Aida Batista

O triunfo do sonho

 

Não tenham medo!
Apelo do Papa Francisco aos jovens

 

Cresci numa família profundamente católica, de missa dominical obrigatória, terço diário e oração de ação de graças à mesa, antes de cada refeição. Para além destas práticas, havia ainda outras, como as novenas em certas datas do ano e o total respeito pelas sextas-feiras da quaresma em que nunca se comia carne. Por isso, fiz toda a minha escolaridade num colégio privado das madres Doroteias até ao 5º Ano (hoje 9º Ano). Só depois de concluído este, comecei a frequentar o liceu público para terminar o ensino secundário.

Tanto eu como todos os meus irmãos fomos batizados, fizemos a primeira comunhão, a comunhão solene e recebemos o crisma. Casei pela Igreja e batizei os meus filhos, mas, pouco a pouco, fui-me distanciando, assim que comecei a perceber que nem sempre a doutrina religiosa era consentânea com o comportamento de alguns elementos do clero. Passei a frequentar a Igreja apenas em situações de natureza puramente social, ou seja, casamentos, batizados ou funerais.

Serve este preâmbulo para explicar que ouvi o anúncio das JMJ (Jornadas Mundiais da Juventude) sem me sentir movida por nenhum entusiasmo especial; como se de um outro qualquer evento se tratasse, daqueles que igualmente congregam milhares de pessoas. À medida que a data do evento se foi aproximando, fui acompanhando as polémicas sobre os custos dos altares, e concordei com os cortes nos orçamentos inicialmente previstos, de modo a torná-los mais minimalistas no formato e nos gastos. Achei que ficariam mais consentâneos com toda a filosofia de vida de Sua Santidade que, desde que iniciou o seu pontificado, tem praticado a renúncia a tudo quanto evidencia riqueza e opulência.

Nunca alinhei, contudo, com os discursos derrotistas que punham em causa a nossa capacidade de organizar as Jornadas. Quais arautos da desgraça, prenunciavam falhanços em todas as frentes, desde a segurança e assistência médica, à regulação do trânsito e manifesta impossibilidade de Lisboa receber mais de um milhão de peregrinos. Várias vozes, da direita à esquerda do espetro político, profetizaram o caos, na linha do quanto pior, melhor!

Durante a semana em que decorreram as JMJ, fui a banhos para o Algarve e, como sempre acontece quando estou de férias com a família, vivo desligada da televisão. Não segui, por isso, em direto as cerimónias, mas fui tendo acesso aos resumos noticiosos. Devo confessar que momentos houve em me senti tocada e me cheguei a comover. Penso que, tal como eu, poucos conseguiram ficar indiferentes à força das imagens que nos chegavam. Não fazia a mínima ideia de certos detalhes do programa, como os momentos musicais interpretados pelos nossos artistas em diferentes momentos, a encenação e coreografia da via-sacra no Parque Eduardo VII ou a enorme surpresa de ver o DJ padre Guilherme Peixoto a despertar os jovens às 7h da manhã, após a noite de vigília no Parque Tejo, com êxitos de música pop eletrónica. O enquadramento dos diferentes cenários de elevado sentido estético, em que se destacava a alegria de milhares de jovens oriundos de mais de 150 países, superou as minhas expectativas e deixou-me completamente deslumbrada!

Alguns insistirão que houve falhas e eu tenho a certeza de que elas existiram. Acontecem em qualquer evento desta envergadura em que há sempre lugar para o imponderável. Nem tudo se pode prever!

Terminadas as Jornadas, e esgotadas todas as palavras sobre a figura carismática de Sua Santidade, o Papa Francisco, tudo quanto pudesse agora acrescentar seria redundante, a não ser concluir que, afinal, sou crente. Crente no meu país e no seu povo que foram um exemplo para todo o universo religioso. 

De tanto nos afirmarmos pequenos, esquecemo-nos de como podemos ser grandes. E somos, sempre que lançado o desafio de viver entre o medo e o sonho, escolhemos o sonho!

Aida Batista/MS

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