Temas de Capa

“É um tempo extremamente difícil para avançar com o maior aumento de impostos na história da cidade de Toronto” – Ana Bailão

45454554

 

Ana Bailão conhece bem a realidade da situação financeira da cidade de Toronto. Os anos que trabalhou enquanto vereadora e vice-presidente deram-lhe uma perspetiva privilegiada e também uma noção do que deveria ser feito para tornar a cidade melhor. Candidatou-se ao cargo de Mayor da cidade e por muito pouco não venceu. Durante a campanha eleitoral, no entanto, Ana foi dando algumas pistas sobre o que considerava ser o melhor caminho para Toronto sair da situação financeira difícil em que se encontra.

Hoje vê com agrado que algumas das suas propostas eleitorais estão a ser adotadas, pelo menos parcialmente, pela nova presidente da Câmara. Quando Ana Bailão defendeu publicamente a necessidade de acordar com o governo provincial a transferência do custo de manutenção das autoestradas, foi quase ridicularizada pelos restantes candidatos e alguma comunicação social. A verdade é que seis meses depois de assumir o poder, Olivia Chow anunciou um acordo com o Governo de Doug Ford precisamente sobre esta matéria. No entender de Ana Bailão é bom para a cidade que tenha acontecido esse entendimento, mas é preciso mais. A luso-canadiana defende que é necessário estabelecer acordos com outros níveis de governo e que antes de se entrar pelo caminho de marcar o ano de 2024, na história da cidade, com o maior aumento de impostos de sempre, devem ser revistas todas as despesas desnecessárias. O aumento de impostos teria sempre que acontecer, na opinião de Ana Bailão, mas atingir deste modo as famílias já tão afetadas pela crise económica e a viver com tantas dificuldades, não é o caminho.

Ana Bailão recorda nesta conversa com o Milénio, que Olivia Chow ao mesmo tempo que dizia que iria tornar a vida dos torontonianos mais acessível, também nunca escondeu a sua intenção de aumentar os impostos.

Milénio Stadium: Com o argumento de que é necessário voltar a “pôr na linha” a gestão do dinheiro da cidade, a proposta de orçamento avança com um aumento de 10,5% nas taxas sobre imóveis. Qual a sua opinião sobre esta medida que está neste momento em cima da mesa?
Ana Bailão: Estamos numa altura em que os moradores de Toronto estão a lidar com aumentos nas rendas ou hipotecas, na comida, nos transportes, etc., é um tempo extremamente difícil para avançar com o maior aumento de impostos na história da cidade de Toronto. Sabemos que a cidade iria enfrentar um orçamento bastante difícil, mas o primeiro passo é verificar como os serviços estão a ser oferecidos e trabalhar com os outros níveis de governo.

MS: Há ainda a ameaça de este valor poder aumentar para 16,5% se “Ottawa não ajudar a financiar mais abrigos” – podemos dizer que esta afirmação é apenas mais uma forma de pressionar o Governo federal?
AB: Sim, é uma forma de pressionar o governo.

MS: Os serviços técnicos responsáveis pela proposta orçamental lembraram que esta já “beneficiou” do acordo “histórico” com Doug Ford no valor de 400 milhões de dólares em financiamento operacional. Que comentários lhe ocorrem sobre este acordo e sobre o que ele significa para a cidade e, consequentemente, para os torontonianos?
AB: Durante a campanha eleitoral para presidente da Câmara, uma das minhas propostas principais era um acordo com os outros níveis de governo, em particular em ter o governo provincial a ter responsabilidade pelos custos destas autoestradas – os outros candidatos e muitos na comunicação social disseram que isso nunca iria acontecer. A verdade é que seis meses depois foi exatamente o que aconteceu! E é muito bom que assim seja. Mas eu também sempre disse que isso teria que ser o início da conversação. A realidade é que a cidade paga por serviços que são da responsabilidade da província e do governo federal no valor de $1.1B. Mas é também importante que a cidade, no decorrer destas conversas, seja transparente dizendo para onde os fundos estão a ser dirigidos e que revisões no orçamento está a efetuar.

MS: Como pode Olivia Chow justificar um aumento desta natureza, que afetará diretamente a vida de tantas famílias, quando durante a campanha falava em tornar a vida dos torontonianos mais acessível?
AB: Pois… essa pergunta terá que fazer à presidente, mas ela também sempre disse que estava preparada para aumentar os impostos.

MS: Que solução vê e aplicaria, caso tivesse sido eleita, para a cidade enfrentar o défice de 1,8 biliões de dólares?
AB: A situação financeira da cidade é bastante difícil e isso não se pode minimizar. Portanto, primeiro há que fazer uma revisão dos serviços e a forma como estão a sua gestão está a ser feita para ver se há poupanças que podem ser efetuadas. Depois há que trabalhar com os outros níveis de governo e tem que haver um aumento de impostos, mas este aumento tem que tomar em consideração as dificuldades que as pessoas e famílias em Toronto enfrentam no seu dia a dia.

Madalena Balça/MS

Redes Sociais - Comentários

Artigos relacionados

Back to top button

 

O Facebook/Instagram bloqueou os orgão de comunicação social no Canadá.

Quer receber a edição semanal e as newsletters editoriais no seu e-mail?

 

Mais próximo. Mais dinâmico. Mais atual.
www.mileniostadium.com
O mesmo de sempre, mas melhor!

 

SUBSCREVER