Augusto Bandeira

Que felicidade havia…

boy on tricycle

Muito se aprendeu sem tecnologias. É a prova que a felicidade não se faz com materiais. Anos 70 e 80, década em que tudo era possível, mais a década de 80, nos anos 70 aconteceram muitas coisas, mas a política acabou por se sobrepor a tudo, o que devemos aceitar, é muito natural, por varias razões – porque tivemos uma ditadura de 40 anos, não foi fácil viver antes da revolução de abril – a política marcou a década de 70. 

Eu era um miúdo, mas guardo muitas recordações. Havia a tristeza de pouco se ter e muitas vezes querer algo para a boca e não ter, mas a alegria de viver era diferente, mas não quero voltar para trás. Na altura as coisas eram difíceis e a revolução deu uma volta a tudo e todos aprenderam a viver de forma diferente. Depois de alguma estabilidade e quando voltou tudo à normalidade, olhou-se à volta e percebeu-se que não havia nada, foi preciso fazer tudo. Havia uma taxa de analfabetismo na casa dos 18% e destes 18, 23% eram mulheres. Segundo  dados, a inflação chegou aos 22.4%, a sorte foi a chegada da déjá vu, era o nome que foi dado ao resgate financeiro do FMI. A década de 70 começa muito mal, mas houve uma rampa crescente no final e inícios da década de 80. Foi em 83 que veio o déjá vu, de novo, e começaram a aparecer as músicas, por exemplo o grupo musical GNR deu um salto muito grande.  Portugal entrou na CEE, pouco depois começam a entrar os fundos e o dinheiro passou a ter um valor muito forte. Em pouco tempo, houve um contraste, em relação aos anos 70, muito grande. Até a juventude passou a ser mais vistosa, alegre e muito se aprendeu nestas alturas, nada como hoje. 

Os bailes de garagem, as festas, sem brinquedos, nem jogos de consola, aprendeu-se a jogar à bola na rua, bola que muitas vezes era feita de plásticos enrolados, aprendeu-se a jogar às escondidas, aprendeu-se a jogar à macaca, aprendeu-se a jogar ao pião, aprendeu-se a jogar à cabra cega, aprendeu-se a caçar pardais com fisgas, aprendeu-se a apanhar pardais com pescoceiras, que se compravam, quem podia, outros faziam com arame, dava-se uma volta pelos caminhos com mais silvado para se comerem amoras,  tirava-se um pouco para ir aos ninhos… As famílias comiam todos à mesa e havia conversa, havia respeito pelos outros, havia conversa entre pessoas, mesmo com pouca escolaridade as pessoas sabiam entrar em qualquer tema de conversa. Que bonita foi a década de 80, as músicas até eram diferentes, havia para todos os gostos, as pessoas divertiam-se, não havia títulos, nem etiquetas. Havia o que hoje não há – respeito pelos amigos, pela família e sabia-se estar em público. Que saudades eu tenho da década de 80.

E hoje? Como tudo mudou… 90% não consegue ter tema de conversa, o respeito e o saber fica pelos títulos. Neste campo ainda consegue ser pior do que no início da revolução, há pessoas que com o título se julgam muito importantes. Perdeu-se o respeito pelos outros, muitos tratam os amigos como objetos, só se lembram quando precisam, outros ignoram julgando ser melhores que tudo e todos. 

Hoje há mais nariz empinado, as pessoas esqueceram-se de onde vieram, há coisas nos dias de hoje que não passa de uma rebaldaria, todos sabem muito, mas responsabilidades, nada, sabe-se muito é culpar os outros. Nada disso acontecia no passado, havia gosto e prazer no que se fazia. As tecnologias vieram para estragar o futuro, 90% dos jovens passam o tempo em frente a um ecrã a jogar, desporto não fazem, brincar também não sabem, ter uma conversa nem se fala, qualquer dia vai haver jovens a usar uma fralda para não perderem tempo a ir à casa de banho. 

Dizem que se sofreu muito no início da revolução, mas a continuar assim o futuro até pode vir a ser excelente, mas as gerações futuras podem vir a sofrer muito mais. Muita coisa só se vai notar quando se precisar de algo e ninguém vai saber fazer, porque ninguém quer aprender.

Os nossos pais assim diziam de nós, nós hoje dizemos dos nossos, e os nossos dirão dos deles, é o ciclo de vida que todos vão aprendendo com a idade. Que seja sempre para melhor, mas que nunca se esqueça o passado e de onde viemos.   

Que venham muitas décadas de 80.

Bom fim de semana.  

Augusto Bandeira/MS

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