Aida Batista

Lutar contra a passagem do tempo

Tradutor Paulo Teixeira, o autor Fernando Mariano Cardeira e Daniel Bastos. Créditos: Maques Valentim.

 

No cinquentenário das celebrações do 25 de Abril, temos uma chusma de eventos por todo o país, que percorrem as mais variadas manifestações de arte e cultura: espetáculos musicais (maioritariamente ligados à música de intervenção), peças de teatro, sessões de poesia, exposições, sem esquecermos os inúmeros colóquios a realizar ou já realizados, dentro e fora do país. De entre todas estas iniciativas, ganha particular destaque o lançamento de livros que, sob vários prismas, abordam a revolução nas suas três vertentes: o antes, o durante e o depois. Vou sublinhar aquele a cuja apresentação tive o privilégio de assistir no passado dia 12, numa sala cheia na Associação 25 de Abril, com o sugestivo título “Memórias da Ditadura – Sociedade, Emigração e Resistência”.

A conceção e realização desta obra partiu do nosso prestigiado Historiador Daniel Bastos – bem conhecido como colaborador deste jornal – que já nos habituou a crónicas que são o resultado dos seus estudos e aturada pesquisa direcionada para figuras e problemas da e/imigração. Semana após semana, traz-nos retratos de associações, de homens e mulheres da nossa diáspora, numa manifesta prova da vitalidade dos bem-sucedidos percursos fora de portas.

Trata-se de um livro de capa dura, com simbólicas fotografias, na capa e contracapa, de Fernando Mariano Cardeira, o autor de todas as imagens a preto e branco que constituem o miolo da obra. O negro e branco da capa e das fotografias (obtidas em Portugal e durante os anos de exílio) representam bem o cinzentismo da ditadura que Portugal vivia. O conteúdo é bilingue – português e inglês – cuja tradução ficou a cargo de Paulo Teixeira, o que permite atingir um público muito mais vasto.
A chancela de qualidade sai acrescida com o prefácio de José Pacheco Pereira, reputado investigador, jornalista, cronista, comentador e político português, fundador do Arquivo-Biblioteca Ephemera, uma das maiores bibliotecas privadas portuguesas. Com o seu acervo histórico, também Pacheco Pereira pretende manter uma luta permanente contra o esquecimento.

 

 

Daniel Bastos escreveu uma valiosa introdução que coloca a tónica num “país profundamente imobilista, de costas voltadas para a Europa, receoso dos ventos da mudança, orgulhosamente isolado, rural, pobre, atrasado, analfabeto e envolto num traumático e longo conflito militar.” Esta viagem no tempo, feita ao leme das palavras de Daniel Bastos, é-nos mostrada ao pormenor pelo espólio fotográfico inédito de Fernando Mariano Cardeira, militar, mas oposicionista do regime, o que o levou a desertar e a viver como exilado político. Isso não o impediu de se manter sempre muito ativo através da sua máquina fotográfica, que Daniel Bastos define como “instrumento de denúncia e resgate da memória”. É neste objetivo que se centra cada uma das fotografias que compõem este livro, impressionantes pelo realismo com que escancaram um Portugal a que muitos, num saudosismo doentio, gostariam de voltar. Parece estranho que haja quem continue a defender esse período e que, no nosso quotidiano, oiçamos vozes que nunca conseguiram aceitar os ventos da revolução. Por isso, é tão premente, como insiste o prefaciador: “contar, narrar, mostrar”.

O livro foi apresentado, de forma muito concisa, mas objetiva, pelo antigo exilado político e presidente da RTP, Manuel Pedroso Marques, que não se cansou de tecer os maiores encómios ao autor, por tudo quanto captou ao serviço da defesa dos ideais da liberdade e da democracia.

O livro ganhou corpo graças ao apoio da Associação 25 de Abril, a que se juntou o tecido empresarial local e da diáspora, em que não poderia faltar o fio de um dos mais beneméritos empresários portugueses, o comendador Manuel DaCosta.

Aguardamos, por isso, que, entre as muitas futuras apresentações, uma delas seja em Toronto.

Aida Batista/MS

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