Augusto Bandeira

Filho/a, com este/a tu podes casar, é de boa família

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Afinal, como se distinguem as qualidades de um ser humano? Será que é pela riqueza da família, ou pela forma como a vivem?

Em miúdo, na aldeia que me viu crescer e passar a adolescente, muitas vezes ouvi pessoas em conversas de cavaqueira. Era típico dizerem uns para os outros, “olha a filha de A, namora para o filho de B, ai ela pode estar sossegada ele é de boa família” e vice-versa. Assim era… muitas das vezes as famílias preocupavam-se com o tipo de família a que os seus filhos se poderiam vir a juntar – se fosse filho/a de mãe solteira, os pais da outra parte não aceitavam e nem ajudavam no futuro. Se fossem filhos de “boa família” as coisas eram diferentes. Era assim a hipocrisia e a fachada de muitas famílias. Para não falar de quando se preocupavam com a riqueza uns dos outros. Os filhos só se podiam juntar se houvesse algo visível, tipo muito lavradio, muitas cabeças de gado, ou tinham que ter um estatuto, tipo frequentado a escola vários anos ou um curso superior. Ainda hoje se veem famílias que escondem os problemas e até incentivam os filhos a não se separarem, mesmo sabendo que estão a sofrer, porque acham que é uma vergonha. Preferem ver o/a filho/a a sofrer porque acham que vão perder o estatuto de família boa e feliz.

Se olharmos para casos concretos os maiores escândalos vêm de famílias consideradas as tais “boas famílias”, mas ninguém comenta ou faz juízo sobre o que se passa. A maioria tenta esconder os casos porque acham que é vergonha. É isto que se vive na sociedade, fachada de famílias! Coisas más e coisas boas há em todo lado e não podemos subestimar aqueles que nasceram em famílias mais pobres ou, melhor dizendo, com menos capacidades de se projetarem, não quer dizer que não são boas famílias, até podem ser muito mais educados que os tais que se julgam ser de famílias consideradas boas, e até muito mais inteligentes, só que não conseguem as mesmas oportunidades que os mais afortunados e isso prejudica a sociedade. Nunca julguem ninguém pelas aparências – e isso acontece no campo familiar, não devemos dizer aquele é de família… ou não tem estatuto que os nossos merecem.

Mas infelizmente isto acontece em tudo… é nos cargos, é na forma como são julgados em tribunal, é na forma como os professores olham para os alunos etc.. Em 2019 vi uma notícia num jornal semanal que dava conta de um miúdo ter violado uma colega, esse miúdo filmou o ato e partilhou o vídeo com os amigos. Isto é um caso muito grave, podia ter acontecido a qualquer cidadão e tenho a certeza de que ninguém ficaria satisfeito se fosse um filho nosso. O final foi triste, quando se soube que o juiz o ilibou porque ele “era de boa família”, frequentava uma excelente escola, então fizeram-lhe o julgamento em relação ao estatuto familiar, porque uma condenação poderia destruir-lhe a vida. Isto, perante o resto, é triste saber-se da forma como as coisas foram julgadas. Se olharmos ao contrário, como seria a decisão do juiz se fosse um miúdo de uma família pobre de um bairro ou um miúdo filho de mãe solteira com poucos recursos financeiros, entre outros… será que isto nos diz que há casos nas sociedades em geral onde o apelido e o dinheiro de família ainda têm peso? Se somos cidadãos de primeira ou segunda?

Por favor, acordem e olhem-se ao espelho, depois de lavarem a cara com água bem fria, para perceberem bem a questão de famílias boas e menos boas. Conheço muito bem uma família que o pai é filho de mãe solteira e a mãe é filha de família com esse tal estatuto, de onde saíram médicos, engenheiros, freiras, quase padres e empresários e, do tal lado bom, só falta andarem à porrada em publico. É das maiores fachadas que eu conheço. E do outro lado o tal senhor, filho de mãe solteira, fez na vida o que poucos conseguiram, educou os filhos da melhor forma possível. Os tais que se achavam perfeitos, que fechavam a porta da casa dos avós aos filhos do pai de mãe solteira, sempre andaram em turras e de costas voltadas e as novas gerações continuam a viver de fachada. É isso que se chama família perfeita? Chamem-lhe famílias interesseiras e sem uma educação familiar e pobres de espírito.

A coisa mais importante no ser humano e para se ter a família unida e com um relacionamento positivo é o diálogo, sem ele não se conseguem conhecer e perceber as necessidades uns dos outros. Há que haver união em tudo, mas na família mais do que em tudo e sem se subestimarem uns os outros. Todos devem ser vistos da mesma forma e respeitados. A proximidade entre pais e filhos faz a diferença no futuro, por isso se não tem por hábito convidar os seus filhos para um almoço familiar, faça-o este fim de semana e deixe os estatutos sociais de lado. Só se vai ajudar a si próprio.
Bom fim de semana.

Augusto Bandeira/MS

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