Comunidade

Candidatos marcados pela guerra

Um traço comum une os candidatos das principais forças políticas à presidência: todos tiveram funções de responsabilidade na guerra civil de 1975 a 2002. João Lourenço e Isaías Samakuva, respetivamente no MPLA e na UNITA. Abel Chivukuvuku, que chegou a ser visto como possível delfim do líder histórico da UNITA, Jonas Savimbi, uma década após a morte deste em 2002, saiu do movimento para fundar um novo partido.

João Lourenço: Um general discreto e um “homem de convicções”

O que será a sua presidência permanece uma incógnita mas, atendendo ao que é conhecido da personalidade de João Lourenço, espera-se uma forma de governação distinta do ainda ministro da Defesa Nacional, membro do MPLA desde 1974. O que há que esperar dele pode extrair-se da entrevista que deu a 23 de maio ao The Washington Post, quando esteve na capital dos EUA para encontros no Pentágono: “Faremos todos os esforços para termos uma administração transparente.” Para o ex-deputado do MPLA João Melo, citado pela Reuters, “Lourenço é um homem de convicções (…). Representa a mudança e esta é absolutamente vital para garantir a sobrevivência do MPLA”. Uma frase que sintetiza a dimensão dos desafios que tem pela frente aquele que, seguramente, será o futuro presidente de Angola. O perfil que João Lourenço tem na página do Ministério da Defesa, escrito na primeira pessoa, além de uma homenagem aos pais, revela pessoa discreta, comedida, fluente em russo e espanhol, desportista e com interesses como o xadrez e a literatura. Filho único, nasceu a 5 de março de 1954 no Lobito; estudou no Instituto Industrial de Luanda e na ex-União Soviética, onde obteve formação militar e um mestrado em História. Foi secretário-geral do MPLA, deputado, presidente da bancada parlamentar e vice-presidente da Assembleia Nacional, antes de ser nomeado ministro em 2014. Como salientado por diferentes observadores, Lourenço é um dirigente do MPLA que nunca viu o nome associado a escândalos e tem reputação de competente; além de longo historial ao serviço do partido e das forças armadas, onde é considerado “figura prestigiada”, referiu recentemente à Voz da América o sociólogo João Paulo Ganga. João Lourenço é casado e pai de seis filhos.

Isaías Samakuva: De pastor evangélico a líder da UNITA

“A situação em Angola é uma situação de crise, admitida pelo próprio governo, que é visível e sentida pelo cidadão comum. E a UNITA pensa, e tem-no dito, que a crise foi originada pelas más políticas do governo, de um lado e de outro, pela corrupção, má gestão, nepotismo e mesmo pela incompetência e insensibilidade do governo pelo sofrimento do povo”. O diagnóstico feito pelo líder da UNITA, Isaías Samakuva, em entrevista ao DN, em abril de 2016, permanece atual, a avaliar pelas declarações ao longo da campanha. Declarações em que ao mesmo tempo que denuncia a “má gestão” do MPLA, pede a vitória para o seu partido. Para sublinhar a diferença entre a sua posição como presidente de Angola, perante a do candidato do MPLA, Samakuva anunciou que abandonará a UNITA se ganhar dia 23. Tarefa quase impossível para o ex-pastor evangélico que sucedeu a Savimbi. Samakuva aderiu à UNITA em 1974. Cinco anos depois integrava a direção do movimento e, em 1986, Savimbi nomeava-o seu chefe de gabinete. Um rápido percurso em posições de chefia na UNITA em que ganham destaque cargos ligados à diplomacia. Está numa dessas missões quando lhe chega a notícia da morte de Savimbi a 22 de fevereiro de 2002. Volta a Angola para assumir, no ano seguinte, a liderança da UNITA. Desde então, foi reeleito em 2007 e 2011. Isaías Henrique N’gola Samakuva nasceu a 8 de julho de 1946 na então Silva Porto, no Bié. Estudou em missões evangélicas, tornando-se pastor até 1974, quando aderiu ao movimento fundado por Savimbi. Considerado um líder sem particular carisma, o seu maior desafio – e sucesso – foi ter transformado a UNITA de movimento armado em organização estritamente política. Teve a primeira prova à sua liderança nas legislativas de 2008, quando viu o número de deputados cair de 70 para 16. Foi um duro golpe para Samakuva, que se viu obrigado a colocar o cargo à disposição. A pretensão foi rejeitada pela cúpula do maior partido da oposição, que atribuiu o desaire eleitoral à fraude orquestrada pelo regime do MPLA. Nas eleições de 2012, num novo quadro constitucional, foi adversário direto de Eduardo dos Santos. Ganhou fôlego ao duplicar o número de deputados, sem pôr em causa a hegemonia do MPLA. Esteve na posse de Trump, mostrando que continuam vivas as relações entre UNITA e partido republicano, seu forte aliado. Por vezes, é tratado como “Tio Samas”. É casado e tem cinco filhos.

Abel Chivukuvuku: Da UNITA para uma nova oposição ao MPLA

A campanha do líder da CASA-CE pode ser definida como uma “campanha de afetos”. A chegada de Chivukuvuku a um comício, há dias na cidade de Kuíto, traduz isso. A reportagem da Lusa descreve uma chegada “apoteótica” do “candidato do beijinho” que “faz questão de dar à multidão” em todos os atos públicos. “Sou próximo do cidadão, são meus irmãos e minhas irmãs. Sabe que o voto se conquista, primeiro por convicção, e nós temos o segmento da juventude, que é a que mais apoia a CASA, mas também há o voto emocional e o beijinho também conta”, disse Chivukuvu à Lusa. Aos 60 anos, surge como um político e figura capaz de criar um terceiro polo político em Angola, alternativo ao MPLA e à UNITA, partido a que pertenceu entre 1974 e 2011. Chivukuvuku encontrava-se entre os deputados e dirigentes da UNITA em Luanda, quando se deram os confrontos de 1992 na capital angolana, tendo sido ferido e ficado refém das forças governamentais. Quando os deputados eleitos em 1992 aceitam ocupar os lugares na Assembleia Nacional, torna-se chefe da bancada parlamentar e representante especial de Savimbi junto de Eduardo dos Santos. Ficou na Assembleia até se afastar do partido em 2011. No ano seguinte, é um dos impulsionadores da CASA-CE, de que é presidente. O partido consegue oito deputados nas eleições de 2012. Nasceu a 11 de novembro de 1957 no Huambo. Licenciado em Relações Internacionais. É casado e tem três filhos.

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