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Amar sem condições

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A família onde nascemos molda a pessoa em que nos transformamos. As regras, os valores e os princípios, que são transmitidos nos gestos mais simples, são absorvidos e entram na nossa mente. Para o mal e para o bem. A família hoje assume várias formas, já deixou de ter aquele contorno rígido, de pai, mãe e filhos, que uma educação tradicional considerava ser o certo.

Essa conceção de família-tipo, sem sequer admitir que pode haver um outro conceito mais aberto e mais de acordo com o que deve realmente interessar, o amor verdadeiro, foi ao longo do tempo sendo construída debaixo de uma educação religiosa muito tradicional e altamente castradora. Neste enquadramento, para muitos, ainda hoje, um casal é constituído por um homem e uma mulher e nem concebem que na sua família surja alguém que sinta e queira viver de maneira diferente.

Kristina nasceu e desenvolveu toda a sua personalidade no seio de uma família de origem grega, muito religiosa. Nunca sentiu margem para sequer questionar a sua orientação sexual. No seu íntimo assumiu que teria que ser aquilo que sempre lhe foi passado como “normal”, ou seja, heterossexual. Casou com um homem, tal e qual como o que viu sempre acontecer nas celebrações de união heterossexual a que assistia. Depois de anos sem perceber o que lhe trazia tanta perturbação à sua saúde mental, tanta infelicidade, Kristina já com marido e dois filhos descobriu que a felicidade que nunca tinha sentido verdadeiramente, estava dependente de assumir a sua essência. Kristina apaixonou-se por uma mulher, com quem vive hoje.

Acabou com o casamento e percebeu que a sua família de raiz a amava sob condição quando foram cortados todos os elos de ligação. Hoje Kristina sente que perdeu a sua família só porque quis ser verdadeira consigo própria e, deste modo, ser feliz. A vida trouxe-lhe uma família onde ama e se sente amada sem condições e tudo ganhou outro sentido.

Kristina Victoria_Annawithlove Photography_WEB--81Milénio Stadium: O que é “família” para si?
Kristina M: Família significa uma ligação e uma comunidade entre pessoas que se apoiam mutuamente. É amar sem condições ao longo das fases da vida de cada um. Os momentos difíceis, os momentos fáceis e os momentos de transformação.

MS: Depois de ter tido uma família heterossexual, assumiu-se gay e começou uma vida familiar diferente. Foi difícil assumir este desejo de viver com a mulher que ama?
KM: Foi extremamente difícil e quase impossível assumir esta vida desejada. Fui criada numa família grega religiosa e tradicional em Toronto. Fui criada apenas a assistir a celebrações e uniões heterossexuais e não havia qualquer representação de relações lgbtq, especialmente lésbicas. Por causa disso, tive muita homofobia interiorizada e não fui capaz de me aperceber que era gay.
Lidei com depressão, ansiedade e ideação suicida depois de me casar com o meu marido. Como é que sobrevivi? A minha mentalidade era enfrentar a pior tempestade que viesse e rodear-me da minha família de eleição e dos meus sistemas de apoio. Investir na minha saúde mental e fazer terapia também foi imperativo para ultrapassar a transição.

MS: Como é que os seus filhos reagiram à nova realidade da sua vida?
KM: Os meus filhos são bastante pequenos, 3 e 5 anos. Adaptaram-se muito bem com muita ligação emocional e terapia infantil. Tenho o prazer de lhes mostrar como é uma mãe feliz.

MS: E os seus familiares diretos, que tipo de reação tiveram e como é hoje a relação deles consigo?
KM: Os meus familiares ficaram muito chocados. Não tive oportunidade de me assumir perante eles, o meu marido revelou-me à minha família sem o meu consentimento.
Aparentemente, é muito comum os cônjuges fazerem isto, imagino que ele tenha ficado bastante emocionado e chocado. No entanto, isso afetou-nos a todos. Atualmente, a minha família não está em contacto comigo. Tem sido muito difícil perceber que há condições para o seu amor por mim e tive de fazer o luto pela perda da minha família, que tem sido uma das partes mais difíceis de tudo isto.

MS: Cresceu no seio de uma família que, imagino, lhe ensinou determinados valores e princípios. São esses os valores e princípios que guiam a sua vida hoje e que vai tentar transmitir aos seus filhos?
KM: Eu diria que tenho valores e princípios diferentes que estou a transmitir aos meus filhos. Os meus valores e princípios são centrar-me na saúde mental, certificar-me de que eles se sentem autenticamente eles próprios, independentemente do que os outros pensam deles, e confiar nos seus sentimentos interiores e em si próprios na vida.

MS: Considera que, atualmente, as famílias homossexuais são devidamente respeitadas? Em caso negativo, o que é que precisa de ser feito para garantir que o sejam?
KM: Eu diria que não, as famílias homossexuais não são suficientemente respeitadas na sociedade. Deveria haver mais educação e abertura de espírito. Amor é amor, independentemente do sexo e do género, todos merecemos a felicidade.
MB/MS

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