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É urgente acabar com o medo

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São praticamente diários os incidentes, com maior ou menor gravidade, registados em qualquer meio de transporte público ou mesmo nas estações ou paragens. Mortos (vários… demasiados), feridos graves, pessoas assustadas, traumatizadas, trabalhadores a desempenhar as suas funções em permanente alerta para o que possa vir a acontecer.

O medo espalhou-se a cada episódio relatado. O medo que fica colado ao dia a dia de utilizadores e trabalhadores dos transportes públicos. O medo que gerou reuniões, criação de task-forces, análises sociológicas, mais ou menos fundamentadas, e posições populistas ou não, mas sempre muito convenientes para o xadrez político.

Entre os inúmeros comunicados de imprensa e declarações aos jornalistas vindos de todas as proveniências – polícia, associação de utentes, sindicatos… o Mayor da Câmara de Toronto, John Tory, veio a público dar uma “novidade’ aos habitantes e visitantes da cidade que governa “conheço muitas pessoas que utilizam o TTC – os passageiros estão ansiosos e até assustados”. Pois… como se ninguém tivesse ainda dado conta disso, ou seja, que há medo, muito medo, insegurança, muita insegurança a circular (literalmente) nas ruas da cidade de Toronto.

Esta é uma situação que afeta a vida de todos os que usam os transportes públicos, por opção ou pura e simplesmente por não terem outra alternativa.

O que fazer?

A situação é grave e exige que se tomem medidas – nisso todos parecem estar de acordo, mas quais as mais adequadas e eficazes já é matéria que gera discussão e desacordo. O anúncio de um policiamento mais intensivo e com mais operacionais no terreno, ao contrário do que se poderia esperar, foi um dos maiores geradores de divergência de opiniões.

Se há quem aplauda a decisão, há quem entenda que mais polícias só trarão mais sentimento de insegurança. É o caso de Shelagh Pizey-Allen, diretora executiva do grupo de defesa dos utilizadores de trânsito, TTCRiders, que disse que a expansão da presença policial no sistema de trânsito de Toronto e nas suas redondezas é um “remedeio” que não ajudará a resolver a questão da violência na cidade. E ainda acrescentou “a polícia não aborda as causas profundas da violência … A polícia causa danos aos negros, indígenas e racializados. Algumas pessoas, sentir-se-ão menos seguras quando a polícia estiver por perto”. Pizey-Allen disse que usa o TTC quase todos os dias e ela e outros utentes têm-se sentido mais nervosos nos últimos tempos. “Não é aceitável que trabalhadores e utentes de trânsito estejam a sofrer violência, mas não estamos confiantes de que as soluções que ouvimos irão aumentar a segurança, em vez disso irão diminuir a segurança de algumas pessoas na nossa cidade”.

O aumento exponencial de pessoas sem abrigo e/ou com problemas de saúde mental pelas ruas da cidade, e o facto de muitos deles usarem os transportes públicos ou as estações como abrigo temporário, tem sido apontado como um dos fatores de insegurança e/ou desconforto.

Tammy Landau, professora associada de criminologia na Universidade Metropolitana de Toronto, lembrou a propósito que “não há provas que liguem os ataques no serviço público de trânsito a pessoas sem abrigo ou a pessoas em situação de sofrimento psicológico”. No entanto, Landau sublinha que “o número crescente de pessoas que passou a utilizar o TTC para sua segurança e abrigo indica um problema social maior”. “Parece haver picos em casos de violência, mas eu vê-lo-ia num continuum da cidade realmente não estar a tomar conta dos seus cidadãos”, disse a professora que ainda acrescentou que “existe uma certa desordem no trânsito público nos dias de hoje, por parte das pessoas que o utilizam como habitação que, infelizmente, criou um nível de desconforto em torno dos utentes. Com razão ou sem ela, as pessoas não se sentem confortáveis com isso e, francamente, como sociedade não nos devemos sentir confortáveis com esta situação”.

Mas então, como se pode resolver esta questão sabendo que os problemas sociais e de saúde mental que estão a afetar a cidade de Toronto (e GTA) não poderão ser solucionados de forma rápida?

Tammy Landau defende, por exemplo, que os 4.4 milhões de dólares anunciados para a contratação de 50 guardas de segurança do TTC e 20 embaixadores de segurança comunitária, para reforçar a segurança dos utilizadores e trabalhadores dos transportes públicos, deviam ser direcionados para apoios à saúde mental, bem como para alojar as pessoas com dignidade e segurança. “Porque é que isso vem depois de um aumento de 40 milhões de dólares para o orçamento da polícia? Sabe quanto apoio isso poderia dar às comunidades que vão acabar por ser policiadas de qualquer forma”? pergunta Landau. “A resposta fácil é fornecer mais policiamento e segurança, e é uma fraude tão grande… Não se pode policiar a resolução de problemas sociais”.

Quem nos acode?

É, realmente, caso para perguntar quem nos garante segurança. Quais as instâncias políticas que devem garantir uma vida segura ao cidadão residente no Ontário? O Governo da província? A julgar pela resposta que obtivemos do gabinete do ministro do Governo que, supostamente, tem a missão de zelar pela segurança pública – Ministry of the Solicitor General… esqueçam.

“Please note that the Ministry of the Solicitor General does not have any direct operational involvement with the Toronto Transit Commission so you may wish to contact them directly for comment. The City of Toronto and Toronto Police Service are also implementing measures to address the recent incidents of violence on the transit system. I would encourage you to contact them as well to get more information.”

Avancemos para o nível federal, numa conferência de imprensa o primeiro-ministro do país, Justin Trudeau disse que o governo federal “irá, sem dúvida, dar um passo em frente” se “houver um papel a desempenhar”, e mostrou-se “feliz por fazer parceria” com províncias e municípios.

“The federal government will continue to work with provinces and cities to ensure Canadians are safe. If there is a role for the federal government to step up, we will no doubt step up,” he said. “It’s something we are happy to partner with provinces and municipalities on.”

Resta-nos mesmo esperar que sejam os municípios a trabalhar no sentido de garantir segurança a quem trabalha e quem utiliza os transportes públicos.

E então o que está a fazer, concretamente, a Câmara Municipal de Toronto?

Reconhecendo que existem muitas questões diferentes e complexas em torno da segurança no sistema de trânsito e em Toronto, as medidas anunciadas e já implementadas enquadram-se, segundo Câmara de Toronto, numa estratégia de médio e longo prazo para garantir a segurança dos cidadãos, a saber:

Contratação de mais 20 Community Safety Ambassadors (Community Safety Team)

Estes agentes trabalham diretamente com as pessoas sem abrigo e estabelecem a ligação com os trabalhadores da City’s Streets to Homes a fim de prestarem serviços de proximidade, centrando-se no envolvimento com indivíduos sem-abrigo para construir relações de confiança, ajudar a satisfazer necessidades imediatas e, em última análise, apoiar os indivíduos na procura de habitação permanente.

Contratação de mais de 50 guardas de segurança (security guards)

Mais de 50 guardas de segurança serão temporariamente adicionados em todo o sistema. Os guardas têm experiência diária de lidar com pessoas em crise e têm formação avançada em áreas que incluem:

  • Saúde mental e primeiros-socorros
  • Prevenção de overdose, reconhecimento e formação em resposta
  • Intervenção não violenta em caso de crise
  • Formação em redimensionamento para apoiar o pessoal do TTC

O TTC também atualizou os seus horários para assegurar uma maior presença dos funcionários em pontos críticos do sistema e durante as horas de ponta.

Da Câmara Municipal de Toronto, na pessoa de Alex Burke, Manager, Media Relations & Issues Management, recebemos a seguinte declaração:

“O TTC deve ser um local seguro para todos. Isto inclui os utentes, os trabalhadores do serviço de trânsito e da cidade e indivíduos vulneráveis que necessitam de apoio adicional. O TTC, a Câmara Municipal, o Serviço de Polícia de Toronto e as agências e parceiros comunitários estão a pôr em prática uma abordagem de serviços humanos – a primeira abordagem para ligar os indivíduos aos recursos e apoios de que necessitam.
Estamos a implementar estes apoios em alinhamento com a abordagem integrada aprovada pelo Conselho Municipal de Toronto – SafeTO para a segurança comunitária. A SafeTO fornece um roteiro de como a Cidade e os sistemas sociais que servem torontonianos, tais como serviços comunitários, sistemas de saúde, sistemas de educação, sistemas de justiça, polícia e empresas, podem trabalhar em colaboração entre diferentes setores e entre governos para apoiar a segurança e o bem-estar da comunidade”.

Madalena Balça/MS

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