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Mães a tempo inteiro

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Durante décadas a Mulher lutou para se libertar da imagem que lhe estava colada – “a mulher é para ficar em casa a cuidar dos filhos e da lida doméstica”. A luta, ano após ano, deu frutos e hoje a Mulher é, em grande medida, dona do seu destino. Ficar ou não em casa, a exercer o papel de mãe a tempo inteiro, passou a ser uma escolha e não um destino marcado. Claro que estamos a falar de uma forma genérica e poderá haver exceções, mas na nossa realidade social são apenas isso – exceções.

Recentemente, a muito popular Jacinta Arden, primeira-ministra da Nova Zelândia demitiu-se. Entre as razões apontadas, para além de cansaço, falta de energia para mais, a líder política apontou ainda, como justificação para a sua decisão, a necessidade de se dedicar mais à sua família. Será este um sinal de fraqueza? Será que esta decisão vem dar razão aos que (ainda) defendem que a Mulher não tem perfil para determinados cargos, porque não aguenta a pressão e o desgaste familiar? As respostas as estas perguntas podem ser encontradas em vários artigos deste jornal, mas aqui trago-vos dois exemplos de mães que um dia, tal como Jacinta Arden, decidiram que queriam mudar. Os motivos são por certo diferentes na sua especificidade, mas iguais na essência: queriam acompanhar mais de perto o crescimento dos seus filhos e assumir como seu trabalho a tempo inteiro – ser Mãe. Por escolha própria!

 

Cátia Almeida – 33 anos – 3 filhos

Como mulher, mãe e trabalhadora um dia chegou à conclusão que não era possível conciliar todas estas facetas no seu dia a dia. Onde sentia que estava a falhar? Como mãe? Ou como trabalhadora?
Senti que estava a falhar como mãe, ter que os deixar cedo na baby-sitter, trabalhar todo o dia e depois quando chegava a casa, ainda tinha as tarefas domésticas e depois cozinhar, etc… Resumindo, quando chegava a hora de ficar com eles ou na hora do banho, ou os pôr a dormir já estava exausta e era o tempo que tinha com eles ou só ao fim de semana. O que me fazia trabalhar muito era pensar no futuro para eles, dar-lhes tudo, não faltar em nada, mas falhava no tempo de qualidade com eles.

Sentiu que, de algum modo, podia estar a perder tempo precioso do crescimento dos seus filhos, trabalhando fora de casa?
Sim, sem dúvida! Para responder a essa pergunta vou dar um exemplo prático que aconteceu comigo relativamente a um dos meus filhos – perdi os primeiros passos que ele deu porque tive de trabalhar e deixá-lo na baby-sitter. Fiquei triste, porque são momentos que todas nós, mães, gostamos de ver, gravar, para depois recordar. Perdi uma das fases de crescimento do meu filho!

Em nenhum momento se sentiu diminuída por ter tomado a decisão de ser “apenas” mãe?
Sim, sinceramente. Mas isso depende de muitos fatores e apoio que temos tanto de família ou do marido que temos a nosso lado. Temos que deixar de seguir os nossos sonhos ou trabalho, e dedicarmo-nos inteiramente aos nossos filhos. Atenção – decisão da qual também não me arrependo. Ser mãe a tempo inteiro.

Na sua opinião, por que razão, no seu caso e na grande maioria de todos os outros, quem abdica de uma vida profissional em prol dos filhos e da família é a mãe e não o pai?
Boa pergunta e teria muito para dizer…
Primeiro, em minha opinião, acho que só pela palavra Mãe já carregamos uma grande responsabilidade e, lá no fundo, por mais que os pais, às vezes, não assumam, nós mães é que estamos sempre prontas para tudo e não pensamos duas vezes quando se trata dos nossos filhos. Para fazer, para tratar, cuidar… lista que não acaba…
Segundo, o homem não tem aquela habilidade de fazer tudo e mais alguma coisa e ainda ter que ter cuidado e paciência com os filhos. Atenção não quer dizer que não haja homens capazes de fazer isso, mas é raro!
Terceiro, infelizmente também, deve-se ao facto de o homem ganhar mais que a mulher e isso sempre pesa na balança. Assim o pai é que tem que ir trabalhar. A sociedade em si faz com que fiquemos sempre com o papel principal da família.

Se fosse o seu marido a ficar em casa, como acha que seria olhada a sua família? O que diriam do seu marido? E de si?
A sociedade e o passar do tempo, por mais que evoluam em muita coisa e tecnologia, especialmente entre nós portugueses, não muda a mentalidade. Parece que fica parada no tempo. Portanto, se for um homem a ficar em casa é considerado “feio” ou rotulado como “malandro”, o que vive “ás custas da mulher” e isso muitas das vezes também é usado , vice-versa, em relação à mulher.

 

 

Aline – 36 anos – 3 filhos

Como mulher, mãe e trabalhadora um dia chegou à conclusão que não era possível conciliar todas estas facetas no seu dia a dia. Onde sentia que estava a falhar? Como mãe? Ou como trabalhadora?
Senti que estava a falhar como mãe porque chegava tarde em casa, não conseguia pegar as crianças no horário na escola, sempre muito trânsito e com isso me atrasava. Não dava para fazer comida, pegava as crianças sempre com muito stress no final do dia.

Sentiu que, de algum modo, podia estar a perder tempo precioso do crescimento dos seus filhos, trabalhando fora de casa?
Sim! Sentia que eu estava sempre cansada, stressada, sem tempo para passar com as crianças. Não participava do desenvolvimento delas e nem de atividades. Não via como elas estavam crescendo e aprendendo. Sentia que não estava sendo uma boa mãe .

Em nenhum momento se sentiu diminuída por ter tomado a decisão de ser “apenas” mãe?
Não, apesar de sentir falta da minha liberdade financeira. Graças a Deus, meu marido sempre deu muito valor ao meu trabalho de mãe e todos os dias ele me diz o quanto é grato por isso.

Na sua opinião, por que razão, no seu caso e na grande maioria de todos os outros, quem abdica de uma vida profissional em prol dos filhos e da família é a mãe e não o pai?
Acredito que, por serem mais amorosas e dedicadas, as mães sempre estão dispostas a se doar mais. Já os homens, estão sempre dispostos, na maioria, a fazer o trabalho pesado para trazer o sustento para casa, para que sua família possa desfrutar.

Se fosse o seu marido a ficar em casa, como acha que seria olhada a sua família? O que diriam do seu marido? E de si?
Acho que seria trabalho dobrado porque o meu marido não é muito organizado e eu sou. Então quando eu chegasse em casa, teria dois trabalhos, então é melhor não. Deixa como está, no momento.

Madalena Balça/MS

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