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Escrito nas estrelas

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O desconhecido pode ser muito fascinante. E para nos aproximar daquilo a que, de outra forma, não obtemos resposta, podemos explorar áreas como a astrologia, que há milhares de anos se baseia e estuda a forma como os diferentes corpos celestes estão relacionados com a natureza humana e podem influenciar as suas personalidades, comportamentos e vivências.

Muitos a caracterizam como uma pseudociência, mas Paulo Cardoso, um dos mais reconhecidos astrólogos portugueses, rejeita prontamente essa definição: amante confesso da ciência, o também professor, pintor e ensaísta prefere olhar para a astrologia como uma “filosofia com bases científicas”, até porque a base de um horóscopo é, de facto e como nos explicou nesta conversa, matemática. Por outro lado, para além da capacidade de criar um mapa astral ou de fazer previsões, há uma outra característica fundamental num astrólogo: a empatia. E essa não é aprendida através dos livros. Muitas vezes desesperadas por respostas ou sem qualquer rumo na vida, muitas são as pessoas que acreditam que a solução para os seus problemas pode mesmo estar escrita nas estrelas – e acabam por cair numa enorme teia ilusória e de dependência, alimentada por profissionais que… digamos que parecem viver num constante trânsito de Mercúrio retrógado!

Por isso mesmo – e por não existir qualquer tipo de regulamentação para a prática de astrologia e/ou tarot – Paulo Cardoso aponta o dedo a alguma “falta de critério, de bom senso, de educação e de verticalidade” e aproveita para deixar o aviso: “com esta oferta desmesurada” de ditos profissionais, “devem tomar todos os cuidados, saber de onde é que vem, quem é, como é que é, o preço, tudo, antes de se arriscarem”.

paulo cardoso 2429Milénio Stadium: Pode dizer-nos, em traços gerais, o que é preciso para que alguém se torne astrólogo e/ou tarólogo? Se bem que as duas coisas não andam de mão dada…
Paulo Cardoso: Não andam mesmo. É assim, as características que uma pessoa tem que ter para fazer astrologia ou para ler tarot são completamente diferentes. A astrologia é absolutamente dedutiva, ou seja, é uma filosofia, um saber que tem a ver com a dedução. Para lhe dar um exemplo muito rápido, uma pessoa tem Sol em Gémeos, mas depois tem a Lua em Escorpião – então o que é que quer dizer? O astrólogo tem que reunir simbolicamente e fazer a síntese de uma coisa e de outra hora. Ora, o nosso horóscopo tem à volta de 1700 e tal elementos que o astrólogo tem que sintetizar, portanto é um trabalho de cabeça e um trabalho de inteligência, de bom senso, de capacidade de análise. Digamos, não é bem uma ciência, mas o método é mais ou menos científico, tão científico como um psicólogo. No caso do tarot é completamente diferente, porque o tarot tem a ver com a intuição. Para fazer tarot – e eu faço tarot e dou aulas de tarot -, a pessoa já tem que ter intuição obrigatoriamente. No entanto, um astrólogo que tenha intuição vai fazer também um trabalho muito mais perfeito em astrologia, claro, porque a intuição é sempre importante, quanto mais não seja para podermos dizer, de maneira correta e sensível, à pessoa aquilo que lhe queremos dizer. Portanto, não só eu me preocupo em tudo aquilo que faço como os astrólogos devem preocupar-se não só com aquilo que dizem, mas como vão dizer à pessoa, porque muitas vezes não se pode dizer – “olhe, vai morrer daqui um mês”, como fizeram a muitas pessoas que eu conheci, que vieram traumatizadas até a mim, porque “eu fui ao fulano ou à fulana tal e ela disse-me: ‘aproveite bem o casamento, que daqui a dois anos o seu marido pode morrer’”. Isso são coisas absolutamente absurdas, que dizem o quê? Falta de bom senso, falta de critério, falta de educação, falta de conhecimento de como é que as coisas devem ser ditas.

MS: De que forma é que a astrologia e o tarot podem influenciar a vida das pessoas? E o que é que lhes podem oferecer?
PC: Até aí as coisas são diferentes… A astrologia é uma forma de autoconhecimento, talvez a mais antiga, mais abrangente e mais profunda forma de autoconhecimento. Uma pessoa, quando tem conhecimento de si próprio, passa a gostar mais daquilo que tem de bom e menos bom dentro de si. Dizem-me: “eu sou assim, sou assado, sou frito, sou cozido”, deparo-me normalmente com estas dificuldades – também a astrologia explica à pessoa quais são os seus pontos fortes e não só. Quando é que vai passar por momentos mais ou menos agradáveis, em que as suas características vão ser postas em causa. Portanto, o que é que o astrólogo pode fazer? O astrólogo dá um autoconhecimento muito profundo da pessoa, das suas qualidades, dos seus defeitos, dos seus pontos fortes, dos seus pontos fracos. E mais: em que épocas da vida essas características vão estar mais ou menos fáceis de usar.

MS: Profissionais que se dedicam ao estudo da área da astrologia perceberam que o interesse e procura pela mesma sofreu um significativo aumento, principalmente entre a denominada geração Y (ou millennials, nascidos entre os anos 1980 e meados de 1990) – concorda? O que acha que pode explicar esse facto?
PC: É assim, quando eu comecei não havia nada, absolutamente nada. Éramos em Portugal dois ou três. Havia um senhor que por acaso trabalhava na TAP, que morreu, era a Flávia, era a Maria José Costa Sales, era eu e pouco mais. Quer dizer, éramos três ou quatro e não havia realmente nada. E não havia livros! Eu ia à Bertrand, à Sá da Costa, à Buchholz e não havia nada. Nós tínhamos que mandar vir os livros de Londres, de Paris, amigos que iam lá e tal, e começamos a aprender. Mais tarde o mercado começou a ficar inundado de livros e revistas sobre o assunto e depois muitos de nós começámos a dar aulas – por exemplo, só no meu caso, tive à volta de 700 alunos. Ora bem, eu e mais os outros todos, devem ser milhares de pessoas que tiveram aulas. E eu tenho 40 e tal anos de prática, comecei em 1977 a dar consultas. Portanto eu comecei a ter alunos, os outros também, depois são milhares e a informação é cada vez mais. Agora com a internet, então a coisa explodiu. Porquê? Porque a informação está toda online e as pessoas, um bocadinho abusivamente, às vezes têm cursos de fim de semana e já são chamados mestres de não sei quê. Ora, isto é uma burrice, porque ninguém é mestre de nada, muito menos em cursos de fim de semana. Mesmo os meus cursos que duram três anos, muitas vezes no final do segundo e do terceiro ano eu faço exames para avaliar se a pessoa entendeu bem a mensagem.
Pode ser culpa minha ou não, não importa. Posso ter passado mal a ideia, mas mesmo ao fim de três anos, muitas vezes percebo que a pessoa está a usar de uma maneira não muito criteriosa as regras da astrologia. Portanto, isto hoje em dia fazem-se cursos online e presenciais ao fim de semana e ao fim do ano a pessoa já tem um certificado que põe lá no escritório, emoldurado. Quem vai ao astrólogo ou tarólogo é que tem que ter muito cuidado e antes, como eu próprio faço quando vou a um médico, enfermeiro, fisioterapeuta ou uma coisa qualquer, pergunto: “olha, gostaste? Não gostaste? Deu resultado? Não deu resultado?”. Portanto, acho que essas pessoas, todas as pessoas hoje em dia, com esta oferta desmesurada, devem tomar todos os cuidados, saber de onde é que vem, quem é, como é que é, o preço, tudo, antes de se arriscarem. Eu tenho muitos casos relatados nas minhas consultas que as pessoas foram abusadas, foram usadas, foram manipuladas. “Olhe, volte cá daqui a seis meses, senão não sei quê” – quer dizer, isto são coisas que eu ouço falar e fico todo arrepiado. É absoluta falta de critério, de bom senso, de educação, de verticalidade.

MS: Nesses casos, em que alguns profissionais destas áreas acabam por tentar tirar vantagem de pessoas que se encontram numa fase mais delicada das suas vidas… Existe algum órgão de regulamentação que garanta a ética na prática do tarot e da astrologia?
PC: Não há. Tentou-se várias vezes criar um organismo como a Ordem dos Enfermeiros, por exemplo, mas não se conseguiu avançar grande coisa. Várias pessoas tentaram e não há. Portanto, é a lei geral, infelizmente.

MS: Portanto a forma de se conseguir distinguir um bom de um mau profissional é tentar saber…
PC: Através de alguém que lá foi. É assim, claro que há coisas americanas e brasileiras e escolas e tal que passam alguns certificados. Eu próprio também passo um certificado no final do curso, mas lá está…

MS: Depende também de outros fatores…
PC: Nem tudo eu posso avaliar através de um exame…

MS:Tenho ideia de ter visto uma entrevista do Paulo onde dizia que já não fazia consultas há anos…
PC: Não, e fica aqui uma mensagem muito importante, já que estou a falar para o Canadá. Neste momento estou a dar aulas. Eu deixei de dar consultas para me concentrar completamente nas aulas, e as minhas aulas são online e são por Zoom. Portanto, imagine que há uma comunidade ou pessoas como em França neste momento, ou na Suíça, ou aqui, acolá, ou em Chaves ou no Algarve que querem assistir às minhas aulas: vão contactar-me através do Instagram e dizer “gostava de ter aulas com o Paulo Cardoso” e neste momento em qualquer parte do mundo podem ouvir as aulas, porque é Zoom.
Não posso dar consultas e aulas ao mesmo tempo porque eu não aguento. Eu tenho 70 anos, repare, já não são 20 anos. A pessoa já não aguenta aos 70 fazer o mesmo que fazia aos 20. Há seis ou sete anos que eu não tenho férias, portanto estou mesmo a dar o máximo dos máximos. Dou-me de corpo e alma às aulas. E que fique bem claro: todos os casos que eu estudei, tudo aquilo que eu aprendi, eu vou ensinar nas aulas. De uma maneira sintética, no fundo a pessoa em dois ou três anos vai aprender aquilo que eu aprendi ao longo de 40 e tal anos.

MS: Mas como descreveria os seus clientes, na altura em que fazia consultas? Conseguia encontrar pontos comuns em todos eles?
PC: Claro, nós temos sempre traços comuns. Temos problemas comuns, temos inseguranças comuns, temos fatores comuns porque a Inês tem, por exemplo, Sol num certo signo, Lua não sei onde, Mercúrio não sei onde e as pessoas que tiverem Mercúrio no mesmo signo têm características parecidas com as suas, mas isso é um ponto, é um ponto igual. Vou-lhe explicar: 12 signos, dois ascendentes – é porque eu sou muito científico, eu tirei curso de química, percebe? Portanto a matemática, estatísticas, química, física é o que eu gosto. Quer dizer, eu gosto do resto, mas gosto de ver as coisas de uma maneira muito clara.
Portanto, 12 signos e 12 ascendentes dá 144 hipóteses, ok? Dessas 144 hipóteses, depois ainda temos que levar em consideração os 10 planetas, o Sol, a Lua, Mercúrio… até Plutão. Portanto, são 1440 hipóteses. Mas cada um tem o trígono, o sextil, o quadratura e não sei quê, portanto são 178.600 hipóteses básicas.
O tarot não trabalha com nada disto – o tarot trabalha com 56 cartas. Está a ver a diferença de rigor, de estrutura e de linguagem? Agora, por que é que a gente tem coisas comuns? Porque se calhar a Inês tem a Lua em Leão e eu também tenho a Lua em Leão e portanto temos formas de reagir emocionalmente parecidas, em determinadas circunstâncias.
Se tiver Mercúrio parecido com o meu, tem um tipo de raciocínio também parecido. Pronto, e isso é repetitivo, isso a gente constata logo, os livros de astrologia falam nisso, as minhas aulas falam nisso.

MS: O que é que as pessoas procuram quando recorrem a uma consulta de astrologia ou de leitura de tarot?
PC: Estão desorientadas. Estão numa profunda (normalmente profunda) época de grande mudança na vida. Maioritariamente são problemas de afetividade ou de dinheiro, às vezes problemas de saúde, mas pronto, estão desorientadas, a perder uma pessoa, uma relação, uma estabilidade financeira e estão perdidas. E muitas vezes já recorreram aqui e acolá, médicos ou não, não importa, e não obtiveram resposta. E dizem “agora só me falta ir ao astrólogo”. E o astrólogo vai tentar enquadrar aquele momento na vida da pessoa.

MS: Sente que ainda há, nos dias de hoje, algum desconhecimento em relação a pseudociências como a astrologia e também ao estudo do tarot? O que acha que poderia contribuir para, de certa forma, mudar mentalidades?
PC: Primeiro tenho que corrigir aí um termo: eu que prezo tanto a ciência e gosto tanto a ciência, eu não chamo de pseudociência, chamo uma filosofia com bases científicas. Portanto, não é ciência, não é pseudociência, porque os valores que nos levam a fazer um horóscopo, esses são científicos, são matemática. Portanto, a pessoa tem rigorosamente um gráfico feito através da ciência, que é a posição dos astros. A interpretação daquelas posições astrais já não é científica porque pertence às ciências humanas, como a psicologia. A psicologia não é ciência, a psicologia é um dado empírico não sei quê, depois tem um método mais ou menos científico, mas é a mesma coisa. Quer dizer, é como a psicologia, portanto, é uma ciência humana. É uma tentativa de entender a mente humana e o funcionamento do indivíduo. Portanto, a astrologia tem esse funcionamento, tem esse método. Nós podemos ser rigorosíssimos ou não na utilização desses métodos – e os resultados são muito, muito rigorosos. Podia contar-lhe N casos que se passaram ao longo da vida. Até porque, normalmente, se a pessoa volta ao astrólogo é porque ouviu qualquer coisa que se passou entretanto e depois volta.

MS: Na sua opinião e tendo em conta o seu conhecimento da área, como é que a astrologia e o tarot podem ser utilizadas para ajudar a que as pessoas possam, de alguma forma, alcançar respostas em relação ao desconhecido, sem que isso implique que se criem “falsas esperanças” ou até algum tipo de dependência das previsões?
PC: Eu só posso falar por mim. Eu sempre fui muito cuidadoso para não criar dependências, até porque me estava a defender. Porquê? Porque quando eu crio uma dependência, a pessoa está carente e vem à consulta, 15 dias depois já lá está outra vez – e eu já não tenho tempo. Nem nunca tive tempo para andar a repetir consultas das pessoas, porque todos os dias tinha pessoas novas, e eu não posso. Portanto, eu nunca alimentei e nunca quis alimentar e até acho que é extremamente negativo alimentar dependências daquilo que eu lhe disse há bocado. “Olhe, volto daqui a seis meses” – nunca disse isto! Porquê? Porque o astrólogo tem a obrigação de dar uma panorâmica da vida da pessoa, daquilo que já viveu, porque é que está a viver aquilo e porque é que vai viver aquilo. E com essa panorâmica dá ao consultante a plena capacidade de fazer escolhas. Eu nunca disse à pessoa “olhe, divorcie-se”. Não: “nesta relação, você precisa disto e está a receber aquilo. Mas se calhar se pedir isto, isto e isto é capaz de receber aquilo, aquilo e aquilo”. E o senhor ou a senhora fará aquilo que quiser. Se teimar em pedir à pessoa ou querer dar à pessoa aquilo que ela não precisa de receber e pedir a essa pessoa, ainda que inconscientemente, algo que ela não lhe pode dar, a relação não avança. Agora eu passo tudo a pente fino – passava e passo nas aulas. “Nesta relação você está a dar isto, está a pedir isto, está a exigir isto. A pessoa está traumatizada nessa área, não pode dar-lhe isto” – é como se fosse uma consulta profunda da natureza humana daquela pessoa e eventualmente da outra, se a questão é afetiva.

Inês Barbosa/MS

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