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As lições dum ano atípico

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Este ano tinha tudo para ser bonito. Um ano em espelho, 2020, até esteticamente tinha tudo para ser bonito. No início do ano estava já entusiasmada com o mês de junho, a preparar a festa do primeiro aniversário do meu filho na minha cabeça e no meu Pinterest. Apesar de viver um bocado no lado pessimista da vida, obrigo-me a ir para o lado oposto para encontrar um meio termo, e por isso quis mesmo acreditar que este ano seria melhor que o anterior. No fim de janeiro comecei a lidar com as notícias que chegavam de Wuhan. 

Achei aquilo estranho, mas “longe”. Diariamente fazia (e faço) o Minuto Milénio e cada vez me apercebia mais e mais da gravidade das coisas por lá. Mas “lá” era muito longe. Todos sabemos que o “lá” se transformou no “aqui”. Tudo mudou na forma de estar e até de ser. Em março comecei a trabalhar de casa e fiquei com o meu filho. Um bebé que me obrigava, obviamente, a controlar o meu tempo de forma bem rígida para conseguir sempre cumprir com os meus compromissos profissionais. Comecei a trabalhar bem mais cedo, a fazer pausas maiores, e a fazer turnos noturnos. No início encontrar a rotina perfeita foi difícil, mas agora já consigo gerir tudo com muita fluidez e naturalidade. Mas esse tal início foi ainda mais complicado para mim porque, diariamente, ficava mais e mais preocupada com este vírus que insistia em tirar a vida a tanta gente – sei que fiquei quase paranoica. Pelo meu bebé, pelos meus pais, pelas minhas avós. A certa altura, nessa fase inicial da pandemia, a Camões TV começou com um telejornal diário. Desde então que escrevo os scripts das notícias e, consequentemente, fui eu que durante este ano atualizei, dia após dia, o número de infetados e mortos. Talvez por isso tenha esta dose extra de preocupação. Mesmo que eu quisesse fingir por um dia que isto não está a acontecer a milhares de famílias, que este vírus não tem dado descanso aos profissionais da saúde, não conseguiria. No entanto, do outro lado da moeda, tive a minha mãe por perto como já não tinha há anos e consegui estar presente em momentos especiais da vida do meu Zion: vi na primeira fila os primeiros passos! Foi um ano de desafios, acredito que para todos. De obstáculos interiores, numa luta contra o isolamento mesmo que isolados. Mas talvez haja um lado bom: sentir saudades de quem realmente nos faz falta, dar valor aos abraços que sempre foram tão banais e às pessoas que, do nada, podem já não conseguir estar connosco. Talvez assim tenhamos aprendido a dar a devida atenção e tempo aos nossos enquanto podemos. Pelo menos eu quero focar-me nisso e tirar essa lição deste ano complexo. 

Catarina Balça/MS

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