessoas têm agora a oportunidade de refletir sobre a importância do trabalho que faço para o bem-estar da sociedade.

Tem alguma história para contar, um episódio que tenha ficado na sua memória, que se tenha passado nesta altura do ano?
A única história de que me lembro foi no Natal de 2008, quando respondi a uma chamada para um assalto em curso. O restaurante estava fechado por ser Natal e alguém entrou no local para roubar dinheiro e bebidas alcoólicas. Conseguimos localizar o criminoso e prendê-lo. Fiquei impressionado porque me senti mal por esta família trabalhadora estar finalmente a desfrutar de um dia de folga bem merecido para que isto acontecesse. Fiquei contente por termos conseguido apanhar o bandido e devolver os bens aos proprietários.

Que mensagem gostaria de deixar a todos os que usufruem do trabalho de outros enquanto estão a viver o Natal em família?
A mensagem que gostaria de enviar a todos os que podem gozar o Natal, graças aos que ainda têm de trabalhar, é que nunca tomem nada como garantido e agradeçam o facto de terem tempo livre para desfrutar com as suas famílias.

 

Foto P.C. Peter De QuintalP.C. Peter De Quintal

Equidade, Inclusão e Direitos Humanos – Serviço de Polícia de Toronto

Como é vivido o Natal, quando a profissão obriga a que estejamos a trabalhar?
Pode ser muito difícil, especialmente sabendo que a sua família está em casa, desejando estar com eles e preocupando-se com o facto de o marido ou o pai voltarem para casa e quando poderão festejar com eles. Eu venho de uma família em que todos os Natais nos reuníamos em casa dos meus avós e, quando entrei para este emprego, não pude lá estar todos os anos.

É nestas ocasiões que sente que o seu trabalho é mais necessário?
O nosso trabalho é sempre necessário, e o que se espera é que muitos tenham uma noite tranquila e possam divertir-se. Quando somos menos necessários, no entanto, saibam que estamos aqui e prontos se e quando necessário.

Acha que nesta altura do ano as pessoas têm mais noção da importância do vosso trabalho, para o bem-estar da sociedade?
Espero e acredito que a maioria das pessoas valoriza a polícia e o trabalho que fazemos. Com tudo o que se passa a nível internacional e os efeitos que tem aqui na nossa cidade diversificada, acredito que muitas pessoas valorizam o nosso trabalho. Conseguem ver que estamos a fazer o nosso melhor para manter a paz e garantir que a nossa cidade é segura para todos.

Tem alguma história para contar, um episódio que tenha ficado na sua memória, que se tenha passado nesta altura do ano?
Tenho boas recordações de me sentar, mesmo que por breves momentos, com a minha família do trabalho para comer uma refeição, mesmo que seja apenas com os nossos carros juntos num parque de estacionamento. Lembro-me de como algumas pessoas nos ofereciam uma guloseima ou um pedaço de comida tradicional quando trabalhávamos nesta altura do ano, apesar de talvez não terem muito para oferecer, mas era a sua forma de agradecer. Também tenho histórias que gostava de esquecer pela forma como algumas pessoas tratavam as suas famílias nesta altura do ano.

Que mensagem gostaria de deixar a todos os que usufruem do trabalho de outros enquanto estão a viver o Natal em família?
Tomem conta de vós próprios e daqueles que vos são importantes, mas lembrem-se sempre que nunca conhecem a história de alguém ou os desafios que podem estar a enfrentar e sejam bons uns para os outros. Muitas pessoas estão a passar por dificuldades, especialmente agora, com o custo dos alimentos e de outras coisas, por isso, por favor, sejam gentis uns com os outros.

 

Foto Kalman Fekete - Acting Captain, Toronto Fire ServicesKalman Teixeira Fekete, 48 anos

Capitão em exercício, Bombeiros de Toronto

Como é vivido o Natal, quando a profissão obriga a que estejamos a trabalhar?
Estar de serviço durante 24 horas pode entrar em conflito com o Natal, dependendo do turno em que se está. Felizmente, a minha família programa o Natal em função do meu horário, pelo que há sempre a opção de fazer o jantar de Natal na véspera ou no dia de Natal. Outros talvez não sejam tão flexíveis e, ocasionalmente, perdem feriados importantes.

É nestas ocasiões que sente que o seu trabalho é mais necessário?
Todos os turnos são igualmente importantes, independentemente do feriado. Há um entendimento de que, com o trabalho por turnos, perderemos alguns feriados, mas é uma responsabilidade que aceitamos de bom grado.

Acha que nesta altura do ano as pessoas têm mais noção da importância do vosso trabalho, para o bem-estar da sociedade?
O público aprecia sempre o trabalho que fazemos, especialmente o sacrifício que fazemos nos feriados importantes. Perder tempo com a família e os amigos é algo com que todos se podem identificar facilmente.

Tem alguma história para contar, um episódio que tenha ficado na sua memória, que se tenha passado nesta altura do ano?
Não tenho uma história particular associada ao Natal, no entanto, a interação com o público durante a quadra festiva tem sempre um toque especial quando estamos fora de casa ou quando as pessoas deixam brinquedos para a recolha de brinquedos ou produtos perecíveis para o banco alimentar.

Que mensagem gostaria de deixar a todos os que usufruem do trabalho de outros enquanto estão a viver o Natal em família?
Agradeça o que tem e valorize os momentos partilhados com os seus entes queridos.

 

naidyNaidy Vazquez León

Internal Clinical Nursing Educator, e NSWOC (enfermeira especialista) ao domicílio

Como é vivido o Natal, quando a profissão obriga a que estejamos a trabalhar?
É um misto de emoções! Por um lado, tenho muitas saudades de estar com a minha família, de preparar as refeições e de partilhar estes momentos com eles. Ver o meu filho crescer e eu não estar sempre presente nessas ocasiões especiais foi um dos maiores desafios. Por outro lado, a recompensa de ajudar pessoas que estão realmente a precisar de apoio é o sentimento mais satisfatório. Por vezes, visito clientes que também estão sozinhos em casa, à espera que a enfermeira ou o PSW venham cuidar deles. A maioria dos clientes fica tão grata e agradecida que vale a pena o sacrifício. Por vezes, sentimos o cheiro da comida preparada, assistimos à chegada de familiares para a reunião, ou simplesmente partilhamos um café ou um doce com um cliente que está sozinho.

É nestas ocasiões que sente que o seu trabalho é mais necessário?
Sem dúvida, é um “vale a pena”, um sentimento de estar a fazer algo que tem como objetivo final servir uma comunidade carenciada. Em dias como o de Natal, parece mais uma vocação, não um trabalho. Parece uma missão com um propósito.

Acha que nesta altura do ano as pessoas têm mais noção da importância do vosso trabalho, para o bem-estar da sociedade?
Infelizmente, nem sempre. Por vezes, também se encontram doentes que são menos agradecidos e sensíveis, pensam que fazemos este trabalho porque estamos a ser pagos, o que é triste, mas, em última análise, eles também precisam de nós para os ajudar. Há muita falta de falta de compreensão sobre a profissão de enfermeiro. Somos subvalorizados e, por vezes, somos vistos como pessoas que apenas fazem um trabalho, mas a enfermagem é uma arte, uma profissão, um serviço que requer compromisso, compaixão e amor pelo que fazemos. A quantidade de trabalho, esforço e sacrifício necessários, muitas vezes não é notada.
Os enfermeiros que visitam casas de utentes trabalham muitas horas, com longas horas de deslocação, enfrentando problemas de estacionamento, multas por prolongamento das horas de estacionamento enquanto prestam assistência aos clientes, entrar em ambientes de trabalho sem supervisão ou ambientes de trabalho inseguros (edifícios), habitações, abrigos, ruas, percorrer a cidade de Toronto para visitas de serviço para apoiar clientes com necessidades urgentes. A população em geral não está consciente destes desafios, tem expectativas de horários específicos ou de serviços que têm de acontecer, mas a realidade é que os enfermeiros saem de casa durante esta quadra do Natal, enquanto a maioria dos outros está a descansar, apenas porque adoram o que fazem. Mas há outros que apreciam, que são tão carinhosos, colaboram e adaptam-se a horários menos rígidos, e tratam-nos com muito respeito e simpatia. A maioria compreende os desafios e oferece os seus elogios e satisfação como recompensa.

Tem alguma história para contar, um episódio que tenha ficado na sua memória, que se tenha passado nesta altura do ano?
Sim, nunca me esquecerei que, quando a variante ómicron estava a atingir Toronto em dezembro-janeiro de 2021. Eu estava a trabalhar como gerente no escritório e a maior parte do pessoal interno estava em isolamento. Tínhamos de gerir um local com mais de 1000 funcionários com apenas 3 líderes clínicos. Os enfermeiros começaram a faltar por doença e os clientes com necessidades de cuidados urgentes tinham de ser atendidos. E
u estava a trabalhar até às 7 da noite para tentar apoiar a equipa na véspera de Ano Novo, fazendo o rastreio de contactos Covid, etc. Consegui ir para casa, e a minha família e amigos próximos (também enfermeiros) estavam à minha espera e tinham preparado uma festa. Estávamos com tanto medo de levar a Covid aos nossos familiares que eu estava sempre a usar uma máscara e não pude beijar o meu filho de 12 anos, nem o meu marido. No dia 1 de janeiro de 2022, estava de serviço e, depois das 14 horas (depois de limpar e organizar a casa), tive que sair porque havia mais de 30 clientes para visitar e não havia enfermeiras. Lembro-me que era um dia de neve e temperatura negativa. Estava exausta e muito assustada.
O meu marido ficou com o meu filho e eu saí para visitar clientes em toda a GTA. Cheguei a casa às 12 horas do dia seguinte, foi um dia muito difícil (viajar, frio, mudar de EPI, visitar clientes desconhecidos), mas muito gratificante por ter contribuído para ajudar e apoiar os clientes que necessitavam dos seus medicamentos, cuidados com feridas, ostomia, etc. Apesar dos desafios da falta de pessoal, dos números da Covid e da elevada procura de serviços, conseguimos servir a nossa clientela e manter as operações com êxito.
Os nossos clientes receberam os cuidados de que necessitavam e as taxas de transmissão da Covid foram mantidas nos valores mínimos entre a equipa e os clientes.

Que mensagem gostaria de deixar a todos os que usufruem do trabalho de outros enquanto estão a viver o Natal em família?
Apreciem e agradeçam o facto de terem acesso a um sistema de saúde que tem enfermeiros, médicos, profissionais de saúde e UCP empenhados, dedicados, atenciosos e humildes em partilhar o seu mais valioso tempo com a família.
A enfermagem não é apenas um trabalho que fazemos, é uma profissão, é uma carreira adorável, uma vida dedicada a servir os outros, é o núcleo dos cuidados de saúde. Respeite e agradeça aqueles que ajudam e valorizam o seu tempo, tal como eles valorizam as suas necessidades e preocupações.

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