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Edição 1553 – 10 DE SETEMBRO DE 2021

“Red, red wine, go to my head, make me forget that I still need her so” – Neil Diamond.
Não existem registos escritos, mas o vinho tinto tem vindo a ser produzido há milhares de anos. O indício de vinho mais antigo vem da China Antiga (7000 a.C.), Pérsia (5000 a.C.) e Itália (4000 a.C.) (Wikipédia).
Desde a prensagem das uvas com os pés até à prensa mecânica, o vinho percorreu um longo caminho desde os tempos antigos até à indústria moderna que conhecemos hoje. As uvas ainda crescem nas videiras – de diferentes variedades para acomodar variados paladares, desde os consumidores mais exigentes aos aficionados da culinária. Os verdadeiros conhecedores de vinho muitas vezes vão a extremos para experienciar a singularidade dos vinhos, que têm várias partes do mundo como origem, muitas vezes gastando centenas de milhares de dólares numa única garrafa de vinho. Em 2018, uma garrafa de Burgundy francês foi vendida por $558,000.00.
Ao longo da Bíblia, o vinho tem também vindo a ser utilizado como um símbolo de julgamento e bênção. Inclusive, Jesus transformou a água em vinho e insiste que os padres, na religião católica, bebam vinho durante a missa. A visão dos cristãos sobre o álcool varia. A Bíblia e a tradição cristã ensinam que o álcool é um presente de Deus que torna a vida mais alegre, mas o consumo excessivo que conduz à embriaguez é um pecado. Já para não falar das dores de cabeça do dia seguinte. Tudo isto para dizer que o vinho tem um lugar especial na sociedade. Uma boa garrafa de vinho pode transportá-lo/a de volta a um dos seus locais favoritos, a uma ocasião especial ou a momento romântico num local onde os efeitos do amor mudaram a sua vida para sempre. Não existe outra bebida que tenha o potencial de cativar e criar uma discussão como o vinho tem. Com o aproximar do outono e o regresso das crianças à escola, o alento de uma sociedade normalizada envolve as nossas vidas com a esperança de que melhores tempos se avizinham. Será que as nossas vidas continuarão a ser obstruídas pela contínua ameaça de uma pandemia, que nos levará a continuar a beber de forma excessiva? Talvez, mas está na altura de regular os nossos corpos e mentes com saúde, comida, exercício e claro, vinho.
Esta pandemia tem-nos feito cair psicologicamente muitas vezes, mas é importante que nos continuemos a levantar.
São muitos os que estão a preparar os seus barris para fazer o seu vinho caseiro, sendo um ritual que muitos europeus trouxeram para o Canadá há já vários anos. Pessoalmente, era uma rotina esperada pelo meu pai todos os setembros, a tradicional visita à quinta para a apanha da uva já fazia parte do calendário, seguindo-se o esmagamento das uvas e a prensagem das cascas até que não houvesse mais vida nelas. Este procedimento carregava uma conotação cerimonial e religiosa onde o processo de fabricação do vinho era amorosamente concluído pelo meu pai. Eu odiava cada minuto porque eu via o processo de forma diferente do meu pai, que não via a hora de levar aquele primeiro copo de vinho aos lábios. O consumo de vinho no Canadá segue preferências baseadas na idade e na etnia. A nossa indústria de vinho canadiano ainda carrega o desígnio de produzir vinhos inferiores e mais dispendiosos, sendo uma ideia que não corresponde à verdade. Muitos de descendência portuguesa ainda preferem os vinhos de Portugal, o que poderá ser justificado, mas a nível de valor as pessoas pagam excessivamente porque os vendedores compram barato e vendem caro, principalmente os vinhos de valor mais baixo. As barreiras no transporte interprovincial de vinhos pelas províncias canadianas criam obstáculos quando as pessoas querem transportar vinho de uma província para a outra. Apenas BC, Manitoba e Nova Scotia permitem que o vinho seja enviado de outro lugar para consumo pessoal. Caso contrário, todas as bebidas alcoólicas devem ser enviadas para o Conselho de Controlo de Bebidas da Província. Este é um sistema negativo que afeta financeiramente a indústria.
Deguste o seu vinho de forma responsável e escolha um bom vinho para beber. É um dos poucos prazeres que ainda temos, que conforta uma mente cansada e é uma celebração dos vários esforços necessários para colocar aquele vinho no nosso copo.
“Red, red wine, stay close to me, don’t let me be alone, it’s tearing me apart, my blue, blue heart” (ND).
(tinto, vinho tinto, fica perto de mim, não me deixes sozinho, está-me a despedaçar, o meu azul, coração azul)
Brindemos. Fique bem.