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Compre o carro e não só

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Os fabricantes de automóveis, progressivamente, têm tentado aumentar os níveis de proteção antirroubo dos carros produzidos. A evolução tecnológica tem permitido acrescentar valor ao automóvel com a introdução de recursos que têm trazido modernização aos veículos – alarmes, comandos remotos, veículos que funcionam sem chave, computador de bordo, etc. – e hoje já nem conseguimos imaginar a nossa vida de condutores sem estas ajudas tecnológicas que nasceram para nos facilitar a vida. O pior é que tudo na vida tem um lado bom e outro mau (ou pelo menos, não tão agradável).

O que se passa é que toda esta tecnologia torna os veículos mais vulneráveis porque, como podem ler nesta conversa que tivemos com Tony Carvalho, New Car Sales Representative, da Applewood, os ladrões destas redes organizadas de crime conseguem ter ao seu serviço mais recursos tecnológicos dos que os fabricantes de automóveis e dessa forma vão superando sempre os obstáculos que vão sendo criados.

tony carvalhoMilénio Stadium: Os carros, os automóveis de hoje vêm quase todos eles já com alguma proteção antirroubo. Com os números de roubos de veículos a aumentarem como estão, principalmente em carros de alta cilindrada, na sua opinião, como conhecedor de carros e vendedor de automóveis, o que é que está a falhar?
Tony Carvalho: Todos os fabricantes de automóveis têm implementado nos veículos certas coisas para eliminar a possibilidade de o carro ser roubado. Uma coisa é certa se o ladrão quiser roubar o seu carro, ele vai roubar o carro. Os ladrões têm sempre mais tecnologia do que os fabricantes de automóveis. Dou-lhe um exemplo: muitas vezes eles põem uma antena em frente da casa e com essa antena fazem uma duplicação do código para fazer uma chave. Vão fazer uma chave em 15 minutos e vêm para trás, para levar o carro. Agora a General Motors implementou um novo software que faz com que eles levem duas horas para fazer uma duplicação. Ora ninguém vai ficar sentado, duas horas, em frente de uma casa. 15 minutos ainda vai, agora, duas horas…

MS: Mas, portanto, considera que os carros, dentro do que é possível, estão já bem equipados ou com mais segurança antirroubo do que nunca?
TC: A maioria dos carros agora tem sistema antifurto de série e duplicar uma chave é cada vez mais difícil. Mas é como digo os “artistas” têm mais tecnologia e descobrem maneiras de fazer tudo.

MS: Como o vendedor de automóveis, que conselhos dá, nesta área da segurança da própria viatura, aos seus clientes no momento em que eles estão a escolher um carro para comprar?
TC: A primeira coisa que aconselho é que ponham um alarme antifurto. Os automóveis já vêm com alarmes do fabricante para tentar que o carro não seja roubado, mas podemos pôr outras coisas além do que vem de fábrica, como, por exemplo, um Kill Switch (interruptor de ativação). Quer dizer, nas viaturas sem o Kill Switch você tem um controlo remoto que vem de fábrica e abre portas e põe o carro a trabalhar. Quando a viatura tem um Kill Switch instalado só a consegue pôr a trabalhar se tiver um outro controlo remoto consigo. Sem aquele segundo remoto, não dá. Aquele segundo controlo remoto é completamente diferente do de fábrica. E o que é que aquilo faz? Não dá autorização para o motor arrancar sem ele estar presente.
Isso é uma das coisas. Outra coisa… muitos não têm paciência, mas se tiverem garagem devem pôr o carro dentro da garagem. Um dos grandes motivos para muitas pessoas não fazerem isso é que muitos (como eu…) temos a garagem cheia de coisas, mas a verdade é que se eles não virem o carro, eles não sabem que existe ou desistem de o ir roubar. Mas eles têm imensos truques para descobrir carros para roubar. Por exemplo, eles vão aos parques de estacionamento de cinemas veem um tipo de carro que lhes agrada para roubar, não fazem nada lá, mas metem uma coisa chamado um Apple Air Tag no carro, por baixo do chassis, e conseguem fazer o tracking do seu carro. Deste modo, descobrem onde você vive e com isso eles podem ir a sua casa, vão fazer uma investigação para ver onde e quando você está lá, quando não está e se deixa o carro cá fora ou não e depois vão a sua casa e roubam o carro.

MS: Para além do Kill Switch há algum tipo de extras que podem ser acrescentados à viatura, de modo a aumentar a proteção antirroubo?
TC: Esse é o mais eficaz e o que mais se usa nos carros todos – a Mercedes, o Range Rover e outras marcas estão a usar coisas assim, é o mais fiável. Por outro lado, há uma coisa que se pode comprar no Canadian Tire – aquela barra que se põe no volante e no pedal do acelerador. Não é muito sofisticado, mas o fulano que está a roubar o carro se não é um profissional e vê uma coisa dessas acaba por desistir. Claro que os que são mais profissionais cortam aquilo e roubam o carro na mesma, mas dá mais trabalho e nós temos que lhes dar mais trabalho. Eu já vi pessoas, clientes meus, mostrarem vídeos destes fulanos a irem às casas a uma certa hora e depois umas duas horas depois, voltam para roubar o carro.

MS: Todos sabemos que há marcas que são mais roubadas do que outras. Isto é uma evidência, mas tem a ver com o quê: o tipo de proteção antirroubo que os automóveis têm ou é mesmo porque determinada marca é mais apetecível para a rede criminosa, por ser mais facilmente recolocada num qualquer polo de vendas?
TC: Porquê? Porque 99% destes automóveis que estão a ser roubados, estão a ser exportados para África, Ásia, Médio Oriente, para países como a Rússia ou outras partes do mundo. E é preciso ver que um Range Rover que uma pessoa paga aqui 150.000$ lá eles vão buscar $300.000 ou mais. E por causa disso, há certos carros aqui que dão muito mais rentabilidade para vender nessas zonas do mundo, porque é o dobro do preço. E quais são os carros mais roubados? O Range Rover é Number One, depois pick up trucks e isto funciona por fases. Basicamente, trabalha assim: os contactos das outras partes do mundo dizem “precisamos de 20 pick up trucks”, os que estão aqui roubam e mandam-nos para Montreal, para as docas e daí os carros seguem para o destino final.

MS: Que tipo de cuidado é que tem com os funcionários que trabalham num stand de automóveis e que têm acesso a códigos de chaves e ao VIN das viaturas? Que tipo de cuidados é que tem um proprietário de um stand de automóveis, relativamente às contratações de colaboradores, para garantir que não sai dali informação que pode ser valiosa para quem rouba?
TC: Isso é muito difícil. Obviamente, quando uma pessoa trabalha num stand grande muitas pessoas têm acesso aos carros. E o dono da empresa precisa de fazer contratação de pessoal. Bom, terá que ser pessoas em quem se tem confiança. Eu estou com a Applewood há 11 anos e nunca tivemos um carro roubado. Mas não quer dizer que não aconteça, noutros lados. E, na verdade, uma pessoa nunca pode garantir que isso não vai acontecer. Podemos fazer o melhor para proteger, até porque quem perde somos nós.

MS: O governo federal acabou de lançar um plano nacional de combate ao roubo automóvel. Na sua opinião, já nem é tanto como homem que trabalha nesta área, mas como cidadão canadiano, o que é que acha que pode realmente ser feito para travar o roubo e consequente exportação dos automóveis?
TC: Isto é difícil. É preciso mais polícias, é preciso mais atenção. Isto exige muita mão-de-obra, muita gente para tratar dos roubos e tentar seguir o rasto dos carros roubados. São precisas muitas pessoas. Claro, é necessária muita investigação para ver para onde os carros estão. Isto são organizações complexas de crime makers. E, às vezes, muitas dessas organizações têm pessoas lá dentro que sabem algumas coisas. Eu não sei o que é que o governo vai fazer e o que é que pode fazer. Só acho que deve ter mais gente para estarem em cima de coisas assim, ter mais fiscalização, fazer um controlo mais apertado. É preciso mais polícias nas docas para verificarem os contentores onde esses carros estão. Esses carros estão a entrar para os contentores, é preciso que esses contentores sejam verificados antes de entrarem nos barcos.

Madalena Balça/MS

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